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domingo, 19 de fevereiro de 2012

A MORTE E O CARNAVAL

Enfim terminou o expediente da sexta. Todos estavam eufóricos. Aquilo o deixava perplexo. Sabia o por quê mas não conseguia dizer como. Era como nos tempos da primária, onde andavam em filas com as mãos dadas. E alguém soltava sua mão. E você deixa de fazer parte daquele organismo. Ele havia largado a mão da humanidade há tempos, e seguia taciturno e breve de riso...
Foi para casa. Bebeu sozinho. Ouviu música. Lembrou. Esqueceu. Adormeceu.
No sábado, já clamava aos céus o passamento ligeiro da praga foliã. Em vão.
O carnaval invadia seus sentidos com a sutileza de um tanque israelense em território palestino. Pensou em morrer. Ouviu batidas gentis na porta. Atendeu. Não esboçou reação. Era ela. Nem descontente, e muito menos satisfeito, cumpriu os ritus com uma lisura exemplar. Convidou-a entrar. Silenciosos, acabaram com o líquido da garrafa cristalina. Ela, meio sem graça pelos ossos do ofício, ofereceu-lhe um regalo. Ele assentiu, e gritou a plenos pulmões: Quero morrer ao som de um tango; e que se fodas o carnaval.
Mal sabia ele que no inferno a folia era igual.

Daniel Oliveira
19 de Fevereiro de 2012

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