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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

GULLAR XXI

GULLAR XXI
Dedicado à Thiago de Mello

Ainda hoje me lembro
com boa memória,
como se o tempo tivesse parado
e me congelado no instante em
                                      que te vi;
_Coisa fantástica é essa!
Sorri, gargalhei, entrei em pranto.
Contigo aprendi que dois e dois
nem sempre são quatro,
pelejei junto à ti contra o Tio Sam
em plena maçã, contemplei belezas
mais lindas do que uma deslumbrante
bolinha prateada de um maço qualquer,
atirado ao sol por homem ou fêmea fumante,
mais lindas até do que uma plataforma
da Petrobrás em alto mar iluminada.
Vi também uma revolução que nascia
nos seus versos barbados e honestos.
Pude comprovar a importância crucial
de um vassoureiro e um barbeiro
para o desenvolvimento da história nacional.

Vi tanta coisa.
Agora não vejo nada.

O Gullar XXI estrangulou com mãos frias o Gullar XX.
Trancou os restos em um cofre bem fundo,
que é para que o morto não gritasse,
como gritou a alma radiante de Herzog ao ser suicidado.

Você se matou, Gullar,
e pôs outro em seu lugar.

Seu discurso se perdeu.
E o que é um poeta sem discurso, Gullar?
Um poeta sem bandeira?
Sem sonhos?
Paixão?

O que é você, Gullar XXI?
(Me indago, porém de antemão
trago em mim a resposta)

Você acreditou demais nos homens,
E você duvidou demais dos homens
(certas coisas são válidas apenas em poesia)
E se esqueceu de acreditar em si
no seu compromisso consigo
na relação com o outro que nasce da vida,
seja ela como for, e você se isolou, Gullar XXI.

Em sua torre de vidro,
fez ninho fortificado.

No entanto, a história não para, Gullar.
A história é dinâmica e dialética,
por mais que lhe doa saber,
morrerá, e todo seu conhecimento,
sua alta intelectualidade, morrerá,
e seu cadáver pálido não brilhará, Gullar
(Porque morrestes há tempos)

Quando mais precisávamos de você; morreu.
Gostaria de ser mais claro - balanço:
Você parte sem dizer adeus, e em volta do seu
caixão, a mais fina nata da aristocracia nacional.

Morre, Gullar, morre.
Não é a saudade que fica, é a obra-primeira,
e essa permanece ancestral, latente, viva.

Se dela nascer uma flor que seja,
Mostrará que finalmente o Gullar XX
descobriu a senha para se libertar do cofre.

Daniel Oliveira
Sabará/MG
10/11/2010

4 comentários:

  1. vou lhe dizer camarada
    o quanto gostei de seu poema
    putz... que coisa franca e verdadeira.
    não é bonito, pois vc matou um mito, mas é
    certeiro como as flechas apaches nos yankes

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  2. Valeu camarada
    caso queira divulgar alguma obra, entre em contato
    daniludens@yahoo.com.br

    forte abraço

    daniel

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  3. kkk, adorei Daniel, foi direto ao ponto mesmo! Eu tb fiz um artigo recente sobre o mesmo assunto e declarando que Gullar morreu.

    Abs

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  4. Envie o artigo que a gente publica, Lúcio.
    Forte abraço,

    Daniel

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