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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Independência


No sétimo dia de setembro Deus, erguendo sua espada de fogo
declarou:
-Independência ou Morte. Fiat Brasilis (faça-se o Brasil.
Estava criado o Mundo Brasil. Viu Deus que era bom, e foi descansar.
Mas o negro na senzalaencafifado com o fato, resolveu indagar:
-O que é independência?
Deus, sabichão, já com jeitinho brasileiro, respondeu:
Não se preocupe em saber. Depois a gente dá um jeitinho.
-Mas o que é independência? - insistiu o afrodescendente.
-Pode ser, por exemplo, tema para um samba-enredo - respondeu o bom
Deus, inventando o Carnaval. - Que tal a idéia? Não está mal.
-Mas eu preciso entender. O que é independência?
-Isso ainda não está à altura do seu entendimento - retrucou Deus,
já meio irritado, mandando o cafuso esquecer o assunto confuso. - Deixe
isso de lado. Não assunto para negro.
-Se não é para negro é para tupí - vociferou o índio, saindo da
mata vazia.
E Deus, com seu cajado, no cavalo de chefe de Estado, esbravejou:
-Isso não é coisa para índio. Isso é para o Primeiro Mundo,
civilizado.
-Se não é para índio é para mulato - cantou o mulato, estupefacto.
E Deus, no seu trono divino falou mais alto:
-Isso não é coisa para mulato. Isso é assunto complicado.
Aí vieram o operário, a dona de casa, o visionário, o artista com
sua arte Veio gente de toda parte, o moleque de rua, o caipira, o
pau-de-arara. Todos gritaram ao mesmo tempo, perdendo a paciência:
-O que é independência?
-Independência, é, por assim, como diria, na verdadeira concepção
da palavra, assim assim... Entenderam meus filhos? É.
E, saindo dos trilhos, concluiu:
-Vão à merda. Isso não é coisa para vocês.
Encurralado, enraivecido, desesperado, emputecido, Deus então tomou
uma decisão, fazer um arranjo em sua invenção. Acabar com as dúvidas
eliminando a indagação.
Silêncio celestial (ou sepulcral?). Mas quem prestar a atenção,
atras dos muros, ouve sussurros:
-Independência? Independência?

Daniel Neves de Andrade
PCB/Guarulhos-SP

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