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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

PCB lança concurso cultural para logomarca do Centro de Formação Astrojildo Pereira

O Partido Comunista Brasileiro acaba de lançar concurso cultural que visa escolher a logomarca do Centro de Formação Astrojildo Pereira, cuja sede foi adquirida no final de 2012. A participação é livre e as artes devem ser encaminhadas em formato digital para o e-mail  pcb@pcb.org.br .

"Todos podem participar: desenhistas, artistas plásticos, designers gráficos, militantes e amigos do Partido", afirmou o secretário-geral do PCB, Ivan Pinheiro.

A arte vencedora, que será escolhida pelo Secretariado Nacional do PCB, receberá ampla divulgação e seu autor será premiado com uma coleção de todas as publicações já editadas pela Fundação Dinarco Reis.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

“CAETANICES”, NUMA BELA HOMENAGEM



A quem ainda não ouviu, recomendo uma canção incluída no último disco do grande compositor, letrista e intérprete Caetano Veloso, intitulada "Um Comunista", na qual ele presta uma homenagem, tardia mas sincera, a Carlos Marighella. O link para o Youtube é este: 
Como é importante ouvir seguindo a letra, ela está no final deste artigo.
Formalmente, a música é de primeira qualidade. É uma espécie de litania (ladainha) não-religiosa, em que a repetição exaustiva do motivo melódico realça extraordinariamente os versos e sua intenção. Tal técnica já foi usada muitas outras vezes. Por exemplo, em “Pra não Dizer que não Falei de Flores”, de Geraldo Vandré (a conhecidíssima “Caminhando e Cantando ...” http://www.youtube.com/watch?v=onbRuVLPDmI ) e a menos conhecida “Working Class Hero” (Herói da Classe Operária http://www.youtube.com/watch?v=njG7p6CSbCU), do John Lennon pós Beatles.
Caetano, em “Um Comunista”, usa a técnica da ladainha, mas com muito mais riqueza melódica e harmônica.
É surpreendente – num sentido positivo – que Caetano tenha composto uma canção como esta. Porque ele jamais demonstrou simpatia para com os comunistas. No caso, a homenagem é a um revolucionário que admirava provavelmente a partir de uma posição romântica. Mas, de qualquer maneira, há trechos que emocionam a todos nós, pelo reconhecimento que faz de determinadas características nossas.
 Refiro-me aos seguintes trechos da letra: 
"... foi aprendendo a ler / olhando o mundo à volta / e prestando atenção / no que não estava à vista / assim nasce um comunista ..."; 
"... os comunistas guardavam sonhos / os comunistas / os comunistas ..." (trecho repetido várias vezes ao final da gravação);
"... sempre foi perseguido / nas minúcias das pistas / como são os comunistas ..."
"... vida sem utopia / não entendo que exista / assim fala um comunista ..."
Surpreende também que ele cite, como um dos que prenderam Marighella, o Antônio Carlos Magalhães – tendo em vista que sempre que teve oportunidade louvou o falecido senhor feudal da política baiana. Coisa que, por sinal, muitos outros faziam – inclusive o também falecido Jorge Amado. 
Mas como nada é perfeito, Caetano comete dois erros crassos de avaliação – salvo se não se tratar de erros de avaliação, e sim de uma espécie de compensação política pela homenagem a Marighella e pelas frases de reconhecimento aos comunistas. 
Um deles está contido no trecho "... as nações terror / que o comunismo urdia ...". Ora, que nações seriam essas? Não me consta que as nações em que o socialismo chegou a ser implantado exportassem "terrorismo". Com certeza, por sua perspectiva internacionalista e pelo dever de levá-la à prática, apoiavam de diversas maneiras as lutas de libertação de outros povos. Daí a chamá-las de "nações terror" vai a distância exata entre uma afirmação coerente politicamente e uma simples "caetanice" (no pior sentido).
O outro erro aparece em "... o mulato baiano já não obedecia / às ordens de interesse / que vinham de Moscou ...". Claro que ele aqui se refere à ruptura de Marighella com a posição adotada pelo PCB de luta de massas contra a Ditadura, e sua adesão à luta armada. Entretanto, a idéia de que a estratégia àquela altura proposta pelo PCB fosse mero seguidismo das posições de grande potência da URSS (que de fato existiam) é um equívoco grave.
A posição de recusa da luta armada era claramente majoritária no interior do PCB. Não só pela compreensão de que ela não tinha – por todos os motivos – a menor condição de ser vitoriosa, mas também porque fortaleceria indiretamente o regime, que facilmente isolaria e estigmatizaria os grupos armados. O que de fato ocorreu.
O afastamento de inúmeros bravos camaradas para o caminho da luta armada é questão que não está mais em causa, pois a História nos deu razão. Apenas, o Caetano incorreu nos velhos erros de considerar que não tínhamos vontade própria, de que éramos meros “teleguiados” de Moscou. Com o adendo de que nem em todos os casos a URSS foi contra a luta armada. Há vários exemplos de apoio militante dos soviéticos a lutas de libertação nacional e a levantamentos armados contra governos opressores.
Parece que o genial compositor, letrista e intérprete baiano "deu uma no cravo e outra na ferradura". Em sua nova canção, ele elogia os comunistas numa perspectiva idealista, mas os critica no concreto. Totalmente Caetano, afinal.
FELIPE OITICICA (RJ)
A letra da canção:

Um Comunista

(Caetano Veloso)

Um mulato baiano,
muito alto e mulato,
filho de um italiano
e de uma preta huça,
foi aprendendo a ler
olhando mundo à volta
e prestando atenção
no que não estava a vista;
assim nasce um comunista ...

Um mulato baiano
que morreu em São Paulo,
baleado por homens do poder militar,
nas feições que ganhou em solo americano,
a dita guerra fria,
Roma, França e Bahia ...
Os comunistas guardavam sonhos
Os comunistas! Os comunistas!

O mulato baiano, mini e manual
do guerrilheiro urbano que foi preso por Vargas,
depois por Magalhães,
por fim pelos milicos,
sempre foi perseguido nas minúcias das pistas,
como são os comunistas ...

Não que os seus inimigos
estivessem lutando
contra as nações terror
que o comunismo urdia,
mas por vãos interesses
de poder e dinheiro,
quase sempre por menos,
quase nunca por mais ...
Os comunistas guardavam sonhos
Os comunistas! Os comunistas!

O baiano morreu,
eu estava no exílio,
e mandei um recado:
– eu que tinha morrido
e que ele estava vivo,
mas ninguém entendia,
“vida sem utopia
não entendo que exista”:
assim fala um comunista ...

Porém, a raça humana
segue trágica, sempre,
indecodificável,
tédio, horror, maravilha ...
Ó, mulato baiano,
samba o reverencia,
muito embora não creia
em violência e guerrilha
tédio, horror e maravilha ...

Calçadões encardidos,
multidões apodrecem,
há um abismo entre homens
e homens, o horror ...
quem e como fará
com que a terra se acenda?
E desate seus nós,
discutindo-se Clara,
Iemanjá, Maria, Iara,
Iansã, Catijaçara?

O mulato baiano já não obedecia
às ordens de
 interesse  que vinham de Moscou,
era luta romântica
era luz e era treva,
feita de maravilha, de tédio e de horror ...
Os comunistas guardavam sonhos
Os comunistas! Os comunistas!
(várias vezes)