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segunda-feira, 10 de março de 2014

Muito mais que um bloco... obrigado camaradas!


 

(aos camaradas do Bloco Comuna que Pariu!)
Mauro Iasi
Era carnaval, era um bloco, mas era muito mais que isso. Sei lá, alguma coisa nascendo, alguma coisa rompendo. Cada um chegou do seu jeito, com seus sonhos guardados em seus medos, com sua alegria e suas angústias, cada um num ritmo, uns sabendo mais outros menos, outros nada, mas ali seu deu o milagre da fusão.
Tinha de tudo, camaradas do PCB, companheiros de outros partidos, militantes, amigos, brancos sem jeito, negros, homens, mulheres (tinha até um japonês, eu vi), quem vota num e quem vota no outro, junto com quem não vota, e tudo aquilo que andava separado, ficou em silêncio e uma figura levanta as mãos e soa um apito alto. Não podemos dizer de um “chefe” de bateria, entre nós não há chefes, um dirigente, negro, com roupas íntimas de mulher (vermelha provocação), cabelos de índia. E o chão tremeu, vindo da terra, de quilombos e senzalas rebeladas, de cada gota derramada, de suor ou sangue, de cada ato de amor, de cada beijo na boca, de cada coisa que arrepia a pele e faz o corpo vestir a alma pelo lado de fora.
Era uma porção de gente diferente que ali estava junto sob a direção de um mestre. Profissional, não porque tem valor de troca e preço, profissional como o artesão que ama sua arte, como o operário que desempenha com perfeição seu ofício, como gari que volta na rua varrida para pegar a latinha que ficou prá traz, como poeta que enlouquece na busca da última palavra. Uma porção de diferença que ali estava junto: um bloco.
O produto esconde o processo, os problemas, as noites, os ensaios, a falta de grana, gente que atrapalha, mas o produto traz na pele a marca do trabalho, que pega um sonho e esculpe a realidade até que fica parecido com que queremos. E ficou bem parecido com que queremos. Alegre e comprometido, brotando do samba com escala em Paris, irônico, sarcástico, irreverente, cortando a carne podre do presente mostrando que é possível e necessário libertar o novo das prisões da acomodação.
Meu filho dormia no meu colo como se ouvisse Debussy, minha companheira se esmerava no surdo de primeira. Era carnaval, era só um bloco, ou era mais que isso. Um bloco revolucionário do proletariado, com capacetes operários vermelho futuro e uma voz de mulher cantando um samba contra dudus e cabrais, contra a Globo e o Capital, deixando cicatrizes de alegria no corpo triste da realidade.
Fiquei muito orgulhoso com meus camaradas. Era só um bloco... ou era muito mais.

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