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sexta-feira, 25 de março de 2011

Indústria Cultura, Ideologia e Alienação

Nestes tempos de carnaval no Brasil, devemos analisar o papel da indústria cultural no modo de produção capitalista, o papel que a indústria do entretenimento desempenha na divulgação da ideologia burguesa, na acomodação cooptação das manifestações artísticas – culturais que acabam se transformando em uma simples mercadoria vendável como qualquer outra mercadoria no sistema capitalista, como vem ocorrendo com o carnaval no Brasil nos últimos anos.

Nos períodos de carnaval devemos fazer uma profunda reflexão sobre o que se transformou o carnaval Brasileiro, antes esta grande manifestação cultural era patrimônio da população, hoje é apenas uma mercadoria. Para entendermos o porquê do carnaval uma grande festa popular ter se transformado tanto, é preciso concentrar nossa analise sobre o avanço tecnológico colocado a serviço da lógica capitalista, onde o consumo e a diversão são utilizados como formas de garantir o apaziguamento e a diluição dos problemas sociais.

Por vivermos no capitalismo tudo se torna mercadoria incluindo a arte e as manifestações artísticas de um povo, a indústria cultural se apropria da cultura popular, o que era espontâneo, o que refletia as particularidades, as tradições, os valores de um povo, de um povoado, de uma região ou de uma nação se torna o contrário, o interesse do capital através da indústria cultural, ou seja, cultura destinada às massas através do mercado gera o desestimulo, o empobrecimento do cenário cultural.

A arte por si só não promove mudanças na sociedade, ela pode contribuir para a conscientização das massas através dos artistas engajados politicamente, porém isto depende das condições objetivas e subjetivas onde ocorre a luta de classes. Isto explica por que em determinadas épocas temos uma maior produção cultural e um maior engajamento por partes dos artistas, e em outros momentos um maior empobrecimento intelectual e alienação dos artistas.


A arte e os bens culturais estão no capitalismo submetidos aos interesses do mercado, dessa forma não passam de negócios, como qualquer outro produto. O nosso carnaval e o nosso futebol são vitrines para vender mercadorias. O carnaval feito pela população já não existe mais com raras exceções, as escolas de sambas se tornaram uma grande indústria do entretenimento que movimenta milhões de reais, a população de baixa renda antes personagens principais, foi varrida dos destaques destas escolas de samba, hoje são apenas números. Enquanto os empresários bancam suas musas para se tornarem celebridades e com isto receber convites para capas de revistas masculinas ou ascender através de espaços na mídia, contratos etc. Atrizes, modelos, atletas, turista, empresários, colunistas sociais e outros, são estes os personagens principais de nosso carnaval, até o carnaval da Bahia se elitizou “Quem não paga o abadá não pode ficar próximo ao trio elétrico”, quem não tem padrinho não se torna madrinha das baterias das escolas de samba do Rio e de São Paulo.

Vivemos a época da morte da razão crítica tão propalada pelo iluminismo ainda no nascedouro do capitalismo, asfixiadas pelas relações de produção capitalista, a indústria cultural ou indústria da diversão, promove a deturpação das consciências levando os sujeitos à adaptação ao sistema social dominante.

O nosso carnaval como parte da indústria do lazer e divertimento investe em determinados produtos culturais que agradam as massas de forma imediata, ela não está preocupada com uma educação estética, ou seja, com a criação de condições culturais para a maioria das pessoas receberem uma qualidade melhor de produtos culturais, este tipo de entretenimento apenas aliena as massas.

Este tipo de manifestação não leva ao enriquecimento pessoal, não leva ao questionamento e a reflexão da realidade onde vivemos.

Esta indústria do simples divertimento, da distração é da perpetuação das condições atuais de existência. Este tipo de indústria que leva difusão de suas mercadorias culturais (Filmes, músicas, shows, revistas, novelas, futebol...) vende os valores dominantes do capitalismo, promovendo alienação dos consumidores desses produtos.

A arte, como diz o filósofo comunista Georg Lukács, é um fenômeno social, ela reflete a sociedade e suas contradições no caso do capitalismo o conflito capital x trabalho. O artista por ser um ser social não está imune ao conflito que ocorre na sociedade burguesa nem está acima deles como querem nos fazer acreditar certos artistas. O artista como um ser social deve refletir através de sua obra de arte a maneira de sentir o mundo em que vive, as alegrias, as angústias, os problemas e as esperanças de seu momento histórico.

Apesar do embotamento da sensibilidade e do sufocamento da arte, pela indústria cultural, a arte conseguirá assim mesmo sobreviver e surgirão sempre artistas que através de suas obras de artes refletirão as alegrias, tristezas, angústias e esperanças de nossos trabalhadores e estes artistas vão se colocar em combate à alienação e à ideologia burguesa.


José Renato André Rodrigues
Professor de Filosofia
Membro do Comitê Central do PCB

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