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quinta-feira, 2 de maio de 2013

Escritor chileno lança no Brasil obra que lembra desaparecidos da ditadura de Pinochet

O cinema costuma atrair os holofotes quando o mainstream se debruça sobre a vizinha cultura latino-americana, mas quem disse que ele reina sozinho no atual panorama cultural da região? Há uma nova safra de escritores da América Latina que pouco a pouco ocupa as livrarias brasileiras com sua literatura de qualidade.

Divulgação
Do Chile, a principal referência atualmente é Alejandro Zambra, um dos 22 selecionados pela revista britânica Granta para sua edição com novos nomes das letras hispano-americanas. Seu livro mais celebrado, Bonsai, saiu em 2006 e recebeu vários prêmios no Chile e no exterior, além de ter sido adaptado ao cinema pelo diretor chileno Cristián Jiménez. Foi publicado no Brasil em 2012 pela editora Cosac Naify.

Aos 37 anos, Alejandro publica agora em português, pela mesma editora, A vida privada das árvores, de 2007. O escritor, que participa do “Navegar É Preciso”, viagem literária pelo Rio Negro, organizada pela Livraria da Vila, estará em São Paulo no dia 7 de maio para o lançamento do livro.

Na nova obra, Julián espera a chegada de sua esposa, Verónica, enquanto conta histórias de árvores para sua enteada Daniela. Enquanto a mulher não vem, o protagonista inventa para eles futuros possíveis, do qual Verónica não faz parte. Embora a trama aconteça nos dias de hoje, há quem veja aí uma relação com a ditadura de Pinochet, que deixou muitos a espera de amigos e parentes exilados no Chile.

Confira a entrevista exclusiva de Zambra a Opera Mundi.

Opera Mundi: Que temas mais lhe importam como escritor?
Alejandro Zambra: Isso vai mudando o tempo todo. Só posso dar uma resposta muito geral: me interessa a maneira como as pessoas vivem. Gosto de observar isso. A forma com que você se relaciona com seu bairro, sua cidade, seu país. E isso tem a ver com todos os temas.

OM: Como nasceu a ideia para A vida privada das árvores?
AZ: Realmente não está claro pra mim. A primeira coisa que me ocorreu foi o título. Li o verso “a vida privada das árvores” no livro de um amigo poeta, Andrés Anwandter, há 15 anos. E aí pensei que gostaria de escrever um romance chamado assim. Mas passou bastante tempo até que eu decidisse tentar.
  
OM: Você é considerado atualmente um dos novos talentos da literatura hispano-americana. Como isso afeta seu trabalho?
AZ: Estou feliz, porque meu trabalho conseguiu chegar a alguns leitores. No momento de escrever, no entanto, não existe nada disso. Você está sozinho com a página.

OM: A seu ver, você compartilha algo com escritores latino-americanos da sua geração?
AZ: Compartilho muitíssimas coisas, mas cada um faz o seu trabalho. Não gosto muito de ficar fazendo listas, na verdade. Há escritores que admiro e por sorte são meus amigos, como os mexicanos Alvaro Enrigue, Guadalupe Nettel e Valeria Luiselli, os argentinos Pedro Mairal e Samanta Schweblin, ou compatriotas meus, como Matías Celedón e Alejandra Costamagna.

OM: No cinema, pouco a pouco se fala de uma maior proximidade entre a cultura brasileira e a hispano-americana. Como você enxerga a literatura nesse contexto?
AZ: Sempre estive atento à literatura e à música brasileiras. Não tenho claro os problemas entre as duas culturas. Acho que sim, que os livros sempre circulam. Neste momento, estou feliz de conhecer autores como Emílio Fraia, Tatiana Salem, João Paulo Cuenca, Daniel Galera e Miguel del Castillo.

OM: Quais são seus autores preferidos no Chile e na América Latina?
AZ: São muitos. É melhor eu citar uma autora que levo muitos anos lendo e desfrutando: Clarice Lispector. E uma grande escritora argentina, não tão conhecida ainda, chamada Hebe Uhart.

OM: Existe alguma relação entre a história que você relata e a ditadura chilena?
AZ: Entendo que essa relação pode ser feita, mas não escrevi o romance pensando nesse tema.

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