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quarta-feira, 16 de março de 2011

Pastores da Morte

Dedicado a Jeferson da Silva, Renilson da Silva e Victor Jara

Chegaram gritando
Espalhando o terror
Buscando o arrego
Impondo o estado da dor

Soldados-tenentes
Senhores da guerra
Implacáveis, inclementes
Capitães-das-vielas

Selvagens, indecentes
Cabeças de repolho e pica-paus
Armados até os dentes
com seus narizes de cristal

Mantidos com nossos impostos
Impõe o horror cotidiano
Desfazem planos
Assassinam sonhos

Cospem em nossas caras
Matam nossos filhos e irmãos
Mentem despudoradamente
Fazem da injustiça seu pavilhão

Cães raivosos
Ceifam vidas inocentes
Com seus fuzis e uniformes
Pisoteiam as flores indulgentes

Mataram um jovem-menino
Que com as mãos moldava o pão
Que a noite estava sorrindo
E de manhã jazia em um caixão

Mataram também o seu tio
Cujo crime era morar na favela
Piedoso enfermeiro-negro
Nunca passou pelas celas

Foram executados pelo Estado
Que financia, treina e arma
Psicopatas de boina e farda
Corsários de insígnias cruzadas

Neo-capitães-do-mato
Jagunços e mercenários
Traficantes e viciados
Milicianos estatizados

E eles sorriem e se protegem
Zombam da dor do trabalhador
Mas o sangue que roubaram
Este sim tem valor

Favela agora é quilombo
O povo não esquece tão rápido
Polícia e bandido se equivalem
O ódio agora é dobrado

Mataram um jovem padeiro
(podia ser seu filho)
Mataram um jovem enfermeiro
(podia ser seu irmão)

Mas o canto que da garganta explode
Esse não podem matar
Nem com a justiça-fuzil
Nem com inquérito militar

E estes dois mártires
Que faziam da alegria sua bandeira
Não serão nome de praça
Pois não têm eira nem beira

Porém na longa estrada
Que no peito é o coração
Nomearão um sentimento amigo
Muita saudade e inspiração


Daniel Oliveira
Belo Horizonte/Minas Gerais
25 de Fevereiro de 2011


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