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sexta-feira, 29 de junho de 2012

CONVERSA ENTRE DUAS DISTINTAS SENHORAS PARAGUAIAS


_ O bispo caiu, você viu?
_ E como não, soube de antemão.
_ Aff, e imaginar que empesteava o palácio.
_ Pés de pobre em tapetes mágicos.
_ Agora sim voltarão as recepções.
_ Jantares de gala nos salões.
_ Com gente de estirpe, por certo.
_ Mas é claro, fora com os pés rapados.
_ Vi que seu filho recebeu convite.
_ Ministro, Deus existe!
_ Grande patriota, não esperava menos.
_ E seu pequeno, que rebento.
_ Chefe de polícia, esperemos.
_ Agora tudo voltou ao normal.
_ Foi apenas um desvio, mais nada.
_ O povo escolhe mal, isso não falha.
_ Mas nós cá estamos para endireitar as coisas.
_ Viva o Paraguai livre!
_ Viva!

Daniel Oliveira
Junho/2012
daniludens@yahoo.com.br

No gabinete do jornal que sairá amanhã


No gabinete do jornal que sairá amanhã
Com um dedo preso no cenho
Da testa franzida pela angústia
Um jornalista hesita sobre sua redação

Sem companhia que o apóie e todo
Miserável quanto um vira-latas faminto
Pensa sobre o quê do calendário lhe resta
E sobre a beleza da rosa morta no jarro

Como não é de aço e o tempo passa
Pesa na xícara de café um naco de pão
Muito ensimesmado e duvidoso
De assistir à luz da próxima aurora

Quão breve será sua vida se este papel
Passar pelo rolo da imprensa
Para voar feito avião de criança
Em nome de denunciar as evidências

Entretanto sabe que morrerá cedo ou tarde
E que a dissimulação tem pernas curtas
Então executa seu juízo final apostando
No peso e fogo da verdade póstuma


Jamesson Buarque 
Militante do PCB em Goiás e Professor da UFG


quinta-feira, 28 de junho de 2012

REGULAMENTO DA ANTOLOGIA FAROL LITERÁRIO DA ACLAC





Regulamento Antologia:  
Farol Literário
Academia Cabista de Letras Artes e Ciências
Regulamento
Prazo para envio dos textos: 20  de julho 2012
Tema: Livre
DA PARTICIPAÇÃO
1.1. A antologia "Farol Literário ” é promovida pela ACLAC- Academia Cabista de Letras Ciências e Artes
1.2. Poderão participar da antologia todas as pessoas físicas maiores de 18 anos, ou menores com permissão do responsável, residentes legais no Brasil, bem como brasileiros residentes no exterior. Também poderão participar da Antologia escritores de outras nacionalidades, desde que a língua mantida seja a língua portuguesa.
1.3. Das características da antologia: A Antologia , receberá única e exclusivamente contos, poesias, trovas, haikais, sonetos e crônicas, sendo que a criatividade e imaginação do escritor darão o toque e estilo ao trabalho.
A mesma será dividida em 4 partes e os autores colocados em ordem alfabética:
Membros Acadêmicos Associativos
Membros Acadêmicos Correspondentes
Poetas e escritores amigos e apoiadores da instituição (Independente de serem ligados a mesma ou a outras entidades de qualquer lugar do país e do mundo)

1.4. Poderão participar da antologia autores com menos de vinte e um anos,mediante autorização por escrito de um responsável legal, acompanhada de fotocópia do original de documento de identidade do mesmo para conferência e registro de inscrição.
1.5. A participação se dará no sistema de cotas, sendo que cada autor deverá proceder ao pagamento da seguinte forma:
O Valor de participação será de R$ 200,00  (duzentos reais), que deverá ser paga em cota única  , este valor abrange 2 poesias de até 400 caracteres ou 1 conto ou crônica de até  6 mil caracteres por cota) sendo depositado até o dia  15  DE agosto de  2012.
(Caso receba notificação que seu texto foi aprovado)
1.6 Os participantes receberão um total de  12  exemplares da Antologia por participação.
Título; Farol Literário
Formato: 230 X 160 mm (fechado)
Paper: OFF SET
1.7. A presente antologia será confeccionada pela  Editora Literarte, será registrada , receberá ISBN , mas cada autor é responsável por registrar suas obras, a antologia  tem como finalidade estimular a produção de contos, formação e divulgação de novos autores.

2)DA ACEITAÇÃO DOS CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS
 2.1. Serão aceitos apenas contos , crônicas e poesias em língua portuguesa, de temática pertinente a antologia, com limite de cinco  mil caracteres  por texto com espaços, em formato A4, espaços de 1,5 entre linhas, fontes times ou arial tamanho 12, acompanhados dos dados de inscrição que constam no parágrafo 5.5 desse regulamento.
2.2. Não serão aceitos lendas e nem contos que pertençam ao universo de personagens já existentes criados por outro autor.
2.3. Os contos devidamente formatados deverão ser enviados para o e-mail:
Assunto: Livro da ACLAC  ,   junto com os dados de inscrição e demais documentos de autorização.
2.4. Os contos inscritos deverão contemplar, obrigatoriamente, os seguintes elementos:

(a) narrativa em primeira pessoa ou terceira pessoa;

(b) O tratamento dado ao tema será de exclusividade de cada autor.
(c) Não ultrapassar o limite de 6000 caracteres com espaços, mais uma biografia de 10 linhas.
2.5. Caso o autor deseje que seu conto tenha mais do que o espaço reservado de 6000 caracteres ele terá a opção de adquirir o valor de duas cotas, assim podendo ampliar seu espaço na antologia. Os procedimentos são os mesmo citados no item 1.5 desse regulamento, caso haja espaço na antologia liberaremos alguns autores que excedam sem custo extra.

3) NÃO SERÃO ACEITOS CONTOS, CRÔNICAS OU POESIAS QUE:

(a) possam causar danos a terceiros, seja através de difamação, injúria ou calúnia, danos materiais e/ou danos morais;

(b) ofendam a liberdade de crença e as religiões;

(c) contenham dados ou informações racistas ou discriminatórias;

(d) tenham a intenção de divulgar produtos ou serviços alheios aos objetivos da antologia ou que tenham qualquer finalidade comercial;

(e) façam propaganda eleitoral ou divulguem opinião favorável ou contrária a partidos ou candidatos;

(f) tenham sido produzidos por terceiros;
(g) que não venham formatados nas normas estabelecidas por esse regulamento e descritas no item 2.1.

4) DOS CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS INSCRITOS:
4.1. Os contos inscritos serão analisados e selecionados mediante avaliação do profissional nomeado pela organização da Antologia, cujas decisões serão soberanas e irrecorríveis. A avaliação se dará com base nos seguintes critérios:
(a) criatividade e originalidade do enredo;
(b) adequação do enredo ao universo ficcional do livro
(c) impacto do conto e qualidade dos recursos narrativos utilizados.

4.2. Ao se inscrever na Antologia o autor autoriza automaticamente a veiculação de seu conto, sem ônus para a Editora  nos meios de comunicação existentes ou que possam existir com a intenção de divulgar a antologia.

5) SOBRE AS INSCRIÇÕES:
5.1. As inscrições para a Antologia  serão abertas às 24h00min do   dia  20 de  junho  de 2012 e encerradas no dia 20 de  julho  de 2012, podendo ser encerradas antes, caso o número de contos recebidos e avaliados sejam aprovados antes da data, no formato e padrão já descritos. As inscrições só poderão ser feitas pelos e-mails acima citados ou pelo site.
O LIVRO SERÁ LANÇADO NO MÊS DE OUTUBRO  DE 2012  EM CABO FRIO E EM OUTROS LUGARES QUE SERÃO COMUNICADOS MAIS PRÓXIMOS AO LANÇAMENTO.
OS NOMES DOS SELECIONADOS SERÃO DIVULGADOS ATÉ O DIA  30 JULHO  POR EMAIL.

5.2 . Um determinado conto poderá ter mais de um autor, num número limite de dois. Um determinado autor poderá participar da antologia com mais de um conto, desde que observado o parágrafo 1.5 e 2.5 desse regulamento.

5.3. Para participar os candidatos deverão, além de enviar um ou mais textos de acordo com as regras estabelecidas neste regulamento, fornecer as informações a seguir:
(a) nome completo do autor do conto e de seu responsável legal(se for menor de idade);
(b) data de nascimento;
(c) número do documento de identidade pessoal e do responsável legal(se for menor de idade);
(d) endereço físico e eletrônico, completo e legível;
(e) telefone fixo e celular;
(f) informação de onde e como ficou sabendo da antologia;
(g) autorização por escrito assinada pelo responsável (se for menor de idade) e fotocópia legível do documento de identidade do mesmo (cópia escaneada e enviada junto com o e-mail);
(h) mini biografia de no máximo três linhas para cada autor. No caso de contos com dois autores o espaço deverá ser dividido entre ambos.
Uma foto
(i) frete de entrega dos livros será por conta do autor.

5.5. Só serão aceitas inscrições através dos procedimentos previstos neste regulamento. Os dados fornecidos pelos participantes, no momento das inscrições, deverão estar corretos, claros e precisos. É de total responsabilidade dos participantes a veracidade dos dados fornecidos à organização da Antologia .

5.6. Em caso de fraude comprovada, o conto será excluído automaticamente da antologia.
5.7. Os participantes concordam em autorizar, pelo tempo que durar a antologia com a editora, que a organização  faça  uso do seu conto, suas imagens, som da voz e nomes em mídias impressas ou eletrônicas para divulgação da Antologia, sem nenhum ônus para os organizadores, e para benefício da maior visibilidade da obra e seu alcance junto ao leitor.
6) OUTRAS INFORMAÇÕES

6.1. Dúvidas relacionadas a esta antologia e seu regulamento poderão ser enviados para o e-mail poesiarte@hotmail.com
Ou pelo telefone 22-2645-2368
6.2. Todas as dúvidas e casos omissos neste regulamento serão analisados por uma comissão composta pela equipe organizadora e sua decisão será irrecorrível.

6.3. Para todos os efeitos legais, os participantes do presente Antologia, declaram ser os legítimos autores dos contos inscritos e garantem o ineditismo dos mesmos, isentando a editora pessoa física  de qualquer reclamação ou demanda que porventura venha a ser apresentada em juízo ou fora dele.
6.4. A literarte, reserva-se o direito de alterar qualquer item desta Antologia, bem como interrompê-la, se necessário for, fazendo a comunicação expressa para os participantes.

6.5. A participação nesta Antologia implica na aceitação total e irrestrita de todos os itens deste regulamento.


quarta-feira, 27 de junho de 2012

Definitivo

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
...
Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que
gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um
amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um
verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...

Carlos Drumond de Andrade

sábado, 23 de junho de 2012

Os olhos do continente

Desenho monumental feito por Carlos Latuff
Para o comandante Che Guevara

Nasci num continente
que olhava para o chão.
Pupilas perdidas na terra,
na relva, nas raízes,
nas pedras da humilhação.

Nasci num continente
que olhava para o chão.
Olhava e não via
seu rosto mutilado
no rosto de seu irmão.

Perguntava e não ouvia
seu canto entrecortado.
Numa surdez medonha
o velho chão só respondia:
vergonha.

Si señor, no señor...

Com o perdão da palavra
a palavra era culpada.
Um deus patrão com as mãos recém-lavadas
cortava o ar em cruz, o perdão era dado
ou o infeliz executado.

Gracias señor
pelo pão, pelo castigo
pela morte, pelo destino.

Nasci num continente
que olhava para o chão.
Mas um dia leu ali
entre ossos calcinados
o verbo de sangue seco
pelo povo derramado.

Leu nos olhos simples
nas águas dos regatos.
No suor vertido em braços
pelo povo explorado.

Leu ali o seu espanto
nas pedras reviradas
nas raízes descobertas
pelo povo rebelado.

Guardou, então, no seu caderno de terra
a gramática revelada
e uma semente em seu olho
que chamou dignidade.

O deus-patrão nos alerta:
“Não olhem nestes olhos
de serpente peçonheta,
é praga que se alastra
e destrói tua colheita”.

“Não olhem nestes olhos
que se rebela a harmonia,
é o fim da religião, da casa
e da família.”
Mas são olhos tão simples,
úmidos de dor e esperança.
São olhos tão brilhantes
como olhos de criança.

São os olhos de Martí,
são os olhos de Sandino,
são os olhos das montanhas
que nos mostram o caminho.

São os olhos de Camilo,
são os olhos de Havana,
é meu olho no teu rosto
que outro olho reclama.

O veneno me tomou
e já posso ler no chão,
onde antes era vergonha
leio agora revolução.

Já viram as fotos de Che morto?
Seus olhos permanecem abertos
olhando sereno o céu
do continente onde nasci.

Alturas depois de Che,
meu povo não teme vê-las,
meu continente hoje leva os olhos
até o brilho das estrelas.
Mauro Luis Iasi – Meta Amor Fases

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Canção Oficial da Marcha Patriótica (castelhano) - Yury Buenaventura

Campos Elíseos

Ah se o tempo pairasse
Então eu não deixaria você ir embora
Ficaria há admirar-te
E toda minha existência
Por mais artificial que fosse
Por mais surreal que fosse
Justificar-se-ia
Então saberia
Que não posso viver
Sem tua doce presença na minha vida
Já não te deixaria ir embora
Já não te deixaria sozinha
Jogada a própria sorte...
Tudo isso se o tempo pairasse!
           
Agnes não gostou de ver os dois policiais postados, na porta do quarto fazendo a sentinela, a postura marcial dos militares incomodou Agnes. A vida toda ela fugia dessas figuras, na verdade Agnes fugia de si mesma, a vida desregrada era sua mais profunda e angustiante prisão, pois não conseguia fugir dela em absoluto, Agnes era prisioneira de si mesma. Naquele momento, ela não sabia se deveria passar diretamente pela porta, ou se identificar para os soldados. Parou por uns instantes e decidiu adentrar, passou porta adentro sem pedir licença aos militares parados ali feito estátuas de cera. Agnes em um instante chegou a duvidar se aquelas figuras foram pessoas de verdade. Ela passou pela porta e não foi incomodada pelo militares.
            Agnes foi encontrar Sibelli deitada, na cama debilitada, parecia estar morta. Mas, a mulher de negros cabelos, olhos verdes e pele glacial, estava viva. A Dama da noite, outrora absolta e ‘’dona’’ de muitos admiradores. Jazia solitária deita na cama de um hospital.
            - Trouxe... trouxe o que te pedi menina? – A voz de Sibelli, soou de uma forma que, não condizia com o seu estado de saúde. Era forte e decidida, agora Agnes sabia o porquê de ela ter a fama de sobrepujar a todos.
            - Trouxe! Mas...
             - Anda... me dá logo as pílulas e vá embora menina!
             - Sibelli ...????     
             - ‘’Tás’’ pensando o que menina? A vida é minha, e disponho dela como bem entender! Vivi sozinha, a minha vida intera, e não é agora que vou pedir ajuda. Cai fora daqui... desaparece da minhas vistas logo.
Agnes olhou a amiga, fez como um ato mecânico com as mãos. E passou as cápsulas para a Sibelli.
            - Vá embora quero partir sozinha! – Mais uma vez a voz da Sibelli era forte e cheia de razão. O olhar da mulher ajustou Agnes. Agnes queria correr quando passou pela porta, mas não o fez, saiu do quarto calmante, como se nada acontecera. Ela não mais se importou com a postura marcial dos soldados. Estavam estáticos, quando há jovem passou por ambos. Pareciam feitos de ceras as sentinelas, pareciam alheios a tudo a todos.

Samuel da Costa é contista em Itajaí

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Na Colômbia cabeças rolam


Na Colômbia cabeças rolam
Em formato de bola de futebol

Crianças e mulheres assistem
A seus pais e maridos e filhos
Macerados em sangue e bosta

Os pássaros se lamentam as mortes
Eles mesmos à surdina morrem
Porque ousaram cantar no azul

Não palavra em língua livre
Para dizer Esta é minha casa

Se alguém dedilha folhas e colhe frutos
Sem senha ou fora do horário
Coturnos marcham fabricando cadáveres

Tratados de paz são assinados a bala
Com choques de tortura pela censura

Um dia uma criança viu seu pai
Cortado por lâmina de motosserra

Colombianos esperam pelo dia quando
Caminharão pelas praças, ruas e campinas
Sem a ameaça de fuzis e canhões

Jamesson Buarque 
Militante do PCB em Goiás e Professor da UFG

 

terça-feira, 19 de junho de 2012

120 ANOS DE GRACILIANO RAMOS


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Neste ano de 2012 comemoram-se 120 anos de Graciliano Ramos. Nascido em 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrangulo, sertão de Alagoas, o grande romancista brasileiro ingressou no PCB no ano de 1945, quando já era um escritor consagrado pela publicação de obras que marcariam para sempre a literatura nacional, como São Bernardo e Vidas Secas, verdadeiros libelos contra a miséria e a opressão humanas. Nesta época também já era conhecido por sua postura política profundamente ética e libertária, destacando-se por sua posição antifascista e contrária ao Estado Novo, assim como pelo uso, em suas crônicas, da ironia corrosiva contra as mazelas sociais e a inépcia do governo Vargas em combatê-las. Afinal, havia passado dez meses preso, sem culpa formada, e ficou fichado na Polícia Política como “suspeito de exercer atividade subversiva”, quando eclodiu a rebelião comunista em 1935.

Participou das lutas contra o nazifascismo e contribuiu, com sua militância junto aos escritores, para a retomada das liberdades democráticas e pelo fim do Estado Novo. No PCB, juntou-se a Jorge Amado, Astrojildo Pereira, Caio Prado Júnior, Cândido Portinari, Di Cavalcanti, Carlos Scliar, Djanira, Moacir Werneck de Castro, Aparício Torelly, Oduvaldo Vianna, Dias Gomes, Oscar Niemeyer, Alberto Passos Guimarães, Mário Lago, entre inúmeros outros artistas e intelectuais que enxergaram no Partido Comunista o espaço político necessário à luta pela paz, pelo avanço democrático e pelo socialismo. 

Discordou da política cultural então formulada pelo PC da URSS, a do “realismo socialista”, afirmando que “a literatura é revolucionária em essência, e não pelo estilo do panfleto”. Faleceu em 20 de março de 1953, aos 60 anos, sem ver publicada outra obra clássica escrita por ele: Memórias do Cárcere, reconstituição dos porões da ditadura varguista e belo exemplar do realismo crítico, a retratar as figuras humanas em toda a sua fragilidade, riqueza e complexidade.

O Partido Comunista Brasileiro – PCB – através de sua página oficial e da Fundação Dinarco Reis, homenageia um dos seus mais importantes militantes históricos com a Seção “120 anos de Graciliano Ramos”, na qual coloca à disposição textos e materiais diversos sobre a história de vida e a obra de Graciliano. Convidamos os militantes e amigos do PCB a contribuírem ativamente com a manutenção deste espaço virtual e com as comemorações em torno de mais um aniversário de vulto para todos nós, no ano em que nosso Partido completa 90 anos de existência.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Quando tudo terminar


Ah se o tempo pairasse
Então nada seria como antes
Já não te deixaria, jogada entre as feras
Desprotegida & sozinha
Então toda a minha existência
Justificar-se-ia & então eu me perderia
Na imensidão dos teus olhos
De um verde tão intenso
E eu saberia
Com toda a certeza que já não posso viver
Sem você...
Sem tua doce presença na minha vida.

Otto sempre preferiu viver em regiões fronteiriças, vivia como seus antepassados, que sempre viveram assim. O clã’’, a qual Otto pertencia, vivia e morria, entre a legalidade e a ilegalidade, entre uma nação e outra, entre um continente e outro, como em uma marcha sem fim, indo e vindo ao saber das conveniências da ocasião. Viviam e morriam de lealdades e de traições, migrações e imigrações forçadas. E o teuto tomou para si esse legado familiar. Por isso escolheu para viver na cidade portuária e seus inúmeros e infindáveis vai e vem de navios, caminhões, mercadorias e gente de todos os naipes, te todas as matizes, raças e credos. E para morar, aquele bairro que não se decidia se queria ser uma zona rural ou urbana, com aquelas olarias, que importunavam a todos com seus fornos arcaicos enfumaçados, bairro cortado por uma rodovia que ligava o litoral informal e quente com o vale europeu frio e sisudo. Otto foi encontrar trabalho um pouco longe dali, no Bar-café Garibaldi, que se localizava próximo a orla, na via de acesso rápido entre cidades. Otto também dividia a vida em duas partes distintas, uma clandestina de noite, e uma aparentemente normal e de dia. Viver entre os mais variados riscos e desventuras da fronteira da ilegalidade com a legalidade. O ar puro da orla do mar de dia, o clima carregado da noite da beira do cais e por fim entre traições e lealdades. Um equilíbrio que nem sempre repousava nas mãos de Otto. Os choques entre mundos eram inevitáveis, constantes e cada vez mais violentos e cada mundo lhe cobraria, a sua maneira, um preço e uma definição. 

***

O aroma de alfazemas pairava no ar e se misturava com a música romântica francesa antiga. E a luz vermelha, que vinha do abajur ao lado da cama, deixou o quarto à meia luz. As roupas espalhadas por toda a parte compunham o ambiente. Para os dois não havia nada para se dizer, pois o silêncio já dizia tudo, e falava por si. E abraçados na cama, ficaram por mais uns alguns instantes, além do habitual, mas parecia uma eternidade para ambos.  Agnes sabia que aquilo não poderia durar muito tempo. Otto, também, sabia que as coisas não poderiam ficar no pé em que estavam. Ele queria dizer alguma coisa, mas lhe faltavam palavras, elas morriam em sua boca. Agnes nem sequer deixou espaço para tal coisa nos últimos dias. Não poderia, pois como uma boa profissional que era, tinha decidido por fim nessa história de uma vez por todas. Já o conhecia o suficiente para tanto, e daria um golpe baixo da linha da cintura, e a hora tinha que ser naquele momento. Agnes aproveitou do momento em que Otto estava frágil e cheio de culpa.  
- Amanhã, quando raiar o dia, apareço no teu trabalho, e tu vai me preparar um senhor café da manhã, seu canalha, aproveitador, seu desgraçado. Vou querer ser servida por pelo teu amiginho muito especial. Que tal, torradas e chá com conhaque canadense de sete anos? E pra Cigana, pão-de-mel e café morno sem açúcar, um limão cortado no meio e dois saquinhos de adoçante cristalizado importado. - Não era do perfil dela se portar daquela maneira com os clientes. Nem com os habituais, nem tão pouco com os ocasionais, mas aquilo tinha que ter um fim em absoluto. E não poderia ficar de pé uma centelha sequer, da relação que estava construindo com Otto, àquela relação era ruim para ambos, Agnes sabia da realidade em que vivia e não queria aquela ilusão para si. 
- Se tu fizer isto, sua puta desgraçada! Te mato... sabes que minha mulher trabalha comigo? Não sabes? – Esbravejou Otto, sem soltar Agnes dos braços, ainda a abraçava com terno carinho apesar do tom de voz áspero e duras palavras. 
- Não! Não eu sabia! – A voz dela soou com um lamento e como um pedido de desculpas.
- Pois agora tu sabes, te mato, se por os pés por lá te mato, tu e aquela tua amiga ordinária!- Retrucou o teuto, com todo o ódio do mundo, sem olhar nos olhos dela. Enquanto isso, lá fora há noite estava se despedindo, e o dia com as suas múltiplas possibilidades, vinha para expulsar Agnes da vida de Otto. Só que dessa vez era para sempre.

Samuel da Costa é contista em Itajaí 
 

domingo, 10 de junho de 2012

Dissidência ou a arte de dissidiar

Foto de Sebastião Salgado

Há hora de somar
e hora de dividir.
Há tempo de esperar
e tempo de decidir
                      
Tempos de resistir.
Tempos de explodir.
Tempos de criar asas, romper as cascas
porque é tempo de partir.

Partir partidos,
parir futuros,
partilhar amanheceres
há tanto tempo esquecidos.

Lá no fundo tínhamos um futuro
lá no futuro tem um presente
pronto para nascer
só esperando você se decidir.

Porque são tempos de decidir,
dissidiar, dissuadir,
tempos de dizer
que não são tempos de esperar.

Tempos de dizer:
não mais em nosso nome!
Se não pode se vestir com nossos sonhos
não fale em nosso nome.

Não mais construir casas
para que os ricos morem.
Não mais fazer o pão
que o explorador come.

Não mais em nosso nome!
Não mais nosso suor, o teu descanso.
Não mais nosso sangue, tua vida.
Não mais nossa miséria, tua riqueza.

Tempos de dizer
que não são tempos de calar
diante da injustiça e da mentira.
É tempo de lutar

É tempo de festa, tempo de cantar
as velhas canções e as que vamos inventar.
Tempos de criar, tempos de escolher.
Tempos de plantar os tempos que iremos colher.

É de dar nomes aos bois,
de levantar a cabeça
acima da boiada,
porque é tempo de tudo ou nada.

É tempo de rebeldia.
São tempos de rebelião.
É tempo de dissidência.
Já é tempo dos corações
pularem fora do peito
em passeata, em multidão
porque é tempo de dissidência
é tempo de revolução.

Mauro Luis Iasi Meta amor fases.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Ode a Lênin - Pablo Neruda


A revolução tem 40 anos.
Tem a idade de uma jovem madura.
Tem a idade das mães bonitas.

Quando nasceu,
no mundo
se soube a notícia
de forma diferente.
- Que é isso? – perguntaram-se os bispos –
Moveu-se a terra,
Não podemos continuar vendendo céu.
Os governos da Europa,
da América ultrajada,
os ditadores turvos,
liam em silêncio
os alarmantes comunicados.
Por suaves, por profundas
escadas
subia um telegrama,
como sobre a febre
no termômetro:
já não havia dúvida,
o povo havia vencido,
o mundo se transformava.

I

Lênin, para cantar-te
devo dizer adeus às palavras;
devo escrever com árvores, com rodas,
com arados, com cereais.
És concreto como
os fatos e a terra.
Não existiu nunca
um homem mais terrestre
que V. Uliánov.
Há outros homens elevados
que como as igrejas costumam
conversar com as nuvens,
são altos homens solitários.

Lênin manteve um pacto com a terra.

Enxergou mais longe que ninguém.
Os homens,
os rios, as colinas,
as estepes,
eram um livro aberto
e ele lia,
lia mais longe que todos,
mais claro que ninguém.
Ele olhava profundamente
O povo, o homem,
olhava o homem como um poço,
o examinava como
se fosse um mineral desconhecido
que tivesse descoberto.
Era preciso tirar as águas do poço.
era preciso levar a luz dinâmica,
o tesouro secreto
dos povos,
para que tudo germinasse e nascesse,
para ser dignos do tempo e da terra.

II

Cuida de não confundi-lo com um frio engenheiro,
cuida de não confundi-lo com um místico ardente.
Sua inteligência ardeu sem ser cinzas jamais,
a morte não gelou ainda seu coração de fogo.

III

Gosto de ver Lênin pescando na transparência
do lago Razliv, e aquelas águas são
como um pequeno espelho perdido entre a relva
do vasto norte e frio prateado:
solidões aquelas, esquivas solidões,
plantas martirizadas pela noite e pela neve,
o ártico silvo do vento em sua cabana.
Gosto de vê-lo ali solitário escutando
o aguaceiro, o voo trêmulo
das rolinhas,
a intensa pulsação do bosque puro.
Lênin atento ao bosque e à vida,
escutando os passos do vento e da história
na solenidade da natureza.

IV

Alguns homens foram só estudo,
livro profundo, apaixonada ciência,
e outros homens tiveram
como virtude da alma o movimento.
Lênin teve das asas:
o movimento e a sabedoria.
Criou no pensamento,
decifrou os enigmas,
foi rompendo as máscaras
da verdade e do homem
e estava em toda parte,
estava em toda parte,
estava ao mesmo tempo em toda parte.

V

Assim, Lênin, tuas mãos trabalharam
e tua razão não conheceu descanso
até que em todo o horizonte
se divisou uma nova forma:
era uma estátua ensanguentada,
era vitoriosa com farrapos,
era uma menina bela como a luz,
cheia de cicatrizes, manchada pela fumaça.
Desde terras remotas os povos a viram:
era ela, não havia dúvida,
era a Revolução.
O velho coração do mundo latejou de outro jeito.

VI

Lênin, homem terrestre,
tua filha chegou ao céu.
Tua mão
movimenta agora
claras constelações.
A mesma mão
que assinou decretos
sobre pão e a terra
para o povo,
a mesma mão
se converteu em planeta:
o homem que fizeste me construiu uma estrela.

VII

Tudo mudou, mas
foi duro o tempo
e áspero os dias.
Durante quarenta anos uivaram
Os lobos junto às fronteiras:
quiseram derrubar a estátua vida,
quiseram calcinar seus olhos verdes,
por fome e fogo
e gás e morte
quiseram que morresse
tua filha, Lênin,
a vitória,
a extensa, firme, doce, forte e alta
União Soviética.

Não conseguiram.
Faltou o pão, o carvão,
faltou a vida,
do céu caiu a chuva, neve, sangue,
sobre as pobres casas incendiadas,
mas entre a fumaça
e a luz do fogo
os povoados mais remotos viram a estátua viva
defender-se e crescer crescer crescer
até que seu valente coração
se transformou em metal invulnerável.

VIII

Lênin, gratos lhe somos os distantes.
Desde então, desde tuas decisões,
desde seus passos rápidos e seus rápidos olhos
não estão sozinhos os povos
na luta pela alegria.
A imensa luz pátria dura,
a que suportou o assédio,
a guerra, a ameaça,
é torre inquebrantável.
Não podem mais mata-la.
E assim vivem os homens
outra vida,
e comem outro pão
com esperança,
porque no centro da terra existe
a filha de Lênin, clara e decisiva.

IX
Grato, Lênin,
pela energia e pelo ensinamento,
grato pela firmeza,
grato por Leningrado e as estepes,
grato pela batalha e pela paz,
grato pelo trigo infinito,
grato pelas escolas,
grato por teus pequenos
titânicos soldados,
grato por este ar que respiro em tua terra
que não se parece com nenhum outro ar:
o espaço é fragrante,
é eletricidade de enérgicas montanhas.

Grato, Lênin,
pelo ar, pelo pão, pela esperança.

Pablo Neruda, 1959, Navegações e Regressos