Páginas

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Funk da ostentação alienação e ideologia


Os jovens das camadas mais pobres da sociedade capitalista sempre buscaram na música uma das formas de expressar sua revolta contra as injustiças de uma sociedade desigual, estas músicas quando surgem acabam se impondo a indústria fonográfica ganha os veículos de comunicação de massa, aparecem produtores empresários que logo vão ganhar altas somas de dinheiro, onde os produtores e empresários vão procurar enquadrar os artistas antes rebeldes em dóceis vendedores de mercadorias adaptados a lógica do mercado é fazer música por encomenda.

Isto ocorreu com inúmeros gêneros musicais. Rock, Jazz, Blues, Samba, Forro etc. Porém foi no século XX com o aperfeiçoamento do mercado de consumo no capitalismo contemporâneo é que surgiu o que os pensadores da Escola de Frankfurt chamam indústria cultural, o nicho do mercado voltado para o entretenimento. Voltando um pouco no tempo, após a segunda guerra mundial, vimos surgir um ritmo musical que marcou a indústria fonográfica e sacudiu o mundo, o Rock And Roll. Entre o fim da década de 1940 e 1950, este ritmo passou a ser expressão inicial da juventude rebelde nos Estados Unidos e depois ganhou o mundo a partir dos anos 1960 ganhando expressão no Rock Britânico em banda como Beatles e Rolling Stones que tinham nos ídolos do Rock Estadunidense suas referencias músicas para criticar o comportamento conservador da sociedade de seus tempos.
Mesmo sem uma clara consciência os jovens e as camadas mais pobres podiam se identificar com este ritmo e denunciar os padrões conservadores da sociedade capitalista, tanto nos Estados Unidos como em todo o mundo. Artistas como Jerry Lee Lewis, Litle Richard, Jonh Lennon, Bob Dilan, Black Sabbath, Pink Floyd, Janis Joplin, Jim Morrison, The Clash, e outros denunciaram em suas músicas a desigualdade social, as guerras imperialistas como a guerra do Vietnam, a Revolução na Nicarágua ao mesmo tempo em que neste mesmo gênero outro ícone Elvis Presley foi a pura expressão dos artistas rendido ao Status Quo aceitando apoiar as ações dos governos capitalistas dos Estados Unidos, se relacionou bem com o ex-presidente Nixon criticou a presença dos Beatles em solo Estadunidense tanto que John Lennon em sua famosa frase afirma sua decepção com seu antigo ídolo (Elvis morreu para mim quando vestiu o uniforme do exercito e conclamou a juventude dos Estados Unidos a ir para a guerra).
Como diz Roberto Muggiatti em seu livro Rock do Sonho ao pesadelo, não podemos sofrer do mal de Orfeu achar que a música por si só vai alterar a realidade do mundo como acreditaram algumas gerações de jovens durante os anos 1950, 1960, 1970 e 1980 no caso aqui no Brasil, quando na verdade usando uma frase do Jimi Hendrix um dos maiores guitarristas de todos os tempos,para se por fim ao capitalismo só a luta organizada das massas exploradas para por fim a este sistema.
A Pujança e efervescência cultural tem haver com a luta de classe, há momentos em que os artistas mesmos conscientes ou de forma inconsciente acabam captando os anseios das massas e as revoltas se refletem nas músicas de muitos artistas mesmo não sendo artistas comunistas expressam em suas letras a contestação à ordem burguesa, a indústria cultural apenas produz para vender ao mercado consumir onde a sociedade mesmo sem uma consciência clara consume, quem hoje com 40 anos cantava Revolução, Revolução uma música do grupo RPM, e nem sabia bem o que era.
Hoje quem esta na casa dos 35 e 45 anos, se pergunta Porque? Hoje os jovens da periferia esta curtindo o Funk da Ostentação e qual a razão de tanto sucesso. Não adianta já partir com pré-julgamento e condenar, devemos fazer uma analise de como esta a luta de classes e como ela se refletiu no Brasil no momento em que estes jovens estão transitando da infância para a juventude e quais são os seus ídolos na música e na vida real.
O chamado Rock Brasil nome difundido após a consolidação deste gênero em nosso país, hoje o Rock Brasil é muito cultuado até pela nova geração de brasileiros, hoje as músicas destes músicos são comentadas até em provas de concurso e vestibular. Ha um fosso muito grande de letras de músicas politizadas, não é apenas as rádios que não tem interesse em divulgar as músicas politizadas, mesmo em época de ditadura e repressão a sociedade ou parcela dela busca burlar a censura e ter acesso, vivia-se outra conjuntura política.
Quando o Rock vai se consolidar como gênero no Brasil, é um momento em vivíamos o período das greves, das lutas contra a ditadura empresarial-militar, após o fim desta ditadura para a volta a democracia formal de hoje mesmo vivendo em uma ditadura de classe, nossos jovens se expressava nas músicas de bandas como Legião Urbana, Plebe Rude, Paralamas do Sucesso, Ultra a Rigor, Ira, Titãs, Garotos Podres e tantas outras. A revolta e o ódio destas letras eram nomes de chapas de Grêmios Estudantis, Dce’s, Ca’s, Congresso de Estudantes nas manifestações e greves daquele período, o Brasil respirava política naquele momento, diante deste quadro o que a indústria cultural poderia fazer vender discos, brincos para os rapazes se sentir igual aos seus ídolos, as rádios e programas de TV vão apenas tocar e vender como produto vejam os casos das camisas com o Rosto de Che.
A partir do impacto do avanço do neoliberalismo no mundo, e no Brasil com a eleição de Fernando Collor em 1989, os anos 1990 em nosso país passou a ser expressão não mais de uma música politizada, mais de uma música idiotizada mercantilizada sem graça descompromissada com as questões sociais, veio a moda e onda do chamado pagode mauricinho, do breganejo hoje rebatizado de sertanejo universitário se analisado a melodia, a harmonia e as letras não tem nada de novo, entre o breganejo de ontem e o breganejo de hoje chamado vulgarmente de Sertanejo Universitário. Grupos como Só pra Contrariar, Raça Negra, Tá na Mente, Chitãozinho e Xororó, Zé di Camargo e Luciano são expressão destes ritmos tão bem denunciada por Lulu Santos em uma entrevista no Programa do Fausto Silva logo no início dos anos 1990 esta entrevista estava no Youtube.
Hoje as músicas de periferia como o Funk da Ostentação reflete a concepção não do artista engajado comprometido com as lutas da classe trabalhadora que luta contra a exploração do capital, esta música reflete o sonho do jovem filho de trabalhadores que vai ascender socialmente, é fazer uma comparação desta música brasileira com a atual música negra dos Estados Unidos o foco não é as lutas coletivas e sim a saída individual ter carros e mulheres. Esta expressa não a visão do bandido romântico de ontem que roubava no asfalto e distribua aos pobres nos morros e periferia, que aconselhava os jovens para não entrar no crime, estudar ser alguém na vida, o Funk da Ostentação reflete a ideia do bandinho iludido com o poder de ter uma arma, consumir roupas caras construir um casarão no morro ostentar poder com as armas enquanto vive poder ter varias mulheres no caso as jovens mais bonitas poder curtir e depois morrer e ter outro para substituí-lo dando continuidade a empreitada capitalista das drogas. Este Funk da Ostentação reflete este mundo capitalista dos bens de consumo, ter carrões, fazer aliança com o mundo do crime, praticar sexo não como uma forma prazerosa libertaria mas, como uma forma alienada de viver como isto vem ocorrendo em nossas periferias, as chamadas gravidez na infância onde estas jovens acham que podem reproduzir o que as mulheres sem conteúdo divulgada pela mídia fazem de usar seus corpos como mercadorias, casar com jogadores de futebol, artistas e empresários, porém no mundo real a história é outra há uma distância entre o mundo real e da fantasia, mesmo sendo um país de mulheres lindas nem todas vão ter as chances de uma Larissa hoje rebatizada de Anita mesmo não sendo tão bonita pode fazer correção no corpo e mixar sua voz em estúdio para gravar e fazer sucesso enquanto pode.
Músicas como o Funk da Ostentação apenas contribui para alienar nossos jovens ajudando a reforçar a ideologia burguesa contribuindo e ajudando a destruir os filhos das classes trabalhadoras ao valorizar o crime e transformar em glamour a violência na periferia.
Defendemos a mais ampla liberdade de expressão das artes, arte como formação da universalidade do sujeito com educação estética não há contradição entre arte popular e arte de massa, há um encontro entre ambos o capitalismo é que criou esta falsa separação ao procurar comercializar todo em uma sociedade onde tudo se torna mercadoria incluindo as artes.
A arte não deixa de ser um fenômeno social, é impossível pensar a arte isolada da sociedade, o artista reflete em sua obra de arte a maneira de ver e sentir o mundo,neste sentido o artista deve se identificar com o proletariado sentir suas alegrias e tristezas compartilhar com as massas os sonhos e esperança de um mundo melhor na derrota do capitalismo no nascimento da Sociedade Socialista.

José Renato André Rodrigues
Professor de Filosofia
Membro do Comitê Central do PCB

Um comentário:

  1. Um texto interessante, embora peque pela quase total ausência de vírgulas e uma bela soma de erros ortográficos. Mas as idéias em si estão bem expostas, e acrescento: nunca vivemos um período tão bizarro quanto este, do ponto de vista da indústria cultural; a mercantilização da "arte" em nossos dias atingiu níveis escatológicos.

    ResponderExcluir