Páginas

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Cotidiano Transformado em Canções


Chico Buarque tem os olhos fundos de CAROLINA. 
Olhos que guardam todas as dores do mundo.
Mas, ao contrário da musa de sua música, para quem o tempo passou na janela e ela nada viu, Chico transforma em canção o COTIDIANO. 
Registra tudo com olhar aguçado de um cronista que, como poucos, sabe traduzir o espírito e a realidade de seus contemporâneos.

Uma realidade dura como a de PEDRO PEDREIRO, que fica esperando,esperando...
Mas Chico não constrói suas crônicas apenas com tijolo, num desenho lógico. O poeta amargo de DEUS LHE PAGUE ou de COTIDIANO esbanja AÇÚCAR E AFETO para cantar o amor, como em BEATRIZ. 
Sabe também cantar a canção despedaçada de TROCANDO EM MIÚDOS ou de ATRÁS DA PORTA, em que contraditoriamente maldiz o nome dela e a adora pelo avesso.

A contradição só desnuda os muitos Chicos de suas crônicas musicadas. 
E neste campo ele pode tudo. Incorpora o universo feminino em OLHOS NOS OLHOS. 
Mas o Chico de ANGÉLICA, que chora a perda do filho nos porões da ditadura, convive pacificamente com MEU GURI e o PIVETE dos sinais da cidade. 
São realmente muitos os Chicos. 
É como SOB MEDIDA, em que ele ser sua alma gêmea, sua fêmea, seu par, sua irmã, seu incesto.

Emiliana Esteves
Sabará/MG

Nenhum comentário:

Postar um comentário