Taiguara foi vítima da censura imposta pela ditadura militar nos anos de 1960 e 1970
O lançamento de um disco
inédito e de uma biografia traz à tona vida e obra de um dos artistas
mais originais que o Brasil teve e perdeu, aos 51 anos, em fevereiro de
1996. Nascido Taiguara Chalar da Silva, em Montevidéu, no Uruguai, ele
se consagrou apenas como Taiguara. A carreira de cantor e compositor é
considerada quase um símbolo da resistência à ditadura militar, tamanho o
número de composições – 68 – censuradas nas décadas de 1960 e 1970.
Autor dos clássicos 'Hoje', 'Universo do teu corpo', 'Viagem' e 'Que as crianças cantem livres', entre outros, o autor teve sua trajetória pesquisada pela jornalista Janes Rocha, que está lançando 'Os outubros de Taiguara – Um artista contra a ditadura: música, censura e exílio'. Paralelamente, parte do acervo pessoal de fitas cassete do artista foi restaurada e resultou no disco 'Ele vive'. Os dois produtos são da Kuarup Música.
Ricardo Carvalheira, um dos responsáveis pela digitalização do áudio a partir dos registros originais de Taiguara, diz que, em termos de acervo, nunca viu nada igual no país. “As fitas estavam em perfeito estado”, elogia, destacando os cuidados da família com a memória do artista.
Pedro Baldanza, que assina a produção e a direção musical do CD, informa que há mais material guardado. A partir da voz gravada do cantor, ele recriou a base das 11 canções inéditas do repertório: 'Ele vive', 'Guerra pra defender', 'Te quero', 'Moça da noite', 'Alba Esperanza', 'Conflito (sexo escravo)', 'Manhã na Candelária', 'Sou negro', 'Tomou rebeldia', 'O catador de milho' e 'Sou Samora Potiguara'. O disco traz quatro bônus: 'Outubro', 'Modinha', 'Helena, Helena, Helena' e 'Hoje'. Segundo Baldanza, trata-se de “um retrato legal do universo de Taiguara”.
O cantor e compositor fez da ponte entre o romantismo e a política a marca principal de sua obra. “Se em uma canção ele aparece mais romântico, em outra já está mais agressivo, adotando ritmos latinos, por exemplo”, avalia Pedro Baldanza, salientando que a raiz de Taiguara é o tango, representado no CD por 'Conflito (sexo escravo)'. “É o toque gauchesco dele”, repara o produtor, lembrando a origem familiar do cantor uruguaio. Para evitar o “empastelamento” das canções, Baldanza evitou usar muitos arranjos. A ideia é que a música se sobressaia. “Queríamos a reportagem da voz”, explica, citando como exemplo a faixa 'Alba Esperanza'.
Nenhuma das 11 inéditas do CD foi datada pelo compositor, mas, pelo que Pedro Baldanza pesquisou, elas foram gravadas entre 1978 e 1990 pelo próprio Taiguara. “Tudo é uma surpresa muito agradável. Afinal, trata-se de um artista que compunha incessantemente, cuja projeção só não foi maior no mercado e na própria mídia por causa de sua postura política. Taiguara era muito podado, muito censurado”, lamenta. Um disco do cantor foi recolhido das lojas em 1977, pouco antes de ele partir para o segundo exílio, quando trocou o país pela Europa e África, retornando dois anos depois. Entre 1974 e 1976, ele morou em Londres, na Inglaterra.
Ricardo Cristaldi (arranjo, teclado e programação), Pedro Baldanza (baixo), Paulo Ribeiro (violão), José Augusto Cunha (percussão), Felipe Dourado (cavaquinho) e Michele Kerepschi e Pedro Baldanza (vocais) formam a base de acompanhamento de Taiguara (voz e piano).
Depois de experiências com Elis Regina e Luiz Gonzaga, cujas vozes restaurou a partir de fitas em polegadas, Ricardo Carvalheira conta que esse foi o primeiro trabalho de reaproveitamento de voz a partir de fita cassete realizado no Brasil. Anteriormente, o músico produziu um box duplo de Taiguara para o selo Discobertas, de Marcelo Froes.
TAIGUARA – ELE VIVE
• 15 faixas
• Kuarup, R$ 24,90
OS OUTUBROS DE TAIGUARA
• De Janes Rocha
• Kuarup, 158 páginas, R$ 46
Além dos festivais
Escrito em dois anos, o livro 'Os outubros de Taiguara' é produto de 34 entrevistas realizadas pela jornalista Janes Rocha, além da intensa pesquisa realizada por ela no Arquivo Nacional, com sede no Rio de Janeiro.
“Diria que a gente consegue avançar além do Taiguara romântico que as pessoas conhecem dos festivais de música”, afirma Janes. “Fomos atrás da experiência dele com a censura, que foi dramática em sua vida e inviabilizou a carreira artística”, acrescenta.
Autor dos clássicos 'Hoje', 'Universo do teu corpo', 'Viagem' e 'Que as crianças cantem livres', entre outros, o autor teve sua trajetória pesquisada pela jornalista Janes Rocha, que está lançando 'Os outubros de Taiguara – Um artista contra a ditadura: música, censura e exílio'. Paralelamente, parte do acervo pessoal de fitas cassete do artista foi restaurada e resultou no disco 'Ele vive'. Os dois produtos são da Kuarup Música.
Ricardo Carvalheira, um dos responsáveis pela digitalização do áudio a partir dos registros originais de Taiguara, diz que, em termos de acervo, nunca viu nada igual no país. “As fitas estavam em perfeito estado”, elogia, destacando os cuidados da família com a memória do artista.
Pedro Baldanza, que assina a produção e a direção musical do CD, informa que há mais material guardado. A partir da voz gravada do cantor, ele recriou a base das 11 canções inéditas do repertório: 'Ele vive', 'Guerra pra defender', 'Te quero', 'Moça da noite', 'Alba Esperanza', 'Conflito (sexo escravo)', 'Manhã na Candelária', 'Sou negro', 'Tomou rebeldia', 'O catador de milho' e 'Sou Samora Potiguara'. O disco traz quatro bônus: 'Outubro', 'Modinha', 'Helena, Helena, Helena' e 'Hoje'. Segundo Baldanza, trata-se de “um retrato legal do universo de Taiguara”.
O cantor e compositor fez da ponte entre o romantismo e a política a marca principal de sua obra. “Se em uma canção ele aparece mais romântico, em outra já está mais agressivo, adotando ritmos latinos, por exemplo”, avalia Pedro Baldanza, salientando que a raiz de Taiguara é o tango, representado no CD por 'Conflito (sexo escravo)'. “É o toque gauchesco dele”, repara o produtor, lembrando a origem familiar do cantor uruguaio. Para evitar o “empastelamento” das canções, Baldanza evitou usar muitos arranjos. A ideia é que a música se sobressaia. “Queríamos a reportagem da voz”, explica, citando como exemplo a faixa 'Alba Esperanza'.
Nenhuma das 11 inéditas do CD foi datada pelo compositor, mas, pelo que Pedro Baldanza pesquisou, elas foram gravadas entre 1978 e 1990 pelo próprio Taiguara. “Tudo é uma surpresa muito agradável. Afinal, trata-se de um artista que compunha incessantemente, cuja projeção só não foi maior no mercado e na própria mídia por causa de sua postura política. Taiguara era muito podado, muito censurado”, lamenta. Um disco do cantor foi recolhido das lojas em 1977, pouco antes de ele partir para o segundo exílio, quando trocou o país pela Europa e África, retornando dois anos depois. Entre 1974 e 1976, ele morou em Londres, na Inglaterra.
Ricardo Cristaldi (arranjo, teclado e programação), Pedro Baldanza (baixo), Paulo Ribeiro (violão), José Augusto Cunha (percussão), Felipe Dourado (cavaquinho) e Michele Kerepschi e Pedro Baldanza (vocais) formam a base de acompanhamento de Taiguara (voz e piano).
Depois de experiências com Elis Regina e Luiz Gonzaga, cujas vozes restaurou a partir de fitas em polegadas, Ricardo Carvalheira conta que esse foi o primeiro trabalho de reaproveitamento de voz a partir de fita cassete realizado no Brasil. Anteriormente, o músico produziu um box duplo de Taiguara para o selo Discobertas, de Marcelo Froes.
TAIGUARA – ELE VIVE
• 15 faixas
• Kuarup, R$ 24,90
OS OUTUBROS DE TAIGUARA
• De Janes Rocha
• Kuarup, 158 páginas, R$ 46
Além dos festivais
Escrito em dois anos, o livro 'Os outubros de Taiguara' é produto de 34 entrevistas realizadas pela jornalista Janes Rocha, além da intensa pesquisa realizada por ela no Arquivo Nacional, com sede no Rio de Janeiro.
“Diria que a gente consegue avançar além do Taiguara romântico que as pessoas conhecem dos festivais de música”, afirma Janes. “Fomos atrás da experiência dele com a censura, que foi dramática em sua vida e inviabilizou a carreira artística”, acrescenta.
Fonte: http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/musica/2014/11/09/noticia_musica,161260/biografia-e-cd-resgatam-a-obra-do-cantor-e-compositor-taiguara.shtml