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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Os 43 de Raúl Isidro Burgos




Contra o narcoprefeito foram protestar
José Luis Abarca, a besta de Iguala
Que em março mandou assassinar
Camponeses que queriam o solo adubar
E que com suas mortes fertilizaram
Os jovens de Ayotzinapa


Armados de indignação os 43 normalistas
Foram seu canto entoar
Mas a imperatriz de Beltrán Leyva
María de los Ángeles Pineda Villa
Estava a discursar


Para não ser interrompida
Acionaram a polícia
Que sequestrou os normalistas
E os entregou aos chacais


Amontoados como animais
15 morreram asfixiados
Os demais foram alvejados
E todos incinerados
No lixão de Cocula
Queimados em alta temperatura
Por 14 horas ininterruptas


Os 43 estudantes da Escola Normal Rural
Raúl Isidro Burgos
Localizada a 125 km de Iguala,
Na cidade de Ayotzinapa
Queriam ser professores


Não puderam se formar
Mas a lição que deixaram
Essa ninguém poderá apagar


Daniel Oliveira
Brasil – América Latina
Primavera de 2014

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Nova literatura afro-brasileira reconta parte da História e tem Rio como reduto

Escritor Manto Costa reune em ‘Circo de Pulgas’ contos que se passam em lugares como Sambódromo, Lapa e Pedra do Sal

Maria Luisa Barros
Rio - Pelas mãos de escritores negros, personagens anônimos da cidade, que vivem à margem dos cartões-postais, se tornam os protagonistas de histórias de dores e amores colhidas nas ruas, bares e becos do Rio de Janeiro. Representante do novo movimento literário afro-brasileiro, o jornalista e escritor Manto Costa reuniu no livro ‘Circo de Pulgas’ 12 contos que se passam em cenários emblemáticos como o Sambódromo, a Lapa, a Pedra do Sal, no Morro da Conceição, e a Praça 11, berço do samba carioca.
Considerado um dos bons ficcionistas brasileiros da atualidade, Manto passeia por lugares com forte presença negra e importantes na história da escravidão no Brasil para brindar o leitor com narrativas tocantes sobre figuras como: Velho Aruanda, Zé Ruela, Pente Fino, Zé Menino, Dona Menininha e Perninha, entre tantos outros. Em meio a batucadas, botecos e terreiros, a sensação é de já ter esbarrado com esses personagens por aí, sem, no entanto, se ater às suas vivências. O que Manto faz com maestria.
Manto Costa reúne no livro ‘Circo de Pulgas’ 12 contos que se passam em cenários como o Sambódromo, a Lapa e a Pedra do Sal
Foto:  Maíra Coelho / Agência O Dia
Não à toa, a obra, cujo lançamento será na próxima quinta-feira na Livraria Folha Seca, foi a primeira de um pacote de cinco autores negros, todos com larga bagagem, como Joel Rufino, Conceição Evaristo, Carlos Nobre, Nei Lopes e Cuti, a receber recursos federais para chegar aos leitores.
Na literatura criada por eles, a trajetória da negritude é contada pelos próprios negros. “É o resgate da história brasileira contada pela elite branca. O próprio Zumbi, durante muitos anos era retratado nos livros escolares como um negro fujão. Hoje sabe-se que o Quilombo de Palmares foi a primeiro movimento de independência do Brasil”, diz Manto.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Biografia e CD resgatam a obra do cantor e compositor Taiguara

Taiguara foi vítima da censura imposta pela ditadura militar nos anos de 1960 e 1970 (Arquivo EM)
Taiguara foi vítima da censura imposta pela ditadura militar nos anos de 1960 e 1970
 
O lançamento de um disco inédito e de uma biografia traz à tona vida e obra de um dos artistas mais originais que o Brasil teve e perdeu, aos 51 anos, em fevereiro de 1996. Nascido Taiguara Chalar da Silva, em Montevidéu, no Uruguai, ele se consagrou apenas como Taiguara. A carreira de cantor e compositor é considerada quase um símbolo da resistência à ditadura militar, tamanho o número de composições – 68 – censuradas nas décadas de 1960 e 1970.

Autor dos clássicos 'Hoje', 'Universo do teu corpo', 'Viagem' e 'Que as crianças cantem livres', entre outros, o autor teve sua trajetória pesquisada pela jornalista Janes Rocha, que está lançando 'Os outubros de Taiguara – Um artista contra a ditadura: música, censura e exílio'. Paralelamente, parte do acervo pessoal de fitas cassete do artista foi restaurada e resultou no disco 'Ele vive'. Os dois produtos são da Kuarup Música.

Ricardo Carvalheira, um dos responsáveis pela digitalização do áudio a partir dos registros originais de Taiguara, diz que, em termos de acervo, nunca viu nada igual no país. “As fitas estavam em perfeito estado”, elogia, destacando os cuidados da família com a memória do artista.

Pedro Baldanza, que assina a produção e a direção musical do CD, informa que há mais material guardado. A partir da voz gravada do cantor, ele recriou a base das 11 canções inéditas do repertório: 'Ele vive', 'Guerra pra defender', 'Te quero', 'Moça da noite', 'Alba Esperanza', 'Conflito (sexo escravo)', 'Manhã na Candelária', 'Sou negro', 'Tomou rebeldia', 'O catador de milho' e 'Sou Samora Potiguara'. O disco traz quatro bônus: 'Outubro', 'Modinha', 'Helena, Helena, Helena' e 'Hoje'. Segundo Baldanza, trata-se de “um retrato legal do universo de Taiguara”.

O cantor e compositor fez da ponte entre o romantismo e a política a marca principal de sua obra. “Se em uma canção ele aparece mais romântico, em outra já está mais agressivo, adotando ritmos latinos, por exemplo”, avalia Pedro Baldanza, salientando que a raiz de Taiguara é o tango, representado no CD por 'Conflito (sexo escravo)'. “É o toque gauchesco dele”, repara o produtor, lembrando a origem familiar do cantor uruguaio. Para evitar o “empastelamento” das canções, Baldanza evitou usar muitos arranjos. A ideia é que a música se sobressaia. “Queríamos a reportagem da voz”, explica, citando como exemplo a faixa 'Alba Esperanza'.

Nenhuma das 11 inéditas do CD foi datada pelo compositor, mas, pelo que Pedro Baldanza pesquisou, elas foram gravadas entre 1978 e 1990 pelo próprio Taiguara. “Tudo é uma surpresa muito agradável. Afinal, trata-se de um artista que compunha incessantemente, cuja projeção só não foi maior no mercado e na própria mídia por causa de sua postura política. Taiguara era muito podado, muito censurado”, lamenta. Um disco do cantor foi recolhido das lojas em 1977, pouco antes de ele partir para o segundo exílio, quando trocou o país pela Europa e África, retornando dois anos depois. Entre 1974 e 1976, ele morou em Londres, na Inglaterra.

Ricardo Cristaldi (arranjo, teclado e programação), Pedro Baldanza (baixo), Paulo Ribeiro (violão), José Augusto Cunha (percussão), Felipe Dourado (cavaquinho) e Michele Kerepschi e Pedro Baldanza (vocais) formam a base de acompanhamento de Taiguara (voz e piano).

Depois de experiências com Elis Regina e Luiz Gonzaga, cujas vozes restaurou a partir de fitas em polegadas, Ricardo Carvalheira conta que esse foi o primeiro trabalho de reaproveitamento de voz a partir de fita cassete realizado no Brasil. Anteriormente, o músico produziu um box duplo de Taiguara para o selo Discobertas, de Marcelo Froes.

TAIGUARA – ELE VIVE
• 15 faixas
• Kuarup, R$ 24,90

OS OUTUBROS DE TAIGUARA
•  De Janes Rocha
•  Kuarup, 158 páginas, R$ 46


Além dos festivais

Escrito em dois anos, o livro 'Os outubros de Taiguara' é produto de 34 entrevistas realizadas pela jornalista Janes Rocha, além da intensa pesquisa realizada por ela no Arquivo Nacional, com sede no Rio de Janeiro.

“Diria que a gente consegue avançar além do Taiguara romântico que as pessoas conhecem dos festivais de música”, afirma Janes. “Fomos atrás da experiência dele com a censura, que foi dramática em sua vida e inviabilizou a carreira artística”, acrescenta.
 
Fonte: http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/musica/2014/11/09/noticia_musica,161260/biografia-e-cd-resgatam-a-obra-do-cantor-e-compositor-taiguara.shtml
 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Ad aeternus

Grita e chora!
São os consoles...
Controles
Remotos
Aéreos!
Etéreos!
Estéreos!
Sorri e chora!
Fala e pensa!
Que o Ciber-Cristo...
Artificialmente fabricado...
Virá
Nas ondas do rádio!
Surgirá nas telas das TVs!
Perdoará todos os seus pecados!
Mais profanos!
Ouvirá todos os meus clamores!
Perdoará todas as minhas fraquezas
Canto e choro
Grito e evanesço
De joelhos
Para o Ciber-Cristo...
Artificialmente fabricado...
 
 
Samuel da Costa 


quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Centenário de Maria Carolina de Jesus




Negra e moradora da favela do Canindé, Carolina é autora de Quarto de Despejo, onde retratou o cotidiano da comunidade na década de 1950; Promovidas pela Edições Toró, em outubro, ciclo de atividades inclui oficinas, roda de sambas, debates, filmes e intervenções cênicas
08/10/2014
Por Simone Freire,
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/30088

"Todos têm um ideal. O meu é gostar de ler". Nestas palavras, Carolina Maria de Jesus (1914-1977) resume sua trajetória e propósito de vida. Semi-analfabeta, negra e moradora da favela do Canindé, Zona Norte de São Paulo (SP), Carolina tornou-se escritora reconhecida dentro e fora do Brasil com o livro "Quarto de Despejo - Diário de uma Favelada", publicado em 1960. Com uma literatura viva e pulsante, soube pautar as complexidades e contradições da sua realidade.
Em 2014, a escritora completaria cem anos de idade. Uma série de atividades e homenagens foi realizada pelo País e, em complemento a elas, neste mês de outubro, mais um ciclo busca celebrar a vida e obra da escritora. 
Promovidas pela Edições Toró, atividades como oficinas, roda de sambas, mesas-redondas, debates, filmes, intervenções cênicas e leituras têm sido realizadas em diversos pontos de São Paulo (SP).
Segundo o educador e escritor Allan da Rosa, um dos organizadores do ciclo, este tipo de atividade tem um propósito muito especial, uma vez que enormes referências da literatura “são ainda, no geral, mais comentadas do que lidas”. Ele lembrou que outra série de atividades deve acontecer em novembro para celebrar o centenário de Abdias do Nascimento (1914-2011), conhecido pela luta em defesa da igualdade racial.
O papel do mercado editorial também foi lembrado por ele. “No ano de seus centenários, o sistema editorial que domina o mercado ainda permanece muito distante e pouquíssimo interessado por seus trabalhos, estilos, histórias e questões, assim como ocorre com várias outras canetas negras, de ontem e de hoje”, comenta, lembrando que “recentemente, a atual gestão da Biblioteca Mário de Andrade vem buscando trançar e fertilizar caminhos com os movimentos literários das beiradas de São Paulo”.

Vida e Obra
Apesar de pouco estudo e a incessante e cansativa rotina de catadora, Carolina Maria de Jesus acumulou mais de 20 cadernos com testemunhos sobre o cotidiano da favela. Deles, após edição do jornalista Aldálio Dantas (que a descobriu ao visitar a favela para uma reportagem), originou-se "Quarto de Despejo - Diário de uma Favelada", publicado em 1960. 
O livro rompeu com qualquer rotina das edições até então publicadas no País. Em poucos meses, três edições foram lançadas, chegando alcançar a margem de 100 mil livros vendidos, além de ser traduzido para 13 línguas, como romeno, russo, japonês, inglês, sueco e alemão.
Carolina publicou ainda “Casa de alvenaria”, “Journal de Bitita“ (póstumo, 1982, França) e “Meu estranho diário” (também póstumo, 1996, organizado por José Carlos Sebe Bom Meihy e Robert M. Levine)
Literatura viva
Embora o cenário descrito por ela na década de 1960 não seja o mesmo de hoje, Quarto de Despejo é contundentemente atual, uma vez que a luta por melhores condições de vida e dignidade ainda permanecem entre os "trastes velhos" como, criticamente, caracterizava os favelados. “Eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos”, escreveu.
“O lugar, o olhar, a fala e a escrita da Carolina são atuais e cortantes. Carolina não só aborda temas, ela os vivenciou intensamente e ainda assim escreveu dolorosamente, mas sem perder a poesia. Se estivesse viva, Carolina não pouparia ninguém graúdo e poderoso, iriam todos parar no seu diário com as piores referências porque ainda latejam a luta por moradia e creches, contra o racismo institucional, a violência da discriminação religiosa, a repressão policial aos pobres e o genocídio sistemático da população negra”, descreve Allan da Rosa.
Legado
Sair da favela e arriscar-se em um cenário tão elitizado, como era o literário na época, não foi uma tarefa fácil para a catadora. Ora endeusada, ora considerada porta voz dos pobres, e tantas outras vezes tratada apenas como “uma favelada”, sua escrita, por muito tempo, se não ainda hoje, foi questionada e desconsiderada por vários críticos.
No entanto, a realidade mostrou que a paixão de Carolina pela leitura é exemplo para escritores e escritoras, sejam da periferia ou não. Sua vida e obra foram temas de diversos trabalhos acadêmicos, além de torna-se um legado para gerações atuais.
“Ela era uma mulher sonhadora, a frente do seu tempo. Não concordo quando vestem em Carolina a militância que ela não tinha. Carolina foi sim, porta voz de diversos descasos e escrevia maravilhosamente bem sobre tudo que assolava. Entendia que a questão da cor também interferia no fato de ser moradora de favela. Mas, um legado importante também é que ela falava da pobreza sem louvá-la, sem hipocrisia, e dizia que queria moradia melhor, queria se vestir melhor, comer melhor. Eu enxergo Carolina como uma mulher negra, mãe, não conformada em ser mais uma. Foi uma mulher que deixou um legado a todas nós mulheres negras periféricas: a escrita, o poder, o ser. Ela foi e é, sem sombra de dúvidas, inspiração pra rompimentos. Eu escrevo hoje e foi sim legado de Carolina”, conta a escritora Raquel Almeida.

Confira a programação das atividades em São Paulo:
>>> Quarta-feira, 08 de outubro
19h às 22h – “NA ALVENARIA SAMBANDO A BITITA: CAROLINA ALÉM DE ‘QUARTO DE DESPEJO”
Exibição do filme: “O papel e o mar”, de Luiz Antônio Pilar (Brasil, 2008)
Mesa redonda:
“Sobre ‘Casa de Alvenaria’”, com Fernanda Miranda (mestre em Letras, pesquisadora da obra de Carolina de Jesus)
“Carolina, personagem teatral”, com Lucélia Sérgio (Atriz e diretora na Cia Os Crespos)
“Sobre “Diário de Bitita e as músicas de Carolina” Com Flavia Rios (Socióloga, pesquisadora da vida e obra de Carolina de Jesus)
Mediação: Ruivo Lopes
Intervenções de Janette Santiago
Onde? Na Biblioteca Mario de Andrade – Rua Coronel Xavier de Toledo, centro de São Paulo

>>> Quarta-feira, 22 de outubro
19h às 22h – “CAROLINA DE JESUS, LETRA QUE ARRANHA, ESPETA E FERTILIZA”
Mesa Redonda:
“Textos de sangue – o estilo e o abalo”, com Mário Augusto (Professor da UNICAMP, sociólogo)
“Carolina, suas armas, horizontes e rastros”, com Jarid Arraes (cordelista, pesquisadora e jornalista)
“Carolina, sujeira no circuito editorial brasileiro?”, com Marciano Ventura (escritor e editor, criador do selo “Ciclo Contínuo”)
Mediação: Allan da Rosa
Onde? Na Biblioteca Mario de Andrade – Rua Coronel Xavier de Toledo, centro de São Paulo

>>> Sábado, 25 de outubro
16h às 20h –  “CAROLINA DE JESUS, A ARQUITETURA DA SOBREVIVÊNCIA E DO REVIDE”
Intervenção cênica de Débora Garcia.
Projeção do filme “Vidas de Carolina”, Jessica Queiroz (Brasil, 2013)
Mesa redonda:
“ Gritos e sussurros negros de Carolina”, com Débora Garcia (Atriz, poeta, presidente da Associação Literatura no Brasil)
“Ironia e drama em Quarto de Despejo”, com Fernanda Sousa (Professora e pesquisadora da obra de Carolina de Jesus)
“Dúvidas e frestas na letra de Carolina”, com Raffaella Fernandez (Pesquisadora da obra de Carolina de Jesus)
Mediação: Allan da Rosa
Onde? Comunidade Mauá – Rua Mauá, nº 342, Luz, ao lado da estação Luz de trêm/metrô

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Eu grito!

Eu grito por que ao longo de toda história,eu fui silenciada,
Porque mesmo quando quebro o silencio sou desacreditada,
Eu grito por que na fogueira minhas ancestrais foram queimadas ,
E por que, todos os dias, mulheres são agredidas pelos que dizem amá-las,
E eu grito por todas nós, oprimidas,violentadas e subjugadas.
Eu grito por que minha voz não é ouvida e sempre me quiseram calada,
Grito por que há o feminicídio,
Mulheres todos os dias,todas as horas,são mortas e o machismo as mata.
Eu grito por todas que morreram sem voz,com medo e acuadas,
Pela Jandira,pela Elisângela e pela Cláudia,
Vitimas da violência institucionalizada,
Punidas com pena de morte,
Vítimas de uma sociedade hipócrita e um estado que as criminaliza e mata,
Grito também por suas crianças, deixadas órfãs e traumatizadas.
Eu grito por que quando trago um vida ao mundo roubam meu protagonismo,
Sim, mesmo quando vou parir, eu sou violentada,
E grito por que em mim a vida pulsa e é meu corpo que pare,
Eu grito por que querem decidir sobre minha vida,sobre meu corpo,
E grito por que o sangue corre quente em minhas veias.
E eu decidi lutar e não ficar calada!
Eu grito por que escolhi não ter filhos e isso me faz ser julgada,
Por que eu escolhi ser solteira e me querem casada,
Pela minha sexualidade que querem controlada,
Eu grito pois por todo e qualquer motivo eu sou desqualificada,
E grito porque eu também sou mãe,
Grito por nossos filhos,por que as crianças também não têm voz
Crianças também não são respeitadas.
Eu grito por que eu trabalho por duas,três,quatro jornadas.
Por que trabalho mais e recebo menos.
Por que sou excluída dos espaços de poder,
E na luta de classes eu sou a mais explorada
Eu grito por que eu sou forte e me fizeram acreditar ser fraca.
Eu grito!
Eu grito por que eu sou humana, sou mulher
Sou gente e devo ser ouvida e respeitada.
Eu grito!
E vou gritar até que não seja mais preciso.
Até que a voz de todas as mulheres sejam escutadas.
Até que ninguém precise gritar mais nada. 


Renata Regina Guarani Kaiowá


terça-feira, 23 de setembro de 2014

NOTA DE PESAR DO PCB SOBRE O FALECIMENTO DE ABELARDO DA HORA

O Partido Comunista Brasileiro (PCB) em Pernambuco, vem à público expressar o seu pesar sobre o falecimento do artista plástico e militante comunista Abelardo da Hora, figura ímpar para a cultura Brasileira e mundial, prestando total solidariedade aos seus parentes e amigos. Abelardo da Hora foi militante e dirigente do PCB entre os anos 40 e 60, ao lado de grandes nomes como Gregório Bezerra, Cristiano Cordeiro, David Capistrano, entre outros que dedicaram as suas vidas as lutas populares e pela construção de uma sociedade justa. Pernambuco hoje está de luto por essa perda inestimável. 

Ele foi um dos mais destacados exemplo de ser humano, que mesmo nos momentos mais obscuros, sempre acreditou que os trabalhadores poderiam se libertar do julgo do Capital, proporcionando a todas as pessoas a libertação e alegria através da sua arte. Ele participou de uma das mais destacadas experiências de política cultural do País, sendo fundador do Movimento de Cultura Popular- MCP no Recife nos anos 60, onde construiu uma das mais belas obras de pintura e escultura sobre os “Meninos de Recife”. Sua obra estará presente na consciência coletiva do povo brasileiro. Abelardo da Hora! Presente! Hoje, amanhã e sempre! Direção Estadual do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em Pernambuco. 

http://vozativapcb.blogspot.com.br/

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Poema inspirado na campanha de Mauro Iasi e Sofia Manzano à presidência da república - Mão do Nós

São três pontas de mesma intensidade
Furam o mesmo pano e racham o mesmo chão
São três coisas muito parecidas e diferentes em vírgulas
Dizem o mesmo abecedário, sem mudar o cenário
Um falso vermelho, verde e azul.
Não preciso de três ou poucas frações
[Quero milhões à frente e a frente muitos milhões]
Serão plurais para todos e numa única face nossa voz
O povo em seu rosto estruturado e sorridente
Uma nova cor, a esperança desenhada pela mão do nós.


Igor Melo de Sousa
 
http://igormelofisi.blogspot.com.br/2014/09/mao-do-nos.html

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Manifesto por uma Frente Artística Anti-Capitalista

Todo ser humano tem potencial para produzir arte, todos somos potenciais artistas. Se uma criança recebe areia, ela esculpe um castelo. Se recebe tinta, ela pinta um dinossauro. Se estimulada com música, ela inventa sua própria dança. Mas adultos, a maioria de nós ou não produz mais arte ou não a produz como gostaria de fazer. Por que isso acontece?
http://comunaquepariu.blogspot.com.br/2014/09/manifesto-por-uma-frente-artistica-anti.html


Basta pensarmos no nosso dia a dia pra darmos de cara com dois motivos. De um lado, alguém que trabalha oito ou mais horas por dia, gastando umas boas horinhas a mais pra ir e voltar de seu local de trabalho, infelizmente não tem muito tempo para dedicar a outras atividades, ainda que goste muito delas. Nessa situação, apreciar e conhecer ou mesmo criar arte aparece como algo “supérfluo”, não passando de um “hobby” pra ser exercitado entre uma jornada e outra, e, se der, em algum espacinho de tempo no fim de semana... Além disso, um monte de gente simplesmente não frequenta teatros, shows, exposições ou certos pagodes e estádios porque se tornam pesados demais no orçamento (na sociedade em que vivemos tudo, até as tradições mais populares, vai virando mercadoria).

O outro motivo está ligado ao que chamamos de indústria cultural. E aí tratamos da situação dos trabalhadores da cultura (como os “artistas” ou os “produtores culturais”). Todo o fruto de sua criatividade acaba servindo pra alimentar esta indústria; e nisso há uma perda de sentido sobre o que fazem, pois cada vez mais se tornam meros executores levados a produzir algo que não é determinado por sua própria vontade, mas que se encaixe em um padrão vendável. Uma canção precisa ser “hit”, para vender; um quadro precisa ter o estilo que abra as portas pra galerias importantes, para vender; uma peça de teatro deve repetir os "lugares comuns" e efeitos fáceis, para vender. A cultura é reduzida a um negócio, cumprindo a função social de fornecimento de “matéria-prima criativa” para certas indústrias nas quais os bens produzidos têm valor ou não de acordo com as tais “leis do mercado”. Até mesmo o sucesso de uma obra artística tende a ser medido pelo lucro que ela proporcionou! Isso está presente tanto nas listas que tratam por melhores filme do ano aqueles com maior bilheteria, quanto na indústria do jabá radiofônico, na qual as músicas primeiro são pagas para serem as mais tocadas nas rádios e depois se tornam "magicamente" presentes no assovio de qualquer ouvinte. Quantas vezes já não vimos repetidas essas velhas práticas?

Tudo isso se dá porque vivemos em uma sociedade em que nós trabalhadores não controlamos os meios necessários para garantir as nossas próprias vidas. Nas sociedades capitalistas, cada indivíduo depende de comprar no “mercado” todas as suas necessidades: sua comida, suas roupas, sua moradia, seu deslocamento, só podendo satisfazê-las se puder pagar. A quantidade de fome que você tem simplesmente não é levada em conta pelo dono do supermercado, assim como a enorme "fome cultural” que você tem não comove nem um pouco o proprietário da casa de shows – ou mesmo que o comova, isso não o levará a distribuir bilhetes! Isso gera certas situações que seriam inaceitáveis se não estivéssemos tão acostumados com elas, e os exemplos são incontáveis – basta refletir meio segundo na porta de um supermercado qualquer, e verificar, na calçada, à porta de sua entrada, quantas vezes não estavam ali pessoas em situação de rua pedindo ajuda.

No mercado de arte, vão se formando campos autorizados a dizer o que é e o que não é bom ou válido. A arte, para ser reconhecida como arte, precisa do consentimento dos produtores, dos curadores, dos comissários de exposição, dos conservadores de arte, das gravadoras, das estações de rádio, dos grandes chefs de cozinha, das editoras etc. Neste contexto, a arte dos pobres, dos negros e dos indígenas é diminuída pelos que detêm “o poder da palavra” ao status inferior de “artesanato”. Essa oposição entre artesanato e arte expressa todo o desprezo dos mandarins da cultura mercantilizada pelo trabalho manual e pela cultura popular. A arte parece estar ao acesso de todos, mas o que está ao alcance é somente o seu consumo para quem puder pagar! E quanto à criação, essa fica só pros artistas “eleitos” pelo mercado em um de seus diversos nichos (inclusive o mercado acadêmico, considerando que a universidade se torna cada vez mais mercantilizada), deixando à margem inúmeros músicos, compositores, arranjadores, poetas, pintores, atores, diretores, num autêntico desperdício de capacidades criativas-sociais que este modelo simplesmente é incapaz de aproveitar.

É no contexto da competição entre os próprios artistas, uns contra os outros, por um lugar no rol daqueles “eleitos”, que surge a imagem falsa do “gênio”. Este seria o ser “melhor do que os outros”, que tem “mais talento” individual e por isso “merece aparecer”, sendo celebrado do mesmo modo na dança, na música, na culinária ou no futebol. Ok, entendido, mas... o que seria de um bom ator se ele atuasse sempre sozinho?! Não é questão de negar as aptidões individuais. Sim, elas existem, mas são muito mal aproveitadas numa sociedade em que todos os criadores (o que é exatamente o mesmo que dizer todos os trabalhadores, quer manuais quer intelectuais) são postos em eterna competição uns contra os outros por um lugar no mercado. Nesta sociedade, o egocentrismo radical vai ocupando o lugar da camaradagem, a pretensa autoria individual ocupa o lugar da criação coletiva, e com isso a imensa maioria da população, inclusive dos artistas, perde – enquanto alguns poucos grandes “produtores”, na verdade proprietários ou acionistas de grandes empresas culturais, extraem seus lucros milionários e mantêm o tal do mercado de arte azeitado e operando.

As jornadas de junho de 2013 trouxeram à tona certa insatisfação social, com milhares de pessoas indo às ruas reivindicar o atendimento de suas necessidades. Este novo contexto não deixou de influenciar o mundo da cultura e da arte. O carnaval de 2014 foi marcado por blocos, marchinhas e sambas politizados e de protesto, as manifestações se tornaram tema de diversos filmes documentários, peças de teatro ou poesias e as fotografias dos manifestantes e da repressão policial rodaram o mundo. Essa tomada de consciência pode ser um bom começo de um questionamento geral, mas, para impedir que essa saudável energia questionadora se disperse, vimos a necessidade de começar pra já a construir uma alternativa. Uma alternativa ao poder político que nos apresenta um jogo de cartas marcadas e nos manda sair das ruas (com a “ajuda” da polícia) e votar em algum dos candidatos dos grandes partidos que representam sempre os mesmos interesses. Uma alternativa aos governos que nos pedem para aguardar passivamente que eles apresentem a “solução” para nossos problemas. Uma alternativa, enfim, a toda uma forma de organização social capitalista que exige que os trabalhadores empreguem o melhor de suas energias vitais na produção de mercadorias para depois descansar consumindo passivamente sem protestar. Isso quando lhes é dado descansar...

Uma primeira alternativa seria lutar por uma mudança da política cultural do Estado que rompesse com os seus atuais marcos mercadológicos, cujos principais exemplos são a Lei Rouanet (dinheiro público de renúncia fiscal que é gerenciado por empresas privadas) e o estímulo ao empreendedorismo dos trabalhadores da arte (estimulando-os a fazer projetos para captar recursos no mercado), e investisse em um amplo aparato público e gratuito de formação, produção e distribuição de arte. Mas pensamos que é necessário ir além e criar organizações culturais e artísticas próprias dos trabalhadores. Já existem diversas e o Bloco Comuna Que Pariu! é um bom exemplo de um grupo que produz uma arte anticapitalista por fora da indústria cultural. Mas o trabalho de grupos isolados, por melhor que seja, tende a não ter muita repercussão em uma sociedade na qual a circulação de informações e da arte é dominada pelos grandes monopólios empresariais.

Por isso, propomos a formação de uma frente anticapitalista que afirme que a arte não deve ser mercadoria, mas expressar necessidades coletivas e apontar para a necessidade de criação de relações sociais que garantam a vida. Como primeiro passo nesta direção estamos formando um Comitê de Cultura pelo Poder Popular para discutir e produzir arte e cultura por fora da lógica da mercadoria, buscando construir uma alternativa cultural própria dos trabalhadores que seja capaz de enfrentar a indústria cultural e caminhar no sentido da socialização da produção cultural e artística. Venha organizar conosco este Comitê!

Proposta inicial de eixos programáticos para a atuação do Comitê:

1º Participar das lutas gerais da classe trabalhadora, inclusive colocando nossa arte ao seu serviço;

2º Garantir e avançar os direitos dos trabalhadores da arte e da cultura;

3º Desmercantilizar a produção e o acesso à arte e a cultura;

4º Construir uma alternativa cultural dos trabalhadores que seja capaz de enfrentar a indústria cultural (o poder popular na cultura);

5º Articular uma frente artística anticapitalista que aponte para a necessidade de criação de relações sociais que garantam a vida;

6º Apoiar e aprender com outras experiências culturais e artísticas da classe trabalhadora, nacionais e internacionais;

7º Venha sugerir e debater conosco!

terça-feira, 16 de setembro de 2014

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Fallece cantautor revolucionario colombiano Alejandro Gómez Roa

Fallecido la víspera de un infarto, a los 79 años, en su casa de Tunja, en el central departamento de Boyacá, su historia está ligada de modo entrañable a Cuba, con la que mantuvo una cercanía y lealtad a toda prueba desde el triunfo mismo de la Revolución, informa Prensa Latina.
En los primeros años de 1960 Cuba sí, yanquis no, anticipaba la lucha que la Isla estaría enfrentando con las administraciones norteamericanas.
La canción conmocionó a millares de personas en todo el mundo y ante miles de asistentes al estadio Latinoamericano del Cerro, entonó la que se convertiría en canción de combate. Años después recibió la Medalla de la Amistad del Consejo de Estado.

El 26 de julio de 1960, en el homenaje que le rindiera el movimiento de solidaridad colombiano a la trascendental fecha en la historia de la Revolución cubana, Cuba sí, yanquis no, vibró.
Entre las composiciones de Gómez Roa se encuentran , La solitaria estrella (Que viva Cuba, la bella); Resiste, Chile, resiste; Nicaragua vencerá; Canto a Palestina y Al pueblo de Farabundo, entre otras.
Abogado de profesión, Alejandro Gómez Roa trabajó además por los presos políticos de su país. Su partida deja recuerdos y sentimientos imborrables. El líder cubano Fidel Castro le diría en 2001: Alejandro, tu eres un profeta. Alejandró continuará siendo símbolo lucha y consagración a las causas liberadoras de América Latina y el resto del mundo.
"Siempre lo recordaremos como el buen Revolucionario, Amigo, Esposo y Padre que fue"
Así lo expresó en un mensaje de condolencia el embajador cubano en Colombia, Iván Mora.
"Alejandro fue miembro activo del Movimiento de Solidaridad con Cuba, desde sus inicios, y allí continuó realizando su labor incansable de fortalecimiento de las relaciones entre ambas naciones y dando a conocer, en todo espacio posible, la realidad de la isla socialista", señala Mora.
En el mensaje enviado a sus familiares y amigos, el diplomático resaltó la trascendencia de una canción "que dio a conocer al mundo la nobleza de la Revolución cubana y el apoyo de su pueblo, y a su vez condenó la hostilidad permanente del gobierno norteamericano".
Para él, nuestro agradecimiento eterno, concluyó.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Poesia de T. Almeida

Nas palafitas do recife, 
No sertão sem mundo 
entre casas de pau-a-pique 
e sonhos secos. 
Noticias de muito longe, 
chegam a galope, 
rasgando o véu daquela quarta feira qualquer. 
O coroné morreu, o coroné morreu, o coroné morreu 
Queria ser grande, dizia uns 
Voar alto, falava-se pelas ruas do sul 
O coroné morreu, 
O coroné morreu, 
O coroné morreu, 
Entre becos e vielas, 
nas masmorras do abandono, 
onde coroné não era mais que um nome. 
O que era tido por gentalha 
não mais se amedrontou. 
Queremos comer. 
Queremos comer, 
queremos comer. 
E naquela noite, 
e pela madrugada a dentro, 
servido sem mesa, 
comido com as mãos... 
Todos queriam um pedaço. 
Todos querem provar churrasco, 
carne queimada do garçom da burguesia.

T.Almeida

terça-feira, 5 de agosto de 2014

MEUS OLHOS SÃO PEQUENOS PARA VER


Meus olhos são pequenos para ver
Os dedos torcidos e as mãos espalmadas
Da criança palestina que se erguem
Em busca de proteção

Meus olhos são pequenos para ver
A lágrima ácida da mãe que se afoga
Em soluços mudos, arrasada
Com seu filho- invúlocro nos braços

Meus olhos são pequenos para ver
O Ipod do soldado sionista
Que toca sem parar a mesma canção
Tiro após tiro, morte após morte

Meus olhos são pequenos para ver
A língua do porta-voz eugenista
Que brilha sombria
Coberta de mentiras

Meus olhos são pequenos para ver
Os pequenos sapatinhos
Que nunca mais irão calçar ninguém
Pequenas lápides de borracha e couro


Daniel Oliveira
Dedicado a CDA
Agosto/2014


sexta-feira, 1 de agosto de 2014

PODER POPULAR: CANÇÃO AO PODER POPULAR


Como pode ser um novo dia
Se a vida outra vez judia
Sou o grito de uma voz calada
Sou história que já foi contada
Eu queria sonhar mais prazer
Quem sou eu para poder querer?
Eu queria poder viver
Eu queria poder querer

A gente pode poder querer
É só a gente se entender
O povo forte é povo unido
Pelo povo no poder
A gente pode poder criar
É só a gente se juntar
O povo forte é povo unido
Pelo Poder Popular
Diz aí como é que pode
Me matar de trabalhar
Meu suor é só moeda
Pro patrão poder gastar
Tô cansado disso tudo
Tô cansado de sofrer
Eu quero que tudo melhore
E chegue o dia que eu possa querer
REFRÃO
Mas um dia, vai chegar o dia
Que a gente vai criar coragem
Que a gente vai sentir vontade
Que o sonho acorde pra realidade
Pra gozar felicidade
Sem tempo e sem medo pra amar
Crer que juntos nós podemos ser
Bem mais que um ser
A gente pode querer
REFRÃO
Vem professor,
Vem diarista e bancário
Junto com rodoviário
Petroleiro e agricultor
Garis, pedreiros,
Artistas e operários
Junto com os metroviários
Tudo que é trabalhador!
Rua ocupada
Todo mundo lado a lado,
Tudo junto e misturado
Juntos não tememos nada!
Tem coerência?
Um ser viver na penitência?
Vou fazer chegar o dia
Em que os trabalhadores
Vão perder a paciência
REFRÃO
Aperta 2
Aperta 1
Confirma 21

Compositores: Bil-Rait “Buchecha”, Rafa Moraes, André Vieira, Alexandre Magno e Mauro Iasi

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Luta ou fuga? (Aos companheiros das jornadas de junho)

O cérebro humano primitivo
espreita, escuta, pressente:
o ruído, o silêncio, o perigo.
Tensão, pupilas, pulmão.
Atenção…
Adrenalina, músculos, ação… ou não:
mordida, ferida, contusão.
Lutar ou fugir?
Eis a questão!
Hamlet com uma caveira na mão
sobre a cova de um causídico
indaga ser justa ou delírio,
a raiva que move sua mão.
Fugir ou lutar?
Ousar ou fingir.
Outra face… perdoar?
Sonhar, voltar a dormir?
Viver, acordar!
Para a rua… protestar!
Fogueiras, vinagre, bandeiras,
negras ou vermelhas,
Nenhum passo atrás!
Lutar!

Mauro Iasi
Rio de Janeiro, agosto de 2013


terça-feira, 10 de junho de 2014

Pergunta ao burguês


Ei, burguês?
Tá vendo aquela menininha?
Aquela lá da esquina,
Aquela que cata latinha?


Tá vendo aquele menininho?
Aquele que empina pipa,
Que cata lixo,
Que come lixo.


Ei, burguês?
Tá vendo a criancinha,
Querendo ser alguém,
E ouvindo a ditadura,
Ditadura da meritocracia?


Meritocracia é fácil,
É simples.
Acontece que a vida
Para chegar a ela
Não é fácil,
Não é simples.


Burguês,
Enquanto você sonha em virar doutor,
Uma outra mãe,
Que não é a sua,
Sonha em ter um filho comum,
Um filho que vai trabalhar na tua clínica.


Burguês,
Esta noite, você vai dormir.
Vai ter um beijo de boa noite,
E aquela menininha,
Que catava latinha,
Vai ter um beijo da noite,
A luz do luar,
Sem frio, sem casa,
Na escuridão.


Ela nasceu pobre,
E você nasceu rico.
O que você come,
Ela não comerá.


Se ela morrer amanhã,
A culpa é tua.
Ninguém vai passar ela na televisão,
E você não vai saber,
Porque terá
Afazeres mais importantes,
Como xingar o poeta desta poesia.


Xingue a vontade,
Burguês.
O lixo que tu escreves,
É arte para quem trabalha.


Romes Sousa


segunda-feira, 9 de junho de 2014

VIVA OS 116 ANOS DE FEDERICO GARCIA LORCA

FOLHETIM 497 - AGOSTO DE 1986

PARA ACESSAR, CLIQUE NO LINK

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terça-feira, 27 de maio de 2014

O que falta para a gente se organizar?

É a hora, é agora..
É apelo, é unido..
É urgente.. é preciso..
Criar o poder popular!

Tocam exército e polícia militar
as canções da ordem burguesa
Longe dos ricos condomínios
Atuam como grupos de extermínio

Porque“país rico é país sem pobreza”
Escondem rápido a sujeira que restar
Clínica, cela, delegacia, corró..

Guerra declarada, morte, pancada,
É só pobre sofrendo nas mãos
Desses cães viciados em pó

É a hora, é agora..
É apelo, é unido..
É urgente.. é preciso..
Criar o poder popular!

Existe mais guerra na paz do pobre
Do que se pode imaginar gritar
Segura a mão do senhor torturador
Esse corpo tão calejado de dor
Não suporta mais apanhar

É a hora, é agora..
É apelo, é unido..
É urgente.. é preciso..
Criar o poder popular!

Os anos trouxeram-nos coragem
em doses amargas... malandragem
Tudo pode ser pior do que é
para quem é pobre e anda a pé

Barraco de aluguel
Condução lotada
O silêncio da noite
interrompido
pela criança baleada

É a hora,é agora..
É apelo, é unido..
É urgente.. é preciso..
Criar o poder popular!

O silêncio é mortal
Para aqueles que temem a mira,
Mas a mãe noite marginal
Deita seu imenso corpo
sobre o corpo da cria
Grito ao infinito grito
Solto, solitário,
Choro incendiário

É a hora, é agora..
É apelo, é unido..
É urgente.. é preciso..
Criar o poder popular!

Aqui, todo bandido é organizado e armado
defendem a propriedade com corpo baleado
Trabalhador pobre sem partido, sem vintém
Não ousa conspirar, grita por paz
E pede para os iguais se desarmar... Amém
Sem legítima defesa,teme pelo que não tem
O que falta para a gente se organizar?

É a hora, é agora..
É apelo, é unido..
É urgente.. é preciso..
Criar o poder popular!

Lopes Camarada

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Rap de las FARC-EP con grupo "Cuentas Claras" - Pueblo Colombiano: ¡Pa´la mesa!









Los guerrilleros y guerrilleras de las FARC-EP presentamos este trabajo audiovisual llamado "Pueblo colombiano pa'la mesa".

En este video, hemos tratado de reflejar la difícil situación que vive el campesinado colombiano, del que muchos de nuestros integrantes formaban parte antes de ingresar en las filas de las FARC-EP. Historias como la del comandante guerrillero Miguel Pascuas, protagonista de este video, hay miles.

Nuestros campesinos son perseguidos, estigmatizados, desplazados; sus tierras fumigadas. Y cuando deciden ingresar en la guerrilla, porque el Estado no les ofrece otra opción de vida, son criminalizados y se ofrece una recompensa por sus cabezas.

Sus historias y sufrimientos también hacen parte de la verdad histórica sobre el grave conflicto social y armado que vive nuestro país. Sus razones de luchar, individuales inicialmente pero luego multiplicadas y colectivizadas, son las mismas causas que han originado este conflicto. Tristemente, la realidad de la Colombia siglo XXI desmiente el mito inculcado de que las causas objetivas que quizás hayan existido al inicio ya no existen. Es que abundan. Se reflejan en la ignorancia, en el hambre y en la exclusión.

Miguel Pascuas hizo parte del grupo de 48 recios campesinos que fundaron las FARC-EP, en Marquetalia, Sur del Tolima (Colombia). Junto con Manuel Marulanda Vélez, Jacobo Prías Alape, Jacobo Arenas y otros valientes compañeros, resistieron un gigantesco operativo militar de 16.000 soldados, dirigido desde el Pentágono.

Así se fueron organizando, primero como autodefensa, y luego como movimiento guerrillero con un proyecto estratégico para la toma del poder para el pueblo, por la vía política de las alianzas o por la vía militar... Leer más: http://pazfarc-ep.org/index.php/artic...

Escucha en mp3 y descarga: https://soundcloud.com/rap-cuentas-cl...
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sexta-feira, 9 de maio de 2014

"Com o russo em Berlim"

O Brasil é o único país da América do Sul que participou da Segunda Guerra Mundial. A Força Expedicionária Brasileira, a FEB, lutava na Itália. O slogan “A cobra está fumando” foi adotado pela FEB em alusão ao que se dizia na época que era “mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra”. Então, a cobra fumou. A FEB conseguiu vitórias importantes, tomando cidades e regiões estratégicas, como o Monte Castelo, Turim, Montese e outras. Mais de 14 mil alemães renderam-se aos brasileiros.

Caros amigos! Hoje é uma data muito especial para todos os russos, para todos os povos do mundo. É o dia da vitória sobre o nazismo, ou, como dizemos na Rússia: “o dia da alegria com lágrimas nos olhos”.
Lágrimas causadas pela dor de enormes e insubstituíveis perdas da URSS naquela Guerra. Mas graças aos heróicos esforços do povo inteiro a vitória foi alcançada. O grande poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade dedicou um dos seus belíssimos poemas à derrota dos nazistas, à vitória da vida sobre a morte, à vitória em que o papel dos soldados soviéticos é sem par. Eis, o seu maravilhoso poema:
Esperei (tanta espera), mas agora,
nem cansaço nem dor. Estou tranquilo,
Um dia chegarei, ponta de lança,
com o russo em Berlim.
O tempo que esperei não foi em vão.
Na rua, no telhado. Espera em casa.
No curral; na oficina: um dia entrar
com o russo em Berlim.
Minha boca fechada se crispava.
Ai tempo de ódio e mãos descompassadas.
Como lutar, sem armas, penetrando
com o russo em Berlim?
Só palavras a dar, só pensamentos
ou nem isso: calados num café,
graves, lendo o jornal. Oh, tão melhor
com o russo em Berlim.
Pois também a palavra era proibida.
As bocas não diziam. Só os olhos
no retrato, no mapa. Só os olhos
com o russo em Berlim.
Eu esperei com esperança fria,
calei meu sentimento e ele ressurge
pisado de cavalos e de rádios
com o russo em Berlim.
Eu esperei na China e em todo canto,
em Paris, em Tobruc e nas Ardenas
para chegar, de um ponto em Stalingrado,
com o russo em Berlim.
Cidades que perdi, horas queimando
na pele e na visão: meus homens mortos,
colheita devastada, que ressurge
com o russo em Berlim.
O campo, o campo, sobretudo o campo
espalhado no mundo: prisioneiros
entre cordas e moscas; desfazendo-se
com o russo em Berlim.
Nas camadas marítimas, os peixes
me devorando; e a carga se perdendo,
a carga mais preciosa: para entrar
com o russo em Berlim.
Essa batalha no ar, que me traspassa
(mas estou no cinema,e tão pequeno
e volto triste à casa; por que não
com o russo em Berlim?).
Muitos de mim saíram pelo mar.
Em mim o que é melhor está lutando.
Possa também chegar, recompensado,
com o russo em Berlim.
Mas que não pare aí. Não chega o termo.
Um vento varre o mundo, varre a vida.
Este vento que passa, irretratável,
com o russo em Berlim.
Olha a esperança à frente dos exércitos,
olha a certeza. Nunca assim tão forte.
Nós que tanto esperamos, nós a temos
com o russo em Berlim.
Uma cidade existe poderosa
a conquistar. E não cairá tão cedo.
Colar de chamas forma-se a enlaçá-la,
com o russo em Berlim.
Uma cidade atroz, ventre metálico
pernas de escravos, boca de negócio,
ajuntamento estúpido, já treme
com o russo em Berlim.
Esta cidade oculta em mil cidades,
trabalhadores do mundo, reuni-vos
para esmagá-la, vós que penetrais
com o russo em Berlim.
Este poema de Carlos Drummond de Andrade entrou no livro A Rosa do Povo que contém vários poemas sobre “acontecimentos” da Segunda Guerra Mundial.
A guerra mobilizou poetas em todo mundo e virou música.
Fora do Brasil, o poeta britânico Wystan Hugh Auden ainda em 1º de setembro de 1939 reagiu à invasão da Polônia pelos nazistas. O chileno Pablo Neruda criou o Novo Canto de Amor a Stalingrado.
Na Rússia conhecemos sentenas de excelentes poetas cujas poesias foram dedicadas a longos anos de sofrimentos na Guerra: são poesias heróicas, patrióticas, líricas. E não há de admirar, pois a Guerra foi vencida com esforços, sofrimentos e perdas de todo o povo sociético que perdeu naquela guerra 27 milhões dos seus filhos.
O Brasil é o único país da América do Sul que participou da Segunda Guerra Mundial. A Força Expedicionária Brasileira, a FEB, lutava na Itália. O slogan “A cobra está fumando” foi adotado pela FEB em alusão ao que se dizia na época que era “mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra”. Então, a cobra fumou. A FEB conseguiu vitórias importantes, tomando cidades e regiões estratégicas, como o Monte Castelo, Turim, Montese e outras. Mais de 14 mil alemães renderam-se aos brasileiros.
O poeta Guilherme de Almeida é o autor da letra da famosa Canção do Expedicionário, que se tornou o hino da FEB. Felicitamos a todos com a festa da Grande Vitória e nesta ocasião apresentamos um fragmento do hino da FEB em homenagem a os vencedores na Segunda Guerra Mundial!

Leia mais e ouça a poesia: http://portuguese.ruvr.ru/radio_broadcast/77226473/112761513/

terça-feira, 29 de abril de 2014

Poemanifesto denuncia impactos da mineração em Minas Gerais

Congonhas,
que já foi do campo,
que hoje são campos onde não nascem mais congonhas,
são campos de terras de gente sem chão,
de águas que correm por baixo das terras,
de águas que lavam o minério,
mas deixam a alma e a vida suja
do lixo que corre solto
por debaixo dos tapetes

As águas de Congonhas correm do fundo da terra
pra superfície do rejeito.
Rejeito de povo
Rejeito de gente
Rejeito de cultura
Rejeito de esperança

Congonhas do mundo
que consome minério
e junto com ele os mineiros,
e os não mineiros,
forasteiros,
vindos do Brasil profundo
e rejeitados na superfície das coisas vãs,
na superfície ordinária da razão econômica,
na superfície canalha da desrazão política,
na indignação mais profunda
do rejeito da dignidade humana

O mesmo minério,
que na alquimia da produção
vira dinheiro,
vira salário,
vira exploração
(do trabalho e dos recursos),
e vira lucro
e que nunca vira imposto –
se vira, some na nuvem de fumaça da política dos seus políticos –,
é usado todos os dias
pra cimentar a boca de quem tem voz
e não deixar sair o grito,
e sufocar a vergonha de cada dia
que fermenta o pão que o diabo amassou
e vende receita de bolo com cobertura doce
que esconde o amargo que pode azedar a saliva

É preciso falar
É preciso deixar às claras
É preciso não poupar ninguém

Porque não é assim que eu te sonho, Congonhas!
Porque eu não quero ficar aqui com as unhas sujas desse mesmo minério venenoso!
Mas também não quero sair daqui
Eu quero ficar aqui
e aqui te sonhar,
e aqui acariciar suas montanhas
com o meu olhar de poeta,
e abraçar os seus profetas
como se fossem meus amigos queridos,
e abraçá-los como se eu abraçasse a cada um que aqui deixou de sonhar
e ensinasse a eles duas ou três lições sobre como mudar o mundo

Eu quero ficar aqui
e aqui poder deitar nas suas águas
sem ter que remover a crosta marrom do seu minério sobre a minha pele

Eu quero ficar aqui
e aqui poder respirar fundo
sem ter que escarrar o pó do seu minério que entra no meu pulmão

Te quero linda, Congonhas!
Muito mais que mais bonita...
Te quero livre!
Te quero lírica!
Te quero voltando a sonhar
um sonho que se sonha junto

Dica:
Em 2013, a Mídia Ninja produziu o documentário "Enquanto o Trem não Passa", um debate sobre o setor da mineração no Brasil, atividade econômica que cresceu 550% nos últimos  10 anos. O documentário mostra a faceta daqueles que são diretamente atingidos e busca chamar a atenção da sociedade para sobre os impactos e atentar-se para o Novo Código da Mineração que poderá ser votado em breve no Congresso Nacional. Movimentos sociais e ambientalistas dizem que a proposta do Governo não traz salvaguardas sócio-ambientais, garantias ao meio ambiente e nem segurança aos quilombolas e povos indígenas.


por Julio Satyro

segunda-feira, 28 de abril de 2014

José Fanha: Eu sou português aqui


 
 
 
 
 
 
 
 
Eu sou português
aqui
em terra e fome talhado
feito de barro e carvão
rasgado pelo vento norte
amante certo da morte
no silêncio da agressão.

Eu sou português
aqui
mas nascido deste lado
do
lado de cá da vida
do lado do sofrimento
da miséria repetida
do pé descalço
do vento.

Nasci
deste lado da cidade
nesta margem
no meio da tempestade
durante o reino do medo.
Sempre a apostar na viagem
quando os frutos amargavam
e o luar sabia a azedo.

Eu sou português
aqui
no teatro mentiroso
mas afinal verdadeiro
na finta fácil
no gozo
no sorriso doloroso
no gingar dum marinheiro.

Nasci
deste lado da ternura
do coração esfarrapado
eu sou filho da aventura
da anedota
do acaso
campeão do improviso,
trago as mão sujas do sangue
que empapa a terra que piso.

Eu sou português
aqui
na brilhantina em que embrulho,
do alto da minha esquina
a conversa e a borrasca
eu sou filho do sarilho
do gesto desmesurado
nos cordéis do desenrasca.

Nasci
aqui
no mês de Abril
quando esqueci toda a saudade
e comecei a inventar
em cada gesto
a liberdade.

Nasci
aqui
ao pé do mar
duma garganta magoada no cantar.
Eu sou a festa
inacabada
quase ausente
eu sou a briga
a luta antiga
renovada
ainda urgente.

Eu sou português
aqui
o português sem mestre
mas com jeito.
Eu sou português
aqui
e trago o mês de Abril
a voar
dentro do peito.


In Obras de José Fanha