O poeta de esquerda "arrependido": um prato cheio para o monopólio midiático reacionário de "tempos democráticos" |
O
último poema de O Vil Metal chama-se Réquiem para Gullar[1]. No ano passado, após mais de meio século, Ferreira Gullar fez
publicar seu segundo réquiem. Enquanto no primeiro exercia o seu ofício, neste
último a poesia sai de cena. Aquele que já se definiu “poeta político” (Omissão, B) agora renega a si mesmo, abandona a
esperança e a luta, capitula e trai.
Para
que não pensem que exageramos, transcrevemos abaixo os principais trechos dessa
fúnebre (não) poesia de Gullar. Pretendemos, em seguida, analisar cada um
desses pontos à luz, principalmente, da própria poesia de Gullar e, assim,
completar seu obituário. Nesses dias de trocas de papas, podemos voltar ao
velho latim e dizer: Requiescat in pace!
* * *
Entrevista
de Ferreira Gullar nas páginas amarelas da Veja, em 26.09.2012, piores trechos:
“O capitalismo é forte porque é instintivo. ... O capitalismo não é uma
teoria. Ele nasceu da necessidade real da sociedade e dos instintos do ser humano. Por
isso ele é invencível.
A força que torna o capitalismo
invencível vem dessa origem natural
indiscutível. Agora mesmo, enquanto falamos, há milhões de pessoas
inventando maneiras novas de ganhar dinheiro.”
“O capitalismo é uma fatalidade, não
tem saída. Ele produz desigualdade e exploração. A natureza é injusta. A
justiça é uma invenção humana. Um nasce inteligente e o outro burro. Um nasce
inteligente, o outro aleijado. Quem quer corrigir essa injustiça somos nós. A
capacidade criativa do capitalismo é fundamental para a sociedade se
desenvolver, para a solução da desigualdade, porque é só a produção da riqueza
que resolve isso. A função do estado
é impedir que o capitalismo leve a exploração ao nível que ele quer levar.”
“O que está errado é achar, como
Marx diz, que quem produza riqueza é o trabalhador e o capitalista só o explora. É bobagem. Sem a empresa, não existe
riqueza. Um depende do outro. O empresário é um intelectual que, em vez
de escrever poesias, monta empresas. É um criador, um indivíduo que faz
coisas novas.”
“A visão de que só um lado produz riqueza e o outro só explora é
radical, sectária, primária.” (negritos nossos)[2]
* * *
Como
pode um antigo militante comunista dizer essas bobagens ridículas, expressões
de rendição de classe? Avancemos uma primeira hipótese, que condiz com nossa tese
dessa entrevista como um réquiem, a partir da própria poesia do ex-poeta:
“Foi-se formando/a meu lado/um outro/que é mais Gullar do que eu/que se
apossou do que vi/do que fiz/do que era meu/e pelo país/flutua/livre da morte/e
do morto” (O Duplo, PI).
Se
descartarmos essa hipótese poética de um duplo, de um impostor que tenha tomado
o lugar do velho Gullar (e pilhérias a parte), a explicação mais plausível para
sua impostura deve estar baseada no próprio fenômeno que funda uma sociedade
dividida em classes antagônicas, que a perpassa de cima a baixo, e define os
rumos da prática, da teoria e da ideologia de cada classe nessa sociedade: a
luta de classes.
O
recuo e a traição de Gullar podem ser explicados (nunca justificados!) como
efeitos do próprio recuo da classe operária na luta de classes contra a
burguesia nas últimas décadas. Efeitos das ausências de uma firme posição
revolucionária entre as massas e do seu partido comunista na sociedade
brasileira atual. Efeitos do recuo relativo da teoria marxista no país. Só que
esses efeitos, para o segundo réquiem de Gullar,já se mostram um tanto quanto defasados,
pois tanto a conjuntura mundial quanto a conjuntura nacional da luta de classes
já apontam para uma retomada da luta de massas, o que tende a levar em seu bojo
a retomadas tanto da teoria marxista quanto de sua organização revolucionária.
A
própria e necessária ligação entre luta de classes e posição política não era
desconhecida do antigo poeta:
“Meu povo e meu poema crescem juntos” (Meu Povo, Meu Poema, DNV).
* * *
Vamos
analisar agora, brevemente, as principais teses do segundo réquiem.
Primeira tese de Ferreira
Gullar: o capitalismo como tendo “origem
natural”. O capitalismo como fruto “dos
instintos do ser humano”. Passagem de “natural”
para final, “invencível”. Fim da
história.
Ao
abandonar a posição proletária e revolucionária, Gullar abandona o materialismo
histórico e, com isso, regride às formulações ideológicas das classes
dominantes, utilizadas para justificar a dominação de classe da burguesia. Para
esta, nada melhor do que apresentar o capitalismo – e assim justificar sua
exploração sobre a grande maioria da população – como algo natural e
espontâneo, porém de acordo com a natureza, com uma pseudo-essência, do ser
humano. Dessa forma, o capitalismo vira o fim da história ou, nas palavras de
Gullar, um sistema “invencível”.
Nada
mais distante, porém, da realidade do que essa caricatura ideológica.
O
capitalismo, ao contrário de ser de “origem
natural”, é um modo de produção historicamente determinado com o objetivo
de produzir e reproduzir não apenas as condições materiais de existência, mas
também as relações de dominação e exploração de classe que lhe são
características.
Isso
quer dizer que a constituição do modo de produção capitalista, tal qual do
feudalismo e do escravismo, dependeu de uma série de fatores concretos,
contingentes porém cumulativos (políticos, sociais, tecnológicos, etc.),
ocorridos em determinado e longo período histórico. Essa transição do
feudalismo ao capitalismo nada teve de necessária, imanente, caracterização
típica de quem, à “esquerda” ou à direita, professa diversas “filosofias da
história”, com sua sucessão pré-determinada e teleológica de momentos que
culminariam com a realização da “essência” do homem.
Da
mesma forma, o capitalismo não é a realização dos “instintos do ser humano” – supondo que tais instintos existam além
da herança evolucionária que compartilhamos com os demais seres vivos
(resumidos de forma geral nas buscas pela sobrevivência e pela reprodução) – sejam
eles quais forem. O importante é explicitar que nesta frase de Gullar se resume
a impostura ideológica do liberalismo burguês: criar um indivíduo
representativo de todos, ignorando as divisões da sociedade em classes, e
associar este indivíduo ao burguês. Porém atenção: não se trata aqui do burguês
real, egoísta, explorador e sedento de lucro, mas de um burguês ideologicamente
idealizado, um poço de virtudes.
Virtudes
essas ressaltadas e condensadas nas belas e genéricas declarações de
princípios, necessariamente ideológicas, da burguesia, tais como as dos pais do
liberalismo inglês, ou dos direitos do homem e do cidadão da grande Revolução
Francesa, ou ainda o Bill of rights
da Revolução Americana, até os mais recentes estatutos da ONU ou a
“constituição cidadã” brasileira. Trata-se, no entanto, de submetê-las ao
confronto da realidade concreta. A realidade concreta da opressão do
imperialismo inglês sobre os povos coloniais do mundo todo até meados do século
passado e dos bairros proletários denunciados por Charles Dickens e Jack London.
A realidade concreta da opressão sobre os miseráveis e os mineiros franceses,
denunciadas por Victor Hugo e Émile Zola no século XIX, das condições de vida nos
banlieues da Paris atual às tropas
colonizadoras que oprimem os povos do mundo aos acordes da Marselhesa. A
realidade concreta do secular escravismo americano substituído por um apartheid
em que se enforcavam negros aos aplausos da multidão branca nas southern trees denunciadas por Billie
Holiday, da miséria espalhada pelas depressões do século XX, retratada por John
Steinbeck, e do século XXI, ainda à espera de autor, às políticas do big stick que se mantêm de Theodore
Roosevelt a Obama. A realidade concreta dos sempre negados direitos à
autodeterminação dos povos diante das “intervenções humanitárias” das grandes
potências imperialistas. E a realidade concreta do nosso conhecido país da
jabuticaba, das Vidas Secas de Graciliano à Cidade de Deus de Paulo Lins e aos
Domingos Sem Deus de Luiz Ruffato, e uma das maiores desigualdades sociais do
mundo, para usar esse eufemismo estatístico.
Portanto,
o capitalismo não só não é algo “natural”
sendo, pelo contrário, historicamente determinado, como não realiza “instinto” humano algum, inclusive porque
não só não há esse “instinto” humano,
como não há, tampouco, esse indivíduo humano representativo de todas as classes
no capitalismo.
Mas
que o capitalismo não é uma sociedade homogênea, mas dividida em classes, isso
o velho poeta já sabia:
“a noite ocidental obscenamente acesa/sobre meu país dividido em classes”
(Madrugada, DNV).
Tiradas,
assim, suas premissas, já cairia por terra a ridícula hipótese de um
capitalismo “invencível”. Mas achamos
que cabe acrescentar, ainda, dois pontos adicionais. O primeiro é que não é
possível a quem quer que seja, nem a este outro Gullar, ignorar a dimensão da
atual crise do capitalismo, da crise da economia mundial, do imperialismo.
Crises que vem se sucedendo umas as outras de maneira crescente e generalizada.
Crise que, ao ampliar desmesuradamente o nível de exploração sobre as classes
trabalhadoras, está fazendo crescer a reação dessas mesmas classes dominadas
contra o sistema de dominação.
O
segundo ponto é que uma premissa implícita da tese da invencibilidade do
capitalismo em Gullar é que ela restaria provada pela queda das tentativas
socialistas do século XX. Mais uma vez, o ex-poeta vê tudo ao avesso. As
gloriosas e bem sucedidas experiências de derrubada revolucionária do
capitalismo, bem como as primeiras tentativas de construção do socialismo na
União Soviética, na China, no Vietnã, em Cuba e tantos outros lugares, são
lições imprescindíveis, nos seus acertos e nos seus erros, à geração atual de
comunistas. Sabemos, agora, quais erros evitar e quais lições desenvolver.
Segunda tese de Ferreira
Gullar: o capitalismo como solução para a desigualdade que ele próprio cria,
amplia e reproduz. A “capacidade criativa
do capitalismo é fundamental para a sociedade se desenvolver, para a solução da
desigualdade”. A “produção da riqueza”
no capitalismo.
Mais
uma vez, defrontamo-nos com a mais simples e caricata ideologia burguesa. O
capitalismo é apresentado como o regime de produção de riqueza ao qual bastaria
uma melhor regulação, um maior controle estatal, uma legislação mais apropriada
ou quem sabe, uma maior consciência dos capitalistas, para que haja uma
distribuição menos desigual dessa riqueza. Como criticou Lênin, um capitalismo
asseadinho.
E
note bem: uma distribuição menos desigual de riqueza seria tudo ao que o proletariado
e as demais classes dominadas poderiam almejar. Como diz este Gullar, essas
classes são aquelas que nascem “burras”,
nascem “aleijadas”. E a riqueza seria
criada pelas empresas, da qual dependeriam os operários. Essa matriz ideológica
burguesa é compartilhada por todos os matizes de reformismo e revisionismo,
tanto em suas infrutíferas tentativas de criar um capitalismo organizado,
asseadinho, quanto nas suas ações para paralisar a classe operária e moderar
suas reivindicações.
Mas
comecemos a desmontar essa ideologia pelo seu começo. Em que base ocorre a
produção de riqueza no capitalismo? O materialismo histórico nos apresenta de
forma cabal que é o trabalho humano que transforma os valores de uso
disponíveis na natureza, tornando-os apropriados às satisfações das
necessidades humanas.
No
capitalismo, no entanto, este trabalho humano adquire uma característica
bastante específica. É o trabalho daquelas classes que não detêm nem os meios
de produção nem as condições de garantir sua própria subsistência. Sua única
maneira de subsistir é vender sua força de trabalho à classe possuidora dos
meios de produção, detentora do capital. E aqui a maravilhosa descoberta
científica de Marx, desnudando a raiz da exploração capitalista: ao produzir
uma quantidade de riqueza que supera o valor de sua força de trabalho vendida
ao capitalista, essa riqueza excedente, a mais-valia, é apropriada
integralmente pelo capitalista, sem equivalente. A riqueza capitalista
resume-se, toda ela, à apropriação do trabalho não pago das classes trabalhadoras.
E
isso pode ser traduzido em termos poéticos. Mais uma vez, nos socorramos do antigo
poeta Ferreira Gullar. E não de qualquer poema, mas de seu poema mais famoso, o
Poema Sujo, escrito em meados dos
anos 1970 na Argentina, onde o então poeta estava exilado.
O
que ficam fazendo os proletários, Gullar?
“trabalhando para o dono – como disse/Marx”
(PS).
E
o que é a vida proletária, poeta?
“miséria dos homens/escravos de outros”
(PS).
Uma
década antes, isso já lhe estava suficientemente claro:
“Trabalhava noite e dia/nas terras do fazendeiro./Mal dormia, mal
comia,/mal recebia dinheiro;/se recebia não dava/pra acender o candeeiro./João
não sabia como/fugir desse cativeiro” (João Boa-Morte Cabra Marcado Pra
Morrer, RC).
Ao
invés das loas atuais ao capitalismo e sua pseudo-capacidade de distribuir
riqueza, ao invés de se deixar festejar pela burguesia brasileira, nosso antigo
poeta sabia e enfrentava a dura realidade do país com sua poesia:
“Façam a festa/cantem e dancem/que eu faço o poema duro/o
poema-murro/sujo/como a miséria brasileira”
“poema/que não toca no rádio/que o povo não cantará/(mas que nasce dele)”
“Obsceno/como o salário de um trabalhador aposentado/o poema/terá o
destino dos que habitam o lado escuro do país/ – e espreitam.” (Poema
Obsceno, VD)
Terceira tese de Ferreira
Gullar: no capitalismo quem produz as riquezas são os capitalistas e os operários
conjuntamente, “um depende do outro”.
“O empresário é um intelectual que, em
vez de escrever poesias, monta empresas”.
“O branco açúcar que adoçará meu café/nesta manhã de Ipanema/não foi
produzido por mim/ ... /e tampouco o fez o dono da usina/ ... /Em lugares
distantes, onde não há hospital/nem escola,/homens que não sabem ler e
morrem/aos vinte e sete anos/plantaram e colheram a cana/que viraria açúcar”
(O Açúcar, DNV).
Não
é necessário nada além do soco no estômago que é essa poesia para demolir a
patética tese da “co-dependência” entre o trabalhador e o “empresário-intelectual-poeta” (sic!).
Mas
vejamos esse ponto com um pouco mais de detalhe. Este atual duplo de Gullar,
este impostor, afirma que, ao invés do que escrevia antes, a produção de
riqueza se dá por “milhões de pessoas
inventando maneiras novas de ganhar dinheiro”, pois o burguês “é um intelectual que, em vez de escrever
poesias, monta empresas”. Que a burguesia passa todo o seu tempo se
beneficiando das maneiras velhas de ganhar dinheiro ou inventando maneiras
novas para isso é sua própria definição enquanto classe. O que Gullar não diz
(pois a Veja poderia não gostar), mas que é seu sinônimo, é que para isso, a
burguesia passa todo o seu tempo se beneficiando das maneiras velhas de
explorar os trabalhadores ou inventando maneiras novas de realizar essa
exploração. Quem diz capitalismo, diz exploração de classe.
O
que o capitalista tem é apenas o dinheiro, o capital. É esse capital que ele
põe em funcionamento contratando trabalhadores para gerarem a mais-valia que é
por ele apropriada. Ao capitalista, o que interessa é a produção de um valor
maior do que o que dispunha inicialmente, tanto faz produzindo açúcar ou
cocaína, chips de computador ou armas.
Isso
é tão óbvio que até o nosso Zé Molesta já o sabia:
“A verdade é muito simples/e eu vou logo lhe contar./Você não quer
liberdade,/você deseja é lucrar. Você faz qualquer negócio/desde que possa
ganhar:/vende canhões a Somoza,/aviões a Salazar,/arma a Alemanha e Formosa/pro
mercado assegurar” (Peleja de Zé Molesta com Tio Sam, RC).
Esquecido
de sua vida anterior, o que o novo Gullar parece ainda acreditar é nos velhos
mitos das “robinsonadas”, do pequeno capitalista individual movido a uma ideia
na cabeça e algum dinheiro no bolso. Algo como um Steve Jobs. O que ele “esqueceu”
é que para transformar essas idéias em produtos vendáveis, mercadorias, o
capitalista cai fora e o trabalho é feito pelos operários. Esqueceu que o
sucesso do Steve Jobs é baseado em milhares de operários chineses presos em
fábricas militarizadas, nas quais se faz apenas trabalhar (muito), comer e
dormir (pouco) a troco de salários irrisórios. Lá como aqui e em qualquer
lugar, no entanto, a exploração capitalista encontra seu limite na reação
operária. Lá como aqui e em qualquer lugar, a luta dos operários limita, na
medida de sua organização e disposição de luta, um avanço maior da exploração, aumenta
os salários (ainda irrisórios) e conquista melhores condições de trabalho.
No
tempo em que ele ainda sabia dessas coisas, ele as chamava pelo nome. Não mais um
“empresário-intelectual-poeta”, mas
os grandes monopólios imperialistas:
“Que o tempo é pouco/e ai estão o Chase Bank,/a IT & T, a Bond and Share,/a
Wilson, a Hanna, a Anderson Clayton,/e sabe-se lá quantos outros/braços do
polvo a nos sugar a vida/e a bolsa” (Homem Comum, DNV).
E
também a própria classe dominante brasileira não era poupada:
“Latifúndios com nome de gente, famílias/com nome de empresas” (Dois
Poemas Chilenos, DNV).
E
ainda vem esse ex-poeta criticar suas antigas posições como “radical, sectária, primária”! Primárias
são as teses que se derivam do senso comum, que expressam a ideologia
dominante. Como vimos, não é outra coisa que Gullar faz durante toda a
entrevista-réquiem. Sectário é não se abrir ao debate, à discussão, à crítica.
O marxismo sempre foi, desde Marx, o oposto a isso. Não é por outra razão que
nosso blog chama-se Cem Flores (http://cemflores.blogspot.com.br/).
Por fim, como dizia o jovem Marx, ser radical é tomar as coisas pela raiz, o
que no caso se traduz em desvendar e denunciar os mecanismos encobertos da
exploração capitalista e desnudar a ideologia burguesa que a justifica[3].
* * *
À
guisa de conclusão, dois comentários.
Ao
contrário do que propõem tanto a entrevista-réquiem de Gullar quanto a ofensiva
ideológica da classe dominante na atual crise do imperialismo, o capitalismo
não é o fim da civilização, o fim da história. Pelo contrário, na atualidade há
crescentes indícios de aumento das lutas de massa (passeatas, greves,
manifestações, ocupações, greves gerais, etc.) e de retomada do marxismo. Por
certo partindo de patamares recuados, mas iniciando a contra ofensiva das
classes dominadas.
E
como nosso velho “poeta político” já
sabia, quando essa luta avança...
“Um grave acontecimento está sendo esperado por todos/Os banqueiros os
capitães de indústria os fazendeiros/ricos dormem mal. ... Um grave
acontecimento/está sendo esperado/e nem Deus e nem a polícia/poderiam evitá-lo”
(A Espera, VD)
“A poesia/quando chega/não respeita nada./ ... /E promete incendiar o
país” (Subversiva, VD)
“Onde está/a poesia? Indaga-se/por toda parte ...
/poesia/paixão/revolução” (A Poesia, DNV).
E
como último e triste comentário, parece que enfim concretizou-se na vida do
poeta a sua própria poesia:
“é a morte que te chama/É tua própria história/reduzida ao inventário de
escombros/no avesso do dia/e não mais esperança/de uma vida melhor?/que se
passa, poeta?/adiaste o futuro? ” (Omissão, B).
“O morto está morto” (Glauber Morto, B).
[1] Neste texto, todas as citações da obra poética de
Ferreira Gullar foram feitas de acordo com a edição de sua Poesia Completa, Teatro e Prosa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. Dá-se o nome do poema citado e indica-se o
livro no qual foi publicado pelas suas iniciais: VM (O Vil Metal, 1954-60), RC
(Romances de Cordel, 1962-67), DNV (Dentro da Noite Veloz, 1962-75), PS (Poema
Sujo, 1975), VD (Na Vertigem do Dia, 1975-80), B (Barulhos, 1980-87) e PI
(Poemas Inéditos, 1948-2006).
[2]Veja, 26
de setembro de 2012. O texto integral está disponível no sítio do filósofo e
poeta Antonio Cícero, que o qualifica de brilhante (sic!): http://antoniocicero.blogspot.com.br/2012/10/ferreira-gullar-entevista-revista-veja.html.
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