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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Reféns

G erando
E nsino
O peracional
G lobal.
R adical ou
A lienador.
F azendo
I ntrodução a

A rte da vida.

E nsinar...

H óspede
I nspirador e
S upremo da
T utoria
O rganizacional
R ealizada pela escola
I dealizadora de ideias
A queima roupa capitalista.
 
Ana Carolina Ferreira
Belo Horizonte/MG
 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

SOU NEGRO

SOU NEGRO 

A Dione Silva 

Sou Negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh'alma recebeu o batismo dos tambores atabaques, gonguês e agogôs

Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço plantaram cana pro senhor do engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu.

Depois meu avô brigou como um danado nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso

Mesmo vovó não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou

Na minh'alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação...


SOLANO TRINDADE

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O fuá no forró

Eu vou contar pra você
Uma estória não bonita
Feita com muita escrita
Num papel bem branquinho,
Talvez não diga tudinho,
Talvez tudinho eu lhe diga,
Sem lhe dizer muita intriga
Vou dizer devagarzinho.

Fui pro um forró da bexiga,
Com dois cornos e uma bicha
Não sabia que ela tinha rixa
Com a Déa de Mané Vitor
Fui chegando ouvi o grito
Da tal Déa boca surja
Eita olho de coruja!
Nada nela era bonito.

De feiura de lambuja
Parecendo o próprio cão.
Veio de tamanco na mão
Tascar na bicha Mere Blus,
Uma “mulher” que faz jus
Ao prêmio da baixaria,
Puxou a navalha fria,
Na cara dela fez cruz.

O sangue fino desceu
Daquele corpo de creia,
Daquela cara plebeia,
Naquele ser tão malfeito
Que se achava no direito
De maltratar uma “mulher”
Mesmo ela sendo o que é,
Mulher de pouco conceito.

A turma se aproximou
Das tas mal-afeiçoadas
Separando tas danadas
Que queria confusão
No finzinho um três oitão
Surgiu naquele fuá
Foi gente a pinotar
Dando aquele carreirão.

O tiro era sim, de agá
Veio da boca de um bebinho
Que tava no bar sozinho
Se chegando como encosto,
Bebendo com tanto gosto
Uma cachaça da Pitú
Juntinho de um imbu
Que ele fez de tira-gosto.

Foi nego feito aratu
Andando pra trás, pra frente
Com um bafo de aguardente,
Correndo com todo gás.
Foi mulher assim fugaz
E sem saber o que foi
Exibindo cada oi,
Gritando xô satanás!

Pareciam lobisomens,
Os cornos que foi comigo
Na igrejinha pediu abrigo,
O pastor não deu de graça
Para espantar a desgraça
Juntou nossas carteiras
E nem por brincadeira
De honesto se desfaça.

Ninguém a localizou
Naquele simples recinto,
A culpada por extinto
Daquele fuá todinho.
Quando os tiras ligeirinhos
Chegaram naquele forró
Pra desatar aquele nó
Com cassetetes novinhos.

Fizeram abaixar o pó
Baixando a lenha no povo
Sem perguntar de novo
Quem era mesmo o culpado.
Foi nego pra todo lado
De novo correndo veloz,
Foi nego perdendo a voz
Gritando eu tô lascado.

Menino puxando o cós
Da mãe carente de tino,
Nem o bêbado Rufino
Parou os endiabrados
Aquele do oitão danado,
Da primeira confusão
Que disparou de bocão
As balas por todo lado.

Um cara sem anelão,
De bigode de vassoura
Disse assim a cantora,
Que cantava do outro lado:
- Quem foi esse condenado,
Esse triste matador?
- Foi um bebinho seu doutor,
O tiro foi inventado!

Essa bagaceira de briga,
Do forró que fui curtir
Poucos viram o seu fim
Entre eles eu, confesso.
Fiquei assim meio disperso
Procurando a alma no corpo
Levado assim pelo o povo,
Que por Deus, não é perverso.

Salvou-me, por Deus, de novo,
Da bofetada de um tira
Que debulhava mentira
Da verdade tão plangente
Que ardia aqui na gente
No toitice aperreado,
Naquele dia desgraçado,
De condenado e indigente.

O forrozeiro e o seu amor
Saíram bem de fininho
Pra não espantar tudinho
Que estava na sua frente,
O triangueiro que era crente
Danou-se a orar sem parar,
O zabumbeiro Itamar
Fugiu também com a gente.

No caminho encheu de ar
O peito e com olho roxo;
Disse assim: eu não sou frouxo
Vou voltar pra confusão
Lá deixei o meu irmão,
Dois primos e uma tia.
Eu não sou de valentia,
Mas covarde não sou não!

Foi ligeiro a delegacia,
Pedir ajuda ao delegado
E o tira tão acanhado
Disse assim: o que é amigo?
O que tu queres comigo?
- Nada que não possas fazer
Disse o zabumbeiro Quilê
Um afro-descendente antigo.

E eu assim sem vontade alguma
Fui com ele em passos longos
Parecendo um camundongo,
De medo, mas decidido
Rever aqueles bandidos
De fardas e três oitão
Nas sintas e outros na mão
E na mente nada contido.

Chegando no carreirão,
Naquele forró bendito,
Palco daquele conflito
De onde só tem errados
Tais brabos inveterados,
Todos na mesma panela
Fazedores desta trela
Que por alguém foi inventado.

Pus os olhos na janela
Pra ver se via algo macabro
Quase de choro me acabo
Ao ver a meiga Mere Blus
Deitada com os seios nus
Pra me, numa morte profunda
Ainda mostrado a bunda
Tão seminua, a meia luz.

Eu tive a sorte invertida
Naquela cena de horror
O delegado assim notou
Que eu estava sentindo
Deixou-me no canto curtindo
A dor, mas dor que sentir
Ao ver Mere Blus no fim
Como quem está dormindo.

Perguntei ao povo dali:
Quem fez tal bagaceira?
Um mendigo sem asneira
Me disse: foi ninguém não,
Foi ela que deu com a mão
Na ponta de um chifre brabo
De um homem, pobre-diabo
Que vazou pelo o oitão.

Ela que é metida a braba,
Uma mulher meia Sansão,
Mas fraquejou o coração
Quando viu o sangue no pique.
Ela deu um estrimilique
E caiu aí no solo frio
E aí mesmo ela dormiu
Parecendo piquenique.

Disse eu: puta-que-pariu!
Que mico paguei agora
Por causa dessa caipora
Que agora não tenho dó.
Eu disse assim tão só:
Acorda frango maluco
Antes que pegue o trabuco
E enfie no teu fiofó!

Eu sou de Pernambuco
E disso não me envergonho,
Fazedor de um bom sonho
Pra todos tirar o chapéu
Pra a arte que pus no papel
Feito só para alegrar
A quem gosta de viajar
Nas estórias de cordel.
 
Gilson Silva (15/03/2011)
 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

GIRO IMÓVEL



I

Girando no teto
sem jamais romper o tédio.

Girando no teto
hélices de gumes cegos.

A reunião prossegue.

II

A mão do relator
busca, fiel, retratar
infinda valsa verbal.
O tédio, no entanto,
não entra na ata.

No teto os gumes prosseguem.

III

De dentro duma agenda
quase me sorri
dos relógios flácidos de Dali
a figura reduzida.

Gilson Ribeiro

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Nossa causa.

Não se trata de brados
ou sonhos dourados.
É frio como um logro
e quente como fogo.

É um faça, uma constatação.
É a mão estendida na escuridão,
em uma floresta de facas afiadas.

Alimenta-se de raiz
e rega a flor mais vermelha,
destruindo o nada dado por escravos
e devolvendo tudo para o trabalho.

Robson Luiz Ceron (2012).

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

"O Rato"

E aí Dr. Ratazana! Lembra de Mim? Eu fui o seu aluno na historia... Aquele que sacava muito de arqueologia, mas que não era bom o suficiente para ser historiador...Me formei...E você? Como vai?

Oi Dr. ratazana, sou eu! Aqui nova
mente... Aquele que saca muito de história, mas que não é bom o suficiente para ser filósofo –mesmo, já o sendo...

Oi Dr. ratazana, sinto muito pelo tiro que levou, sinto realmente, mas não pelo único tiro...E sim, por ter sido só um! Pois deveria ter sido 17!

Mandarei o seu assecla, ou o seu correligionário como falso leviano à espera de uma vaga, levar uma flor...Mas é a minha e não a dele!

A flor, ela será de Lótus! Aquela que abrolha em meio aos cadáveres, carniças, corcovas e moribundos!

Mandarei colocá-la em meio ao seu ser jazido! Na sua sepultura daninha! Repleta de intrigas, de sonhos quebrados e de desesperança.

Pois eu -e os outros do mundo em chamas-, somos a nova Ordem-Mundial e não o que você disse ser, ou o The Economist e a TV...

Você é o que ficou para trás: está enterrado, sepultado, chafurdou na própria bile e foi digerido por ela, é gordura pra queimar.

Tu foi o que há mais de pútrido, mais deletério (em vida), hoje é só o miasma do cadáver, semi-morto, na mente de outro, o abandono! Que mereceu apodrecer vivo e felizmente morreu! Tragicamente, hilariamente, patéticamente!

Você foi o suplantado, o suprimido , eu limpei (e limpo eternalmente ) a minha bunda com o seu curriculum Lattes, quando cago na Avenida Brasil. Seu filho da puta!...Você é um execrável, Dr.

Mereceu o paredão, sem perdão! Sem reflexão, sem episteme, sem formalidades, sem cerimônias, sem humanismo. Ué, você não é o inumano?

Você é o encosto do espírito, aquele que inexiste!...Pois aqui na imanência, não há espíritos! Agora, na hora da débâcle, na hora da morte, seu filho da puta...Você crê em espíritos?...Não é o que seus livros dizem, Dr!

- (Felipe Lustosa)

Manoel Preto

Manoel Preto

Dedicado a Washington Luis Barcelos, que me soprou essa história

Na última noite, apenas estremecia de leve e,
aos poucos, se aquietou. Cansado pela longa
vigília,cerrei os olhos e adormeci. Ao acordar,
percebi que uma coisa se transformara no meus
braços. No meu colo estava uma criança encardida,
sem dentes. Morta.

 
Teleco, o coelhinho
Murilo Rubião

 
 
No caminho de Curral del Rey para Sabará, havia uma mata, e nesta mata, uma pequena estrada, calçada em alguns pontos íngremes, que era para estabilizar as carruagens para não fazer chacoalhar as damas da corte. Neste ponto, onde o caminho se curvava, os escravos velhos e doentes eram abandonados a própria sorte. Foi esse o caso de Manoel Preto, ex-príncipe de um reino africano, encarregado de encher as moringas da casa grande, e que completará 60 anos, idade bastante avançada entre os escravos.
Na ida da comitiva, Manoel Preto foi abandonado, deixado em uma pedra, sentado, esperando a morte. Na volta do comboio, outros escravos se encarregariam de enterrar o seu defunto corpo.
Mas Manoel Preto não quis assim. Sentar? Esperar a morte chegar? Não, definitivamente não! Havia cruzado todo um oceano. Seus companheiros de exílio, jogados ao mar um a um, formavam um colar de pérolas negras. Viu mulheres parirem novos lucros, e crianças crescerem nos convés. Em terra, trabalhou em lavoura, engenho, esqueceu sua língua, aprendeu outra. Teve febre, pensou na mãe, no pai, no reino que não chegou a herdar, e que provavelmente nem existia mais. Morrer assim? Mas que não! Se a morte lhe quer, que se ponha a caminhar.
E Manoel Preto caminhou. Entrou trilha, deitou mato, pendurou em pedra. Sentia-se mais forte. Ninguém a lhe dizer “faça isso, pegue aquilo, carregue tudo para acolá”. Era apenas ele e o verde a lhe abraçar.
Foi quando se deparou com uma cobra: “o pai quer que eu o ajude, lhe devorando?”. Com a cabeça fez que não. E continuou a andar.
Desta vez um carcará, pousando ao seu lado, lhe cochichou: “se o pai quer, eu lhe como. Ajudo pai, e pai me ajuda”. Mas Manoel Preto fez que não, e soprou pra longe o bico da insidiosa.
E então uma paca, não uma simples paca, mas a rainha de tudo que respira, e é bom, confeitou no seu ouvido: “pai não morre, pai é pedaço de nós. Se pai quiser, comigo tem morada”. Manoel Preto sorriu, como nunca o fazia. Se curvou. Seus pés trincaram. Seus olhos se puseram negros como a noite. E se foi em cavalgada.

Daniel Oliveira
Sabará/MG
07 de Novembro de 2012

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

NEGRA! - NEGRA! - NEGRA!

Sou negra e você não vê!
Sabe por quê? Porque você é racista!
...
Está procurando na cor da minha pele
a cor que está na minha cultura,
na minha história, nas minhas raízes.

...

Os meus deuses são negros
são forças da natureza
seres paradoxais

Sou do samba,
sou do rap,
sou do soul,
sou negra!

Sou negra e você não vê!
E assim você permite que eu estude
em lugares onde não encontro os meus,
que eu consiga empregos diferentes
dos que conseguem os meus...

Mas você não sabe...Eu sou neguinha! E você, não vê!

Carolina Lopes

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Sangue


Meu sangue é o sangue dos homens
Dos trabalhadores
Dos operários
Do proletariado

Meu sangue é o sangue dos explorados
Daqueles que nunca abaixam a cabeça
Dos que vivem cativos e espoliados
Dos honestos, dos revoltados

Meu sangue é o sangue que quer justiça
Dos que não aguentam a injustiça e a opressão
Dos seres de bem
De todos os do BEM

Meu sangue enche os rios
As matas
Os mares
As montanhas
As ruas
As lojas
As fábricas

Mas um dia será um turbilhão
Um tsunami de justiça
De igualdade
Da verdade
Um sangue
Só um sangue
O sangue dos homens
O sangue da terra.


AC 31/03/2011
Afonso Costa é da direção estadual do PCB no Rio de Janeiro e jornalista com quase 35 anos de profissão. Além de matérias e artigos também escreve contos, crônicas e poesias, algo para aliviar a mente, para fazer a luta política no campo das letras.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

NÚCLEO DE CULTURA E MEMÓRIA COMUNISTA NO BRASIL

Temos nos reunido com o intuito de resgatar o potencial transformador da intervenção cultural.
Como disse o camarada Paulo Leminski “Na luta de classes todas as armas são boas: pedras, noites e Poemas”.
Nesse sentido nos colocamos o desafio de estudar, compreender e por em prática a importante contribuição teórico-prática nesse campo dos comunistas
no Brasil, marcadamente durante as décadas de 20 e 80.
Ao nos debruçarmos sobre essas experiências na literatura, teatro, cinema e música, pretendemos potencializar nossas intervenções na realidade sempre no intuito de alcançar a emancipação humana através da transformação radical da sociedade em que vivemos!
Nosso próximo encontro será:

A POLITICA CULTURAL DOS COMUNISTAS – PARTE I
Texto de Celso Frederico – em anexo

DIA 16 DE NOVEMBRO
ÀS 17:00
AUDITORIO DA PRO-REITORIA DE ASSUNTOS COMUNITÁRIOS (PRAC) – UFPB (Entrando no subsolo da reitoria pelo estacionamento)
Para isso contaremos com a riquíssima contribuição do camarada Romero Venâncio, professor de filosofia da Universidade Federal de Sergipe (UFS)!


Quer receber por e-mail as informações, atividades, programação do Núcleo de cultura? CADASTRE-SE NO LINK: https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dE1PZVo0WXpVU183bVYxZlNQQ3Bra2c6MQ
(se quiser participar dos espaços é muito importante o cadastro para facilitar a nossa comunicação)

PROGRAMAÇÃO COMPLETA NO LINK: https://docs.google.com/document/d/1IYgJFJqf1eEq7aCiTkVOx5TVqgvkkONZ2sh19bj1jAs/edit

Contatos:
ujcparaiba@gmail.com
http://www.facebook.com/ujc.pb
www.ujc.org.br
Pablo - (83) 9973.1027 (TIM) / 8809.0422 (OI)
Patrícia - (83) 9645.1957 (TIM) / 8847.3457 (OI)
Romero - (83) 99501473 (TIM)

Para Neide Alves Santos, única mulher do PCB, morta pela ditadura militar

Só vos peço uma coisa: se sobreviverdes a esta época, não vos esqueçais!

Não vos esqueçais nem dos bons, nem dos maus.

Juntai com paciência as testemunhas daqueles que tombaram por eles e por vós.

Um belo dia, hoje será o passado, e falarão numa grande época
e nos heróis anônimos que criaram a história.

Gostaria que todo mundo soubesse que não há heróis anônimos.


Eles eram pessoas, e tinham nomes, tinham rostos, desejos e esperanças,
e a dor do último entre os últimos não era menor do que a dor do primeiro,
cujo nome há de ficar.

Queria que todos esses vos fossem tão próximos como pessoas que tivésseis

Conhecido como membros da sua família, como vós mesmos.

Julius Fuchik

Para Neide Alves Santos, única mulher do PCB, morta pela ditadura militar