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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

CONCURSO HQ PARTIDÃO


imagemCrédito: Dario Silva (PCB/SC)


CONCURSO HISTÓRIA EM QUADRINHOS DO PCB
O PCB (Partido Comunista Brasileiro), por motivo de seus 90 anos de fundação a serem comemorados em 2012, editará uma História em Quadrinhos que contará, em dois volumes, a trajetória histórica do Partidão desde os primórdios de sua fundação até os dias de hoje.

Para tanto, estamos selecionando desenhistas para participarem do projeto.

Fazemos, assim, um chamado aos militantes, simpatizantes e amigos ilustradores do PCBpara que enviem amostras de suas artes.

Atenção: trata-se de um trabalho voluntário, militante, daqueles camaradas que ou fazem parte dos nossos quadros partidários ou que, mesmo não fazendo parte do nosso Partido, queiram contribuir para divulgar a rica história de lutas do PCB em nosso país, através de um meio de propaganda que contém uma linguagem de grande aceitação junto à juventude, principalmente. Portanto, o trabalho não será remunerado, mas, repetindo, voluntário, seguindo atradição revolucionária dos comunistas, de assumirem tarefas e compromissos políticos em prol das causas populares e pela afirmação dos nossos ideais. 

O e-mail para o envio dos trabalhos é  daniludens@yahoo.com.br Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. aos cuidados de Daniel Oliveira.

Não fique de fora deste momento histórico!
PARTICIPE!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Resist(ente) - Poesia de Renato Queiroz Alves


Organizados e armados
Preparados para matar e morrer
Assustados, indignados, violentados
Revoltados e preparados
Preparados para matar e morrer
Ocupar e resistir
É o que dizem para existir
Na verdade sempre existem
E ocupar e resistir
É – em essência – existir
Seja em Gaza, Bagdá, Trípoli ou Tegucigalpa
Em Wall street, Lisboa, Madri, Londres, Atenas
É no Pinheirinho que eu vou existir
É no Pinheirinho que devo existir
E mesmo que vier o frio
Existiremos
Não devemos
Não podemos
Deixar de existir
O capitão do mato moderno lambe botas e apreça o gosto das solas
E agride a si mesmo loucamente
Ele se aproxima dos Canudos e Palmares e
O Pinheirinho existe, ocupa, resiste
Deve existir
Vai existir

Renato Queiroz Alves
PCB/Guarulhos

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Líbia Verde - Poesia de Renato Queiroz Alves


O grito uníssono se propaga(nda) de forma múltipla
A reprodução múltipla do mascaramento do massacre
A grande rata precisa reproduzir sua existência
A ratazana de dentro se confunde com a ratazana de fora

Os papeis se invertem
Quem devia estar no esgoto
Sai por aí a matar e agredir

As ratazanas foram alimentadas
Com lixo e podridão
Glutonas ratazanas
Se tornaram reflexo apodrecido do que consomem
São lixo e podridão
Mas cresceram ao serem alimentadas
Com o lixo e a podridão que sai das tetas da ratona

Cresceram e se multiplicaram
E tomaram a casa
E mataram os donos
E chutaram o cachorro
E levaram embora o suprimento

Como se fossem presentes, regalos
Lindos presentes para a ratona
Pra ratona se fartar
Pra ratona se alimentar

Devorar a seiva criativa do ser
Eliminar o ser
Te se(r)parar do ser

E assim a ratona fica forte
Pra produzir em suas entranhas
O lixo e a podridão que sai das tetas da ratona
E alimentar as ratazanas de dentro
Que já são de fora também

E todo mundo gosta disso, enquanto vomita. 

Renato Queiroz Alves 
PCB/Guarulhos 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Cantores venezuelanos se pronunciam pela liberdade de Julián Conrado


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Pela Coordenadoria "QUE NO CALLE EL CANTOR" / FUNDALATIN

Segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012 19:31

«Parte dessa herança é Julián Conrado», nos disse Sol Musset. Lilia Vera: «...Acreditamos no asilo, sobretudo porque o que ocorreu com Juliám Conrado é uma violação de seus direitos humanos. Nós cantores abraçamos a luta deste companheiro...»

Cantores venezuelanos se pronunciam pela liberdade de Julián Conrado

"... a vida é muito perigosa. Não pelas pessoas que fazem o mal, mas pelas que se sentam e assistem ao que acontece..."
Albert Einstein

“Se não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir”
Dos Indignados em Barcelona.
Recopilado por Eduardo Galeano

Pela Coordenadoria “QUE NO CALLE EL CANTOR” / FUNDALATIN

De maneira decidida, cantores venezuelanos se pronunciam pela liberdade de Julián Conrado, como digno representante do canto comprometido e continuador da obra de Alí Primera. «Parte dessa herança é Julián Conrado», nos disse Sol Musset. Lilia Vera: «...Acreditamos no asilo, sobretudo porque o que ocorreu com Julián Conrado é uma violação de seus direitos humanos. Nós cantores abraçamos a luta deste companheiro...» O aragüeño Agua Salá expressa sem nenhuma dúvida: «Como cantor peço... que se dê a liberdade a esse companheiro que pe a voz de muitos seres humanos». Alí Manaure:«Nós amamos a paz, porém, como defende o próprio Julián, não existirá paz se não houver justiça e nem amor...» Sandino Primera: «Julián representa a esperança...» Estas foram parte das declarações ditas por algumas das figuras do canto comprometido que se solidarizaram publicamente com a liberdade do cantor e compositor preso e em perigo de ser extraditado à Colômbia, somando suas vozes aos clamores do mundo todo que pedem a liberdade do artista e impedem o desenvolver das funestas intenções que justificam a entrega por «conveniência política»

As opiniões emitidas neste vídeo refletem claramente o grande significado político e ético embutido no caso para os setores revolucionários que apoiam a revolução bolivariana e o Presidente Chávez, na Venezuela e no mundo. Tal como propõe uma voz solidária anônima num e-mail, os que sustentam a tese da entrega, «estariam condenados a mais arrasadora condenação histórica» Ainda a respeito do assunto, uma frase d’O Libertador, recopilada pelo cantor Alí Manaure, que nos ajuda a refletir sobre a solidariedade com o companheiro preso: “Feliz é aquele que correndo por entre os escombros da guerra, da política e das desgraças públicas, preserva sua honra intacta e se apresenta inocente ao exigir de seus próprios companheiros de infortúnio uma reta decisão sobre sua inculpabilidade".

Vídeos:




Outros materiais para o “combate” e a reflexão:





Pela derrota do Plano Colômbia nas terras de Bolívar!

Pelo fechamento da porta ao Plano Colômbia nas pátrias libertárias!

Liberdade e Asilo JÁ para Julián Conrado, o Alí Primera colombiano!

Amando, venceremos!

"Alí Costas Manaure"  alicostas.manaure@gmail.com
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"Tamanaco De la Torre"  tdelatorre2021@gmail.com
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Tradução: Maria Fernanda M. Scelza (PCB)

domingo, 19 de fevereiro de 2012

A MORTE E O CARNAVAL

Enfim terminou o expediente da sexta. Todos estavam eufóricos. Aquilo o deixava perplexo. Sabia o por quê mas não conseguia dizer como. Era como nos tempos da primária, onde andavam em filas com as mãos dadas. E alguém soltava sua mão. E você deixa de fazer parte daquele organismo. Ele havia largado a mão da humanidade há tempos, e seguia taciturno e breve de riso...
Foi para casa. Bebeu sozinho. Ouviu música. Lembrou. Esqueceu. Adormeceu.
No sábado, já clamava aos céus o passamento ligeiro da praga foliã. Em vão.
O carnaval invadia seus sentidos com a sutileza de um tanque israelense em território palestino. Pensou em morrer. Ouviu batidas gentis na porta. Atendeu. Não esboçou reação. Era ela. Nem descontente, e muito menos satisfeito, cumpriu os ritus com uma lisura exemplar. Convidou-a entrar. Silenciosos, acabaram com o líquido da garrafa cristalina. Ela, meio sem graça pelos ossos do ofício, ofereceu-lhe um regalo. Ele assentiu, e gritou a plenos pulmões: Quero morrer ao som de um tango; e que se fodas o carnaval.
Mal sabia ele que no inferno a folia era igual.

Daniel Oliveira
19 de Fevereiro de 2012

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A greve do carnaval - Por Heitor Cesar Oliveira

Imagine um dia, talvez um sábado, ou mesmo uma segunda feira de carnaval. As ruas do Rio vazias. Nenhum bloco; nenhum cordão; nenhum baile; nenhum bêbado cantarolando alguma marchinha; nenhum casal brigando por ciúme; nenhum beijo despretensioso. Imaginem um carnaval que os foliões fizessem greve. Não fossem às ruas. Uma greve de carnaval.

As ruas ficariam desertas. Mais desertas que um início de madrugada de segunda feira. Os comerciantes, estes ficariam em pânicos: os donos dos bares ficariam loucos pensando na “fortuna” por eles gasta para encher seus estoques à espera de foliões e bêbados que não mais apareceriam. A polícia - essa coitada! – perderia grande parte de sua renda extra de extorsão dos foliões exagerados – presas fáceis desse tipo de investimento. Mas o que causaria isso? O que causaria uma greve de carnaval, unindo o folião, o bêbado, os comerciantes ambulantes, os diretores de blocos, os compositores de marchinhas, os sambistas com seus violões e pandeiros?

Esse quadro me foi desenhado por um sujeito que se dizia viajante do tempo, vindo de 2011, ano em que tal fato ocorrera. Eu o encontrara numa rua próxima a praça XV andando meio perdido em meio aos blocos com suas camisas cheias de patrocínio e com suas letras que não diziam muito mais do que um montante de vogais.

Ao ser perguntado sobre tal fato, ele responderia direto, com uma certeza nítida: — A velha e conhecida de todos nós, a ganância, a ânsia enlouquecida por lucro, a mercantilização das relações humanas e seus derivados.

O carnaval havia se voltado para o turismo, para os de fora. Tudo invertido na cidade, preparada para servir de vitrine para os gringos.

Nada contra. Mas se eles são turistas, que aprendam a conviver com as coisas como estão, e não as modifiquem para melhor atender seus desejos de “caricatura de povo”, de "carnaval", de "mulatas", de "malandro sambista". E a Ordem, essa velha inimiga do povo – essa amante de mentes pequenas e positivistas, que tem medo do povo –

impediu a brincadeira de ocorrer fora de seus padrões de “choques", intimidando o povo, acabando com os coretos e com a espontaneidade da brincadeira. Favorece – isso sim! – os donos de comércio e bares, que se fecharam nos seus salões com ar condicionado e com suas músicas ao vivo, com seus preços exagerados que afastam o folião autêntico, o brincalhão, o fanfarrão, o bêbado. Tudo fica perfeito para a “playboyzada” curtir com os cartões de créditos patrocinados pelos pais, os mesmos pais que assumiram a organização da festa, a nossa burra elite.

Foi assim, diante desse quadro que se organizou – ou melhor, que se desorganizou - a greve de sábado foi passando pelo domingo (recorde de presença das missas), pela segunda e, quase terminando na terça feira, foi entrando pela quarta. Logo quando todos achavam que a festa tinha ido para o buraco, quando todos consideravam o fim do carnaval carioca; a morte, tão decretada, do samba... Estourou a festa do povo!

Num passe de mágica, as ruas foram tomadas não para buscar os bares com seus donos falidos, mas para fazer a brincadeira de rua. Desfilar pela Avenida Rio Branco, pela Presidente Vargas, correndo, brincando, com bate-bola, mascarados, foliões, sambistas, diretores de blocos e claro, nosso amigo de sempre, o bêbado, com seu vasto repertório de sátiras, de marchinhas antigas e filosofias de botequim.

Foi o ano em que nenhum dinheiro caiu nos cofres da elite. Foi o ano do choque da desordem urbana, pois afinal quem quer manter essa ordem aí? Eu não...

Assim, meu amigo viajante do tempo entrou numa viela, dessas que tem um monte na cidade, e sumiu gritando: — Viva o povo trabalhador, brincalhão, alegre, folião e claro, combatente, valente e brigão, como deve mesmo ser.

Heitor Cesar Oliveira é historiador, militante da UJC e membro do bloco de carnaval "Comuna que Pariu!"

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Funk, Mulher, Alienação e Capitalismo


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(*) José Renato André Rodrigues

Hoje no Brasil se faz muita confusão sobre o que é funk, muitos ritmos surgem e desaparecem. A indústria cultural de acordo com o interesse do mercado muda nomes e fórmulas de determinadas manifestações artístico-culturais.
A origem do funk se deu nos Estados Unidos, assim com o blues, gospel, jazz e soul surgiram nas comunidades negras. A palavra funk vem do Inglês que quer dizer medo, embaraço pusilânime. James Brown é considerado um dos pais do funk; alguns críticos musicais consideram Michael Jackson e outros cantores negros estadunidenses como expressão deste gênero musical.
Entre nós o funk começa nos anos 1970 em plena ditadura civil-militar durante o movimento da Black Music. Alguns consideram Tim Maia, Jorge Benjor, Sandra de Sá, Gerson King kombo e outros. Dos precursores do ritmo em terras brasileiras dos anos 1970 ao atual ritmo considerado funk, muita coisa mudou da influência do Soul à batida de nossos dias cada vez mais o atual chamado funk demonstra não ter nada haver com a sua origem.
Entre o fim da ditadura civil-militar à volta da democracia burguesa durante os anos 1980 este ritmo musical não tinha ainda muita força e espaço nos grandes veículos de comunicação de massas. Vivia-se o auge do chamado rock Brasil, consolidava-se o rock brasileiro como expressão da juventude que resistiu à ditadura civil-militar e denunciava as injustiças e os anseios da jovem geração, onde rádios como a Fluminense FM 94,9 na cidade de Niterói, estado do Rio de Janeiro divulgavam, bandas como Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Pleber Rude, Garotos Podres, RPM, Ira, Ultraje a Rigor, Barão Vermelho e outras bandas eram expressão deste momento histórico da sociedade brasileira, e com o avanço do neoliberalismo na passagem dos anos 1980 para 1990 o rock começa a perder alguns espaços na mídia e passa a se restringir a um determinado público específico e se consolida como um nicho de mercado.
A partir do neoliberalismo, o período é marcado pelo pagode mauricinho, pelo breganejo criticado por Lulu Santos por conta do apoio a Collor nas eleições de 1989. Enquanto isso, o funk carioca se espalha pelas comunidades pobres de todo o Rio atingindo até as academias de ginástica da chamada classe média da zona sul do Rio.
As primeiras músicas falavam em amor, amizade e problemas sociais. Quem não se lembra da música do Silva, hoje este ritmo assim como o cenário da música brasileira apoiada pela grande mídia mudou para pior. Hoje este ritmo do chamado funk carioca, assim como outros gêneros musicais como a música baiana, passou a explorar a sexualidade e a pornografia, onde o sexo é visto não na forma de prazer responsável e libertário, e sim como objeto a ser consumido de forma irresponsável e vulgar onde o sexo é praticado na forma do salve-se quem puder, refletindo uma sociedade alienada nas letras, nos bailes, nas roupas das dançarinas e cantoras do funk, do axé etc. A situação, todos sabem: meninas grávidas precocemente e abandonadas e os meninos pais sem emprego, formação ou vítimas da violência urbana onde crianças crescem sem uma estrutura familiar com todas as possibilidades de reproduzir o eterno ciclo de alienação e miséria em que vegetam.
Hoje o atual funk carioca nada mais é do que alienação e fuga da realidade em que vive a maioria dos jovens das camadas mais pobres da nossa sociedade. Este tipo de música não tem nada de contestador, fazem apologia às drogas, ao papel submisso da mulher, aos grupos milicianos e dos grupos dos soldados do comércio varejista de drogas. Sem falso moralismo ou hipocrisia, este tipo de música não contribui em nada para elevar a consciência das massas exploradas pelo capital.
Estes ritmos são apoiados e incentivados até por lideranças políticas ligadas a burguesia para incentivar a vulgaridade das mulheres que através da exposição de seus corpos como mercadoria, sonhando como as dançarinas do funk acender socialmente, talvez casar ou engravidar de algum artista, jogador de futebol ou conseguir algum contrato para alguma revista masculina. Na prática, é muito difícil  isso ocorrer porque nem todas poderão ter as mesmas chances como ocorre na sociedade capitalista, nem todas vão poder dar o golpe do baú e se tornar marias chuteiras ou amantes de empresários, artistas e etc.
A grande maioria vai se tornar amante de policiais corruptos ou mulher de gerentes do comércio varejista de drogas, e gozar de um poder ilusório até quando a burguesia não precisar mais e estas mulheres vão amargar as prisões ou encontrar a morte.
Não existe uma política cultural voltada para os filhos das classes trabalhadoras, assistir um bom show de música é muito caro e alguns ritmos musicais antes considerados populares se elitizaram tornando-se inacessíveis às grandes massas, e o poder público por outro lado não procura criar condições para tornar acessível nem democratiza para as grandes massas bens culturais criados pela humanidade. Qual a saída para esses jovens? Ir às casas de shows baratas com seguranças autoritários em sua maioria policiais, ser vitima da violência, ir ao baile funk e lá saudar os Mc’s totalmente manipulados pelos soldadinhos do comércio varejista de drogas até porque o grande traficante não estará lá, mas mora nos bairros elegantes da burguesia; com isto causam a alienação nos nossos jovens tornando-os domesticados e adaptados ao status quo.
É preciso fazer uma distinção, popular não é popularesco ou lixo. Se fosse assim não teria surgido o chorinho, o samba, o maracatu, o bumba meu boi, o Blues, o jazz, o rock, o sertanejo e etc. São incontáveis os artistas populares como Cartola, Nelson Cavaquinho, Gonzaguinha, Luiz Gonzaga, Djavan, Jovelina Pérola Negra, Beatles, Elvis Presley, Black Sabbath, Chuck Berry, Jerry Lewis, The Who, Sex Pistols e tantos outros. Até um palavrão em uma música deve ter um sentido como faziam os Titãs, Legião Urbana, Ultraje a Rigor. Hoje o palavrão nas músicas do funk carioca não contesta nada, apenas contribui para a alienação.
É necessário resgatar a autêntica cultura popular ligada às massas trabalhadoras, cultura não só para entreter e sim levar à reflexão e conscientização da população através das artes. Devemos buscar uma cultura popular que promova a contra-hegemonia e que coloque as massas em movimento e aponte a necessidade histórica da revolução socialista como a única saída capaz de libertar a população e quebrar esse círculo vicioso em que vivem as massas exploradas pelo capital .

(*) José Renato André Rodrigues – Professor de Filosofia; membro do Comitê Central do PCB

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O dia em que Portinari não pisou em Nova York



Outras palavras - 09/02/2012

No cinquentenário de sua morte, vale (re)ler perfil de pintor que nunca renegou suas convicções políticas, e as atribuía a algo mais profundo que a razão

Por Marília Balbi | Imagem: estudos para Guerra Paz, de Cândido Portinari

Uma agenda extensa de comemorações marcará, em 2012, os 50 anos da morte de Cândido Portinari, que se completaram em 6 de fevereiro. Em São Paulo, o Memorial da América Latinaexibe, desde ontem, “Guerra” e “Paz” os murais mais famosos do pintor, cuja instalação permanente é a sede das Nações Unidas, em Nova York. Eles foram restaurados no ano passado, no Museu Gustavo Capanema, no Rio, em trabalhos abertos ao público. Outros eventos ocorrerão em diversas cidades do país.
Há uma bibliografia razoável sobre o pintor. Entre os livros não-esgotados, uma excelente opção é o breve — porém denso — perfil produzido pela jornalista Marília Balbi. Intitula-se “Portinari, o pintor do Brasil” e foi publicado em 2003 pela Editora Boitempo, uma parceira de “Outras Palavras”. Integra a coleção “Pauliceia”, dirigida por Emir Sader. Na semana do cinquentenário (até 12/2), está sendo vendido com desconto de 50% (por R$ 17,50). O trecho — curioso e revelador — que publicamos a seguir é seu capítulo inicial.
Portinari, o pintor do Brasil, de Marília Balbi.
Editora Boitempo, 2003. 176 páginas, R$ 17,50 até 12/2 (depois, preço normal: R$ 35). Pode ser comprado aqui
Aquela data era aguardada havia muitos anos por todo o mundo. Finalmente, no dia 6 de setembro de 1957, os gigantes painéis Guerra e Paz foram apresentados nas paredes do Hall dos Delegados da sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. A presença daquela obra monumental ali – na casa que deve zelar pelo bem-estar de todos os homens da Terra – era obviamente carregada de sentido. As expressões de dor e esperança pintadas nos dois painéis de 140 metros quadrados simbolizam, de um lado, o flagelo das guerras irracionais e, de outro, o regozijo da harmonia entre as nações. Dois lembretes para a eternidade.
Curiosamente, a cerimônia de inauguração do monumento à humanidade foi discreta, e poucos foram os convidados. Em especial, um esteve ausente: o autor dos dois painéis, Cândido Portinari.
Os tempos eram outros. Os Estados Unidos viviam o auge do macartismo, a doutrina de proteção americana contra ações supostamente subversivas, cujo expoente anti-comunista foi o senador Joseph McCarthy. Portinari, por sua vez, era um declarado comunista e fora candidato à Câmara Federal, em 1945, e ao Senado, em 1947, pelo “partidão”. Duas posturas inconciliáveis nos idos da Guerra Fria. Por isso, desde os anos 1940, Portinari vinha tendo sua entrada nos EUA negada.
Mas como manter aquela proibição no momento em que o artista brasileiro, reconhecido em todo o mundo, tinha sua gigantesca obra em defesa da paz afixada em caráter permanente na “casa de todas as nações”?
O mal-estar crescia. Esperava-se uma posição conciliatória do governo americano. Após a intervenção da diplomacia brasileira, encontrou-se uma solução: bastava que Portinari solicitasse o visto americano no Brasil e este lhe seria concedido. Isso não ocorreria. Homem de personalidade forte, Portinari queria um convite oficial de Washington para pisar em solo americano. Assim era o homem.
O episódio envolvendo Guerra e Paz foi apenas mais um constrangimento a que Cândido Portinari foi submetido durante a vida. Como diversos artistas, ele foi perseguido, cerceado, estigmatizado pelas posições de esquerda. A polícia política brasileira, por exemplo, acompanhou seus passos durante décadas. O Departamento Estadual de Ordem Política e Social – o famigerado Deops – acumulou notícias a seu respeito até mesmo depois de sua morte, em 1962.
Ele explicava a quem perguntasse por que se aproximara da política. A Vinícius de Moraes, confidenciou, em texto publicado postumamente, em março de 1962: “Não pretendo entender de política. Minhas convicções, que são fundas, cheguei a elas por força da minha infância pobre, de minha vida de trabalho e luta, e porque sou um artista. Tenho pena dos que sofrem, e gostaria de ajudar a remediar a injustiça social existente. Qualquer artista consciente sente o mesmo”.
Portinari pintou o povo sofrido, a miséria, o homem de enxada na mão, pés na terra – o trabalhador brasileiro. Pela primeira vez, um artista expressou a tragédia do Nordeste do Brasil assolado pela seca. Ou como sintetiza de maneira brilhante seu único filho, João Cândido, Portinari “fez do pincel sua arma para denunciar as injustiças e os valores sociais e humanos”.
O artista começou retratando sua aldeia. Depois, partiu para o universal. Das crianças brincando na terra roxa em sua natal Brodósqui às crianças dos painéis da ONU. Temas universais também estão presentes na mulher com o filho morto nos braços – a Pietà nordestina – e nos horrores da guerra. Visionário e esperançoso, pintou um judeu e um árabe de braços dados.
As imagens que ele criou são facilmente reconhecidas por todos. Muitas delas nem sequer saem de nossa memória. Assim que tentamos conceber a cena de um trabalhador, imediatamente nos vêm à mente seu estivador, seu lavrador de café, seu sorveteiro, seu operário, seu lenhador ou ainda o sapateiro de Brodósqui. O mesmo ocorre com os pobres e miseráveis: de pronto, suas favelas, seus morros e as figuras esquálidas da série Retirantes nos preenchem a visão.
Reconhecemos nessas obras nossa gente, nossas dores e nossa esperança – além das marcas inconfundíveis de um grande artista.

http://www.outraspalavras.net/2012/02/08/o-dia-em-que-portinari-nao-pisou-em-nova-york/

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

LUTO

Os trabalhadores em educação de MG estão em luto pela tragédia acontecida domingo. Aqui, deixo registrada a minha dor, minha indignação e minha esperança:

LUTO

A Edilene Maris, Gustavo e Luis Augusto
...

Luto pela dor da tragédia,
sempre anunciada,
na rodovia da morte,
pelo descaso das autoridades


Luto pela humana irracionalidade
da louca corrida, da alta velocidade


Luto pela fatalidade
do irmão ferido,
do filho morto,
do companheiro vencido

Luto pela vida das crianças,
dos nossos filhos da classe trabalhadora
pela sua docilidade

Luto pela vida dos que não conheci,
arrancada com brutalidade,
na qual me reconheci

Luto pela esperança,
para vê-la renascer no sofrimento
da luta por uma justa sociedade

Luto, e continuarei lutando
Com força e serenidade.
De luto. 
Daniela Versieux

http://daniela-versieux.blogspot.com/2012/02/luto.html

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Bloco Liberdade Ainda que Agora: Batuque pra Zumbi.


Pessoal. A pedido do Thiago Almeida, fiz este texto para tentarmos explicar sobre nosso bloco e, quem tiver contato e puder dar uma força para enviar para veículos de comunicação, fará um imenso favor.

Por favor sujos, divulguem!


Na primeira metade do século XX, Belo Horizonte era conhecido por suas alamedas cercadas por árvores, e suas avenidas largas, onde passavam durante o dia todo, seus trabalhadores.
Em tempos de carnaval, os espaços urbanos se enchiam de gente, querendo ver os desfiles da capital mineira. Era o Corso Carnavalesco que tomava as ruas da cidade. Corso Carnavalesco é um veículo motorizado ou de tração animal, que era enfeitado para desfilar a céu aberto em dias de folia.
Em Belo Horizonte, as pesquisas apontam que havia o Corso Motorizado, carros conversíveis, da marca Ford, cheio de flores que cortavam desde o cruzamento da Avenida Afonso Pena com a Avenida Brasil (Atual Praça Tiradentes) até a atual Praça da Rodoviária, onde antes se localizava o Prédio da Feira Permanente de Amostras. Desta maneira, se configurava a parcela elitizada do carnaval de Belo Horizonte.
O carnaval popular se concentrava nos bairros como Concórdia, Sagrada Família, entre outros, através das figuras de mestres pertencentes ao Congado Mineiro. Porém, também se formavam em grupos e partiam para o centro da cidade, em multidões de foliões, que eram denominadas “bloco sujo”. Bloco sujo, como o próprio nome já diz, é a camada humilde da sociedade que reivindicava seu espaço em pleno carnaval, com fantasias improvisadas e poucos tostões nos bolsos.
Essa tradição, de Carnaval de Rua, foi sendo substituída na década de 1960, pelo modelo que conhecemos de Escolas de Samba Isso ocorreu, pois, um grupo de sambistas belorizontinos, após terem residido alguns anos no Rio de Janeiro, se encantaram com esse novo modelo e implementaram na Capital Mineira.
Nos últimos anos, vários grupos de Belo Horizonte, resolveram levantar a História do Carnaval da cidade e formar novos blocos de rua, que de esquecidos pelo tempo e pelas políticas públicas, hoje se tornam, pelas mãos independentes, a grande atração da folia no mês de fevereiro. São blocos que saem de diversas regiões da cidade em direção a região central. Hoje existem blocos partindo do bairro Santo Antônio, Santa Tereza, Floresta, e vários outros. Porém, todos esses blocos fazem uma reconstrução histórica do que foi o carnaval das décadas de 1930 e 1940, mas não necessariamente levam o termo “sujo” em suas alegorias.
Neste ano de 2012, setores da esquerda brasileira e mineira, movimentos sociais e pessoas independentes, decidiram se unir para formar um bloco que chega com o objetivo de resgatar a denominação “sujo”, que se perdeu na história. O novo bloco, que recebeu o nome “Liberdade Ainda que Agora”, tem como objetivo, a ocupação do espaço urbano para folia popular, as minorias étnicas, estudantes de baixa renda, moradores de rua, e a enorme parcela da população que sofre preconceito dia após dia, e se estrutura como a base que conduz a sociedade através da força de trabalho. O bloco, ainda leva em sua bandeira, a crítica à ideia de que no carnaval não existe diferenças sociais, e como o próprio nome já diz, há o entendimento pelos foliões populares, que o estado de Minas Gerais ainda não cumpriu seu compromisso com a verdadeira liberdade. E esta, deve ser feita pelas mãos do povo e para o povo.
Neste ano, o “Liberdade Ainda que Agora”, partirá pelas ruas, através de marchinhas, compostas pelos integrantes, abordando tanto a conjuntura municipal, quando a estadual, nacional e internacional, fazendo críticas a estrutura do modo de produção capitalista e propondo um novo modelo de sociedade. A homenagem e o enredo principal ficarão destacados para a trajetória de Zumbi de Palmares, com a legenda “Batuque pra Zumbi” e seu significado de resistência para as atuais ocupações urbanas, vítimas da opressão dos Governos no Brasil, como foi o caso de Pinheirinho, este ano em São José dos Campos-SP e a Comunidade Dandara em Belo Horizonte-MG.
Conciliar a folia popular com o grito de liberdade é a forma mais legítima de brincar o carnaval de rua e resgatar os blocos sujos.
A concentração está marcada para o próximo sábado, dia 18 de fevereiro, às 13 horas, no Instituto Helena Greco, Rua Hermilo Alves, 290, Santa Tereza, Belo Horizonte – MG, e seguirá até a Praça da Estação, onde estará acontecendo a união dos blocos e o evento Praia da Estação.
Fica o convite para todos que quiserem participar do bloco sujo, o primeiro carnaval de rua dos movimentos sociais de Belo Horizonte.

Pedro Rennó
Professor de História e especialista em História da Arte/Carnaval
Telefone (31) 8388-1439


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domingo, 12 de fevereiro de 2012

O lado político de Mário Lago

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Ticiano Duarte - jornalista
A escritora, Mônica Velloso, doutora em história e pesquisadora do CPDOC/FGV, tem vários trabalhos sobre a cultura carioca e em 1977 publicou "Mário Lago - Boemia e Política", reeditado em 1988 e reimpresso em 2011, tudo pela editora da Fundação Getúlio Vargas.
O livro fala da vida e trajetória do grande compositor, autor, boêmio, carioca "na acepção mais romântica da palavra", no dizer de Sérgio Cabral, pai, parceiro de Custódio Mesquita, conhecido pelos gestos de solidariedade e lealdade aos amigos.
Mas há um lado do famoso compositor de "Amélia", em parceria com Ataulfo Alves, desconhecido do grande público e das novas gerações, o de militante político, na esquerda, na clandestinidade, nos quadros do Partido Comunista Brasileiro (PCB), atividade que o levou a muitas prisões, constrangimentos, discriminações, toda sorte de risco a que estava sujeito o militante esquerdista, sobretudo na fase áurea da guerra fria.
Mário Lago ingressou no PCB, em 1934. No ano de 1948, quando Prestes completou 50 anos de idade, organizou uma festa para homenagear o seu líder, juntamente com o jornalista Pedro Motta Lima e Diógenes Arruda Câmara e escreveu um artigo sobre o seu líder, "Do cavaleiro ao camarada, em tempos de legalidade. Esse período ele relembra à autora: "ainda não existiam os programas eleitorais gratuitos no rádio e na televisão, os candidatos iam buscar votos na rua, ombro a ombro cara a cara com o povo". E romanticamente acrescenta: "Oscar Niemeyer estava soberbo num alto de uma escada, armado de uma broxa e de uma lata de cola de farinha de trigo, participando de uma colagem de um grupo de intelectuais artistas plásticos, fez um dia de semana. As ruas cheias de gente, o céu transbordando de sol...".
Em 1947 casa com Zeli, filha do dirigente comunista, Henrique Cordeiro, sua companheira, também, de luta, nos 40 anos seguintes que o PCB amargou na clandestinidade somente voltando à retomada da legalidade, em 1985. Em 1950, foi candidato à deputado estadual, em São Paulo, pela legenda do PST (Partido Social Trabalhista) e apesar de ter realizado uma campanha bem planejada e movimentada, não obteve êxito.
Em 1964 foi preso novamente. Esteve na Ilha das Flores, depois no presídio da Frei Caneca. Permaneceu quase 60 dias isolado, trancafiado. Libertado, começou a viver a fase mais difícil de sua vida, por momentos cruciais, desempregado, já com cinco filhos, na rua das amarguras. Os amigos o ajudaram a recompor sua vida profissional, aos poucos.
Em 1968 estreou no Teatro Municipal, no Rio, com a peça, "Os inconfidentes", com roteiro e direção de Flávio Rangel, poesia de Cecília Meireles e música de Chico Buarque de Holanda. Vale a pena registrar o que o grande artista e compositor manifestou em discurso, numa das sessões, no final da peça. O texto foi gravado por um agente do SNI, Serviço Nacional de Informações: "Acabamos de apresentar um espetáculo que fala e luta pela liberdade. Lutar pela liberdade é uma obrigação que o homem tem diante da vida, uma luta permanente como o próprio texto diz: uma voz se despediu, uma outra nasceu. A mocidade estudantil brasileira luta juntamente com todos pelas liberdades gerais, mas também tem as suas lutas específicas por mais verbas, para que se estude melhor; contra os aumentos das anuidades, para que todos possam freqüentar as escolas... Os atores apóiam a luta dos estudante. À saída do teatro os senhores encontrarão vários estudantes recolhendo fundos para essa luta que eles estão travando. Que as palmas que nos foram dadas se transformem em contribuição para essa luta tão importante. Muito obrigado".
Sobre Carlos Lacerda, ele disse: "Em 1968 tive ilustres colegas de cela. Carlos Lacerda foi um. Não nos falávamos desde 1937, quando ele rompeu com o PCB. Agora estávamos do mesmo lado. Ou melhor, éramos, por motivos diferentes, inimigos da mesma Revolução".

http://tribunadonorte.com.br/noticia/o-lado-politico-de-mario-lago/211357

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

UM CARA SENTADO


Um cara sentado
Um cara bolando sentado
Um cara pensa sentado
Um pensamento bolado de existência
Um bolado pensamento de castração
E de impotência

Uma rachadura no meio

De que lhe vale a vida, afinal?
Instauram-se odes ao lucro
E a alienação coletiva
Nada mais é como era
Nada será como é
E assim todo individualismo retardado
Permanece intacto, como nos contos infantis.

Bruno Maniuc
PCB/Guarulhos

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Independência


No sétimo dia de setembro Deus, erguendo sua espada de fogo
declarou:
-Independência ou Morte. Fiat Brasilis (faça-se o Brasil.
Estava criado o Mundo Brasil. Viu Deus que era bom, e foi descansar.
Mas o negro na senzalaencafifado com o fato, resolveu indagar:
-O que é independência?
Deus, sabichão, já com jeitinho brasileiro, respondeu:
Não se preocupe em saber. Depois a gente dá um jeitinho.
-Mas o que é independência? - insistiu o afrodescendente.
-Pode ser, por exemplo, tema para um samba-enredo - respondeu o bom
Deus, inventando o Carnaval. - Que tal a idéia? Não está mal.
-Mas eu preciso entender. O que é independência?
-Isso ainda não está à altura do seu entendimento - retrucou Deus,
já meio irritado, mandando o cafuso esquecer o assunto confuso. - Deixe
isso de lado. Não assunto para negro.
-Se não é para negro é para tupí - vociferou o índio, saindo da
mata vazia.
E Deus, com seu cajado, no cavalo de chefe de Estado, esbravejou:
-Isso não é coisa para índio. Isso é para o Primeiro Mundo,
civilizado.
-Se não é para índio é para mulato - cantou o mulato, estupefacto.
E Deus, no seu trono divino falou mais alto:
-Isso não é coisa para mulato. Isso é assunto complicado.
Aí vieram o operário, a dona de casa, o visionário, o artista com
sua arte Veio gente de toda parte, o moleque de rua, o caipira, o
pau-de-arara. Todos gritaram ao mesmo tempo, perdendo a paciência:
-O que é independência?
-Independência, é, por assim, como diria, na verdadeira concepção
da palavra, assim assim... Entenderam meus filhos? É.
E, saindo dos trilhos, concluiu:
-Vão à merda. Isso não é coisa para vocês.
Encurralado, enraivecido, desesperado, emputecido, Deus então tomou
uma decisão, fazer um arranjo em sua invenção. Acabar com as dúvidas
eliminando a indagação.
Silêncio celestial (ou sepulcral?). Mas quem prestar a atenção,
atras dos muros, ouve sussurros:
-Independência? Independência?

Daniel Neves de Andrade
PCB/Guarulhos-SP