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quarta-feira, 11 de abril de 2012

VÍTIMAS DO DESCASO - Poesia de William Alexandre

Eis que o céu desaba novamente
diante de nossos olhos,
Para lembrar-nos da dor
que nunca conseguimos esquecer.
Eis que numa simbólica data
Recai sobre nós como o peso do destino
A angústia de nossa perda.
E em nossos ombros suportamos
Toda nossa omissão consentida.
E aqueles que se foram não aparecem
como fantasmas a nos atormentar,
Mas como testemunhas de uma certeza:
Acidentes não acontecem se podíamos evitar

Essa chuva: são lágrimas,
As nossas e daqueles a quem condenamos
com nossa indiferença.
Como se o próprio Deus que inventamos
para livrai-nos do mal
Viesse agora nos punir pelos erros
Que sabíamos que estávamos cometendo.
“Não somos políticos, não somos de esquerda”
E enquanto outros decidiam o que queriam ser,
E como deveríamos viver,
A realidade desabava ante nós,
E as vidas escorriam pelas mãos da morte.
Uma tristeza tão concreta que discurso algum
Pode relativizar.

Duas vezes um mesmo povo fora castigado
A primeira vez pela pobreza,
a segunda por ser pobre.
Os anos passam e a história se repete.
A primeira vez era tragédia,
Desde então tudo parece farsa,
Egoísmo e incompetência.
E assim continuaremos a viver
Até que sejamos capazes de perceber
Que somos nós que fazemos a história
E que, se não está ao nosso alcance
Voltar e fazer um novo começo,
É nosso dever, e isso não se pode negar,
Que podemos ainda fazer um novo fim.
William Alexandre
 
OBS: Há exatos 2 anos um forte período de chuvas atingia o Rio de Janeiro. Centenas de pessoas morreram em diversos municípios como Friburgo, Teresópolis, Volta Redonda e Niterói. As mortes, no entanto, não foram resultado do acaso, ou mera fatalidade. Pelo contrário, são o resultado da indiferença histórica dos governos para com as classes populares. Até hoje, diversas famílias continuam sem lugar para morar pois, quando há, o aluguel social não é suficiente. Tudo isso é parte da estratégia covarde de criminalizar a pobreza e responsabilizar a classe trabalhadora por não ter escolha. Estamos de luto, mas só porque ele é parte da nossa recusa de aceitar tal mundo, e de nossa luta para transformá-lo.

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